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A segunda parte da série de podcasts Decoding Gaming Law, produzida em colaboração com o CBS Group e apresentada pelo Dr. Franklin Cachia, traz como convidado o Dr. JP Gauci-Maistre, diretor-geral da Guaci-Maistre Xynou. Desde o episódio anterior, dois julgamentos históricos proferidos por tribunais malteses determinaram que decisões judiciais estrangeiras contra operadores de jogos licenciados em Malta não podem ser executadas no país, com base em motivos de ordem pública e no artigo 56A da Lei de Jogos. A conversa destaca a persistente incerteza jurídica que paira sobre o setor de jogos dentro da União Europeia.
“Tem sido uma montanha-russa”, afirma o Dr. Gauci, referindo-se a duas recentes decisões do Tribunal Civil da Primeira Instância em Malta, que recusaram reconhecer e executar sentenças da justiça austríaca contra operadores de jogos com base no país. Jogadores austríacos tentavam recuperar perdas financeiras obtendo a execução das decisões locais em Malta, mas os tribunais malteses se posicionaram contra. “Embora já houvesse decisões semelhantes, essas foram muito mais fundamentadas”, explica Gauci. “Elas adotaram uma abordagem abrangente, considerando não apenas aspectos legais, mas também a política pública mais ampla de Malta.”
A política pública, embora seja um conceito amplo e por vezes maleável, foi o ponto central da argumentação judicial. “Política pública é, essencialmente, aquilo que o Estado entende como seu direcionamento econômico e seu interesse coletivo”, diz Gauci. “O programa de governo pode, inclusive, tornar-se política pública do país.”
Os tribunais malteses entenderam que executar as decisões da justiça austríaca poderia enfraquecer o sistema regulatório de jogos de Malta, que desempenha um papel essencial na economia nacional. “O juiz declarou: ‘Vou ouvir todos os lados’ — desde o Procurador do Estado até peritos técnicos e o CEO da Autoridade de Jogos de Malta”, acrescenta. “Foi uma decisão de 66 páginas, baseada em uma análise minuciosa.”
Gauci também comenta a tensão entre os princípios pan-europeus, como a liberdade de prestação de serviços, e a soberania nacional na regulamentação de setores como o de jogos. Os tribunais austríacos, atuando dentro de um sistema monopolista, têm desafiado operadores licenciados em Malta. No entanto, o Judiciário maltês entendeu que essas decisões estrangeiras entram em conflito com a legislação local e com o interesse público nacional. “O artigo 56A da Lei de Jogos afirma claramente que operadores e seus representantes não são responsáveis por esse tipo de reivindicação”, explica Gauci. “Mas o juiz foi além — disse que, mesmo sem esse artigo, ele não aplicaria as decisões com base na política pública.”
As decisões ainda estão sendo contestadas em instâncias superiores e, como destaca Gauci, “essa história ainda está longe do fim.” Referências com potencial de criar jurisprudência já foram submetidas ao Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE), a fim de avaliar se as legislações nacionais estão em conformidade com os tratados da UE. “Há referências preliminares pendentes — uma da Áustria e outra de Malta — que vão testar os limites das liberdades europeias nesse contexto”, afirma Gauci.
O episódio também aborda como essas disputas judiciais não resolvidas podem influenciar processos de insolvência em Malta. Se os pedidos dos jogadores não forem reconhecidos, alguns operadores podem não ser considerados insolventes — o que poderia alterar de forma significativa o cenário jurídico do setor.
Gauci ressalta a complexidade e a relevância desses acontecimentos: “Não se trata apenas de um artigo de lei. É uma questão de entender o interesse nacional, a validade das licenças e o posicionamento de Malta dentro da União Europeia.” À medida que o setor de jogos continua em transformação, a clareza jurídica e o alinhamento regulatório se tornam cada vez mais essenciais.
Não perca a oportunidade de se aprofundar nesse debate na SiGMA Euro-Med, que será realizado em Malta, em setembro. O evento reunirá especialistas, reguladores e operadores para discutir o futuro do setor de jogos.