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“Adotem os jogos sociais ou enfrentem o declínio”, alerta veterano do setor a cassinos físicos da Ásia
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Cassinos tradicionais físicos na Ásia, especialmente no Sudeste Asiático, enfrentam um momento decisivo. Shaun McCamley, veterano do setor e fundador e sócio-gerente da Euro Pacific Asia Consulting (imagem acima), faz um alerta contundente: sem uma estratégia digital sólida, especialmente incorporando jogos sociais, esses gigantes tradicionais correm o risco de ver suas receitas entrarem em declínio irreversível.
Enquanto conversava conosco nos bastidores da SiGMA Ásia 2025, McCamley apontou uma transformação profunda no cenário regional de jogos, onde o engajamento digital está rapidamente superando o apelo dos cassinos físicos.
O tsunami digital: e-Gaming supera os cassinos físicos
(As barras azuis representam a receita de estabelecimentos físicos, enquanto as verdes indicam a receita proveniente dos jogos eletrônicos)
Os dados recentes da Corporação Filipina de Entretenimento e Jogos (PAGCOR) ilustram com clareza a urgência para os operadores tradicionais se adaptarem. Pela primeira vez na história, o setor de jogos eletrônicos (e-games e e-bingo) ultrapassou as receitas dos cassinos físicos. No primeiro trimestre de 2025, o segmento digital gerou PHP 51,39 bilhões, o que representa 49,36% da receita bruta total (GGR), superando os cassinos licenciados, que registraram PHP 49,28 bilhões (47,32%).
“Isso não significa apenas crescimento de receita, mas uma mudança contínua no comportamento dos consumidores, que estão migrando para experiências digitais sob demanda, impulsionadas pelo maior acesso à tecnologia móvel”, afirmou Alejandro Tengco, presidente e CEO da PAGCOR. Essa “mudança surpreendente” sinaliza claramente que as preferências dos jogadores estão indo para o online, um movimento que McCamley vê como uma ameaça direta para os operadores físicos que não souberem se reinventar.
“Se os operadores de cassinos físicos aqui não tiverem uma estratégia bem estruturada e pensada, vão enfrentar tempos muito difíceis”, reforçou McCamley.
Paradoxo do PIGO: licenças caras e restritivas
Embora alguns países asiáticos ofereçam licenças para jogos online, elas costumam impor limitações significativas para operadores tradicionais. Nas Filipinas, por exemplo, a licença do Operadora de Jogos Internos das Filipinas (PIGO) é “muito, muito restritiva e cara”, comentou McCamley. Além das altas taxas iniciais, há impostos contínuos sobre comissões.
Um grande obstáculo da licença PIGO é sua restrição quanto aos jogadores: ela permite atender praticamente apenas filipinos; estrangeiros precisam se registrar como membros de um cassino físico específico. Isso torna o modelo “extremamente limitado e complicado” para jogos online em sentido amplo. A situação regulatória se torna ainda mais complexa com a Ordem Executiva 74, que determina o encerramento de todas as operações de Operadoras de Jogos Offshore das Filipinas (POGOs) até 31 de dezembro de 2024, refletindo um ambiente regulatório cada vez mais rigoroso devido a preocupações com fraudes financeiras e lavagem de dinheiro.
Jogos sociais: uma oportunidade bilionária
Em contraste com as complexidades das licenças para jogos online com dinheiro real, as plataformas de jogos sociais representam uma saída estratégica. “Se analisarmos uma plataforma de jogos sociais, totalmente associada à marca do cassino, não é necessário nenhum tipo de licença, pois não se trata de um produto de aposta”, explicou McCamley. Essa diferença fundamental permite aos operadores contornar barreiras regulatórias rigorosas e custos elevados.
Segundo McCamley, o governo filipino é “muito favorável a propriedades que oferecem plataformas de jogos sociais, porque elas não exploram pessoas vulneráveis com problemas de jogo”. Isso está alinhado com os princípios de jogo responsável, tornando os jogos sociais uma alternativa mais aceitável para governos preocupados com os impactos sociais do jogo.
O potencial financeiro dos jogos sociais é enorme. “Só no Sudeste Asiático, as receitas previstas para os próximos dois anos chegam a US$ 1 bilhão”, destacou McCamley. O mercado de Cassinos Sociais na região Ásia-Pacífico deve crescer de US$ 1,94 bilhão em 2024 para mais de US$ 4,14 bilhões em 2030, com uma taxa anual composta (CAGR) de 13,3%. Na Índia, mercado impulsionado principalmente por jogos móveis e sociais, a expectativa é superar US$ 1 bilhão em 2025, atingindo US$ 9,2 bilhões em 2029.O diferencial principal dos jogos sociais é que “não há vencedores reais. Ninguém pode sacar os ganhos, pois estes são moedas virtuais”, esclareceu McCamley. Esse modelo permite geração significativa de receita por meio de compras dentro do aplicativo (que podem representar até 80% da receita), sem as complexidades das licenças tradicionais de jogos. Empresas como Aristocrat, Light & Wonder (com SciPlay) e Playtika já aproveitam esse modelo, com jogos sociais contribuindo de forma relevante para suas receitas totais.
“Território não regulamentado” e crescente fiscalização regulatória
Embora os jogos sociais tenham uma “supervisão regulatória mais branda”, a linha entre jogos sociais legítimos e jogos de azar ilegais pode ficar tênue, especialmente nos modelos chamados de “sweepstakes” (jogos de prêmios). McCamley apontou que esses sorteios “ficam em uma zona ambígua porque… os jogadores podem trocar pontos de fidelidade qualificados por dinheiro. É uma forma de driblar a lei”.
Contudo, governos estão cada vez mais atentos a “fechar essa brecha”. Um exemplo recente é a ação do Procurador Geral de Nova York, que resultou no fechamento de 26 cassinos online de sweepstakes. Essas plataformas foram consideradas ilegais por permitirem a troca de moedas virtuais por dinheiro ou prêmios, violando as leis estaduais sobre jogos, mesmo que fossem rotuladas como jogos de prêmios (sweepstakes). Esse movimento, apoiado por comissões estaduais de jogos e legisladores, é parte de uma tendência nacional crescente, com estados como Montana, Connecticut e Louisiana também proibindo esse tipo de atividade.
A Associação de Jogos Sociais e Promocionais (SPGA) manifestou “decepção” com essas decisões, argumentando que promoções de jogos de prêmios “não são jogos de azar sob a lei federal e são legalmente permitidas na grande maioria dos estados americanos”, e que uma “ação de fiscalização generalizada” sufoca a inovação.
McCamley, por sua vez, aconselha a evitar o modelo de jogos de prêmios no longo prazo, pois acredita que ele não sobreviverá em seu formato atual.
Desafios e oportunidades para cassinos físicos
Para os cassinos tradicionais, incorporar jogos sociais vai além de gerar novas fontes de receita; trata-se de aumentar a fidelidade dos jogadores e criar engajamento cruzado entre plataformas. Os operadores podem usar jogos sociais para apresentar jogadores casuais a jogos no estilo cassino, em um ambiente sem risco, funcionando como uma “porta de entrada” para plataformas com dinheiro real. Também é uma forma de manter engajamento com quem prefere não apostar dinheiro de verdade. Entre as estratégias estão programas de fidelidade que permitem acumular recompensas em cassinos sociais e resgatá-las em propriedades físicas, o uso de tecnologia interativa de jogos e o fortalecimento das comunidades via redes sociais.
No entanto, a jornada não é simples. Os cassinos físicos asiáticos enfrentam forte concorrência regional, limitações de infraestrutura e regulamentos ainda pouco claros. Além disso, ameaças cibernéticas, como invasões e vazamentos de dados, aumentam os riscos das operações online. Para se manterem competitivos, os operadores precisam ampliar suas ofertas com serviços não relacionados a jogos e diversificar suas receitas — um exemplo é a estratégia agressiva de Macau para que o setor não relacionado a jogos represente 60% do PIB até 2028.
Além dos jogos sociais
Embora os jogos sociais ofereçam oportunidades imediatas, o cenário digital mais amplo segue em evolução. Tecnologias como Inteligência Artificial (IA) são usadas para personalizar a experiência de jogo, análises preditivas e ferramentas de jogo responsável que monitoram comportamentos de risco.
Nem todos os caminhos digitais, porém, estão igualmente maduros ou viáveis. McCamley se mostrou cético em relação a plataformas que dependem exclusivamente de NFTs e criptomoedas. “Se eu fosse investidor, não tenho certeza se aplicaria meu dinheiro em uma plataforma que trabalha só com NFTs e criptomoedas”, disse, reconhecendo que, embora algumas, como Stake.com, tenham sucesso, “ainda não estamos lá” para adoção em massa, principalmente na Ásia. Os desafios para jogos baseados em blockchain e NFTs incluem barreiras regulatórias, níveis variados de adoção da tecnologia, desconfiança em modelos Play-to-Earn (P2E) e a necessidade de design de jogos de alta qualidade e experiência de usuário fluida.
O imperativo digital para a sobrevivência
A revolução digital no mercado de jogos asiático é uma realidade inegável. Com receitas do e-gaming crescendo vertiginosamente e hábitos dos jogadores convergindo para plataformas móveis e sociais, os cassinos físicos têm um imperativo claro: adotar a integração digital, especialmente o jogo social, para continuar relevantes e lucrativos. Apesar dos ambientes regulatórios ainda complexos e instáveis, os benefícios estratégicos do jogo social — sua conveniência, capacidade de monetização e potencial para estimular fidelidade sem ser classificado como jogo de azar — fazem dele peça central em qualquer estratégia inovadora para o setor na Ásia. Para os operadores tradicionais, a escolha é evidente: adaptar-se e inovar ou correr o risco de ficar para trás na corrente digital que acelera a todo vapor.
