Balneário Camboriú prepara loteria municipal para financiar projetos sociais

Júlia Moura
Escrito por Júlia Moura

Balneário Camboriú, uma das cidades mais turísticas do litoral de Santa Catarina, está muito perto de implantar seu novo modelo de arrecadação pública: uma loteria municipal. O projeto, encaminhado recentemente à Câmara de Vereadores, tem o objetivo de diversificar as fontes de receita e investir diretamente em áreas sociais de forma estratégica. 

O que está sendo proposto? 

A proposta da prefeitura de Camboriú prevê a criação de uma loteria pública com concessão à iniciativa privada, sob regulamentação e fiscalização da Secretaria Municipal da Fazenda. O projeto vai abranger qualquer modalidade lotérica prevista em lei federal, como: 

  • Loterias passivas; 
  • Prognósticos numéricos (como os da Mega-Sena); 
  • Apostas esportivas; 
  • Jogos instantâneos; 
  • Apostas de quota fixa. 

O serviço também inclui a comercialização de espaços publicitários, gerando uma receita adicional para o município. 

Destinação dos recursos 

O projeto estabelece que os valores arrecadados — após o pagamento dos prêmios — serão distribuídos igualmente entre quatro fundos municipais, cada um com direito a 25% da receita líquida: 

  • Fundo Municipal de Transporte Coletivo e Mobilidade Urbana (FUMTUM) 
  • Fundo Municipal de Proteção à Pessoa com Deficiência (FMPD) 
  • Fundo Municipal de Desenvolvimento da Região Sul (FUMDERES) 
  • Fundo de Combate às Drogas 

Segundo a prefeita Juliana Pavan (PSD), a loteria “é uma alternativa moderna para enfrentar os desafios fiscais sem penalizar a população com aumento de impostos”

Mas o que diz o STF? 

O projeto tem como base uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que em 2020 reconheceu que estados e municípios têm o direito de explorar serviços lotéricos, desde que respeitadas as diretrizes da União. Essa decisão abriu a oportunidade para que prefeituras de diversos municípios brasileiros busquem novos modelos de arrecadação legalmente respaldados, inclusive Camboriú. 

“Os entes subnacionais não estão impedidos de estabelecer loterias, desde que não violem a legislação federal vigente e atuem sob regime de concessão ou autorização”, afirmou o ministro Gilmar Mendes na ocasião do julgamento (RE 966.177, julgado em setembro de 2020). 

Programa Nota Premiada BC 

Além da loteria, a prefeitura de Camboriú também quer lançar o “Programa Nota Premiada BC”, inspirado em iniciativas semelhantes que já funcionam com sucesso em outras cidades catarinenses como Florianópolis e Chapecó. 

O objetivo é incentivar a emissão de notas fiscais em compras no comércio local. Os cidadãos que participarem dos sorteios concorrerão a prêmios em dinheiro. 

A regulamentação do programa será feita em até 90 dias, com definição das regras de participação, valores dos prêmios e periodicidade dos sorteios. 

Exemplo semelhante em Canoas (RS) 

A cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul, já aprovou sua própria loteria municipal, a Canoas Loto, que terá como destino exclusivo o financiamento do sistema público de saúde. 

O projeto, aprovado por 16 votos a 5 na Câmara Municipal, foi uma solução encontrada para a queda nos repasses estaduais e federais e será operado por meio de parceria público-privada (PPP). A previsão é que a loteria comece a funcionar ainda em 2025. 

“Não queremos repassar esse custo para a população. Precisamos ser criativos e encontrar alternativas sustentáveis”, afirmou o vereador Alexandre Gonçalves (MDB), relator da proposta aprovada em Canoas. 

O que esperar 

Com grande fluxo de turistas e uma população ativa, Balneário Camboriú tem potencial para tornar sua loteria uma fonte essencial de recursos. Se bem implementada, a iniciativa poderá servir de exemplo para outras cidades catarinenses e brasileiras. 

Agora, cabe à Câmara de Vereadores analisar o projeto e decidir se a cidade irá, de fato, entrar para o grupo de municípios que estão apostando em novos caminhos para o desenvolvimento social. 

“Não basta apenas criar uma nova fonte de receita. É preciso garantir que ela seja bem utilizada e tenha um impacto real na vida das pessoas”, ressalta o economista e consultor público Rafael Goulart, da Fundação Dom Cabral.