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A Blackstone vai iniciar o processo de venda da Clarion Events, com estimativas preliminares avaliando a organizadora, sediada em Londres, em cerca de £ 2 bilhões. A decisão ocorre em um momento em que as condições de mercado começam a se estabilizar após um período turbulento, desencadeado pelas recentes manobras tarifárias do presidente dos EUA, Donald Trump.
A notícia da venda foi compartilhada por quatro fontes com conhecimento direto das negociações, todas sob condição de anonimato. Embora o acordo ainda esteja em fase inicial, ele pode servir como um termômetro para medir o apetite dos investidores, justamente quando o setor de private equity busca uma retomada.
A Blackstone adquiriu a Clarion em 2017, em uma operação de £600 milhões, e a apoiou ao longo de um período bastante volátil para o setor de eventos. A pandemia paralisou a indústria global de exposições, derrubando receitas e cancelando calendários inteiros — e a Clarion não foi exceção. No entanto, com uma combinação de expansão estratégica e recuperação de mercado, a empresa conseguiu se reerguer.
Nos 12 meses até janeiro de 2024, a Clarion Events registrou uma receita de £ 432,9 milhões, um aumento expressivo em relação aos £257 milhões do ano anterior. Esse crescimento foi impulsionado principalmente pelo retorno das operações em mercados-chave, como China e Hong Kong.
Sob a gestão da Blackstone, a Clarion ampliou sua atuação para 125 eventos, abrangendo setores como jogos, defesa, energia e tecnologia de consumo. A aquisição da Global Sources, uma organizadora de exposições asiática, em 2018, fortaleceu ainda mais sua presença na região. A CEO da Clarion, Lisa Hannant, atribuiu o impulso recente da empresa ao crescimento de receita em dois dígitos, ao rigoroso controle de custos e a uma abordagem orientada por dados, que ajudou a elevar as margens de lucro para cerca de 30%.
A decisão de testar o mercado agora reflete uma combinação de prudência e oportunidade. As operações de fusões e aquisições haviam caído para o nível mais baixo em duas décadas, após as políticas tarifárias de Trump em 2025 reacenderem as tensões comerciais. A Blackstone, aparentemente cautelosa em avançar no auge da incerteza, aguardou sinais mais claros de estabilidade.
Desenvolvimentos recentes, como a trégua temporária nas tarifas entre EUA e China, ajudaram a melhorar o sentimento do mercado. Índices acionários na Europa e nos Estados Unidos começaram a se recuperar e, junto com eles, o pipeline de negócios voltou a dar sinais de movimentação.
A Clarion já despertou o interesse de grandes empresas, incluindo CVC, KKR, PAI Partners, Ardian e Hillhouse Investment. A avaliação de £ 2 bilhões se baseia em um múltiplo de 12 vezes o EBITDA, sustentada por fluxos de caixa robustos que superaram as expectativas orçamentárias no início de 2025. Ainda assim, fontes próximas ao processo enfatizam que a concretização da transação não é garantida e que desafios econômicos permanecem no horizonte.
Os documentos de venda começaram a circular no início deste mês, e a Hillhouse estaria especialmente interessada nas operações da Clarion na China, por meio da marca Global Sources. A consolidação no setor voltou à pauta, como mostram movimentos recentes, como a aquisição da Ascential pela Informa, por £1,2 bilhão, e a proposta de US$ 3,6 bilhões da DoorDash pela Deliveroo.
O sucesso da Clarion está na combinação entre foco e flexibilidade. Seu modelo de criar “vilarejos” curados dentro de eventos maiores, aliado ao framework NPV (Needs, Purpose, Value — Necessidades, Propósito, Valor) para o engajamento dos clientes, permitiu que a empresa escalasse sem perder relevância. Como destacou Liz Irving, presidente da Clarion na América do Norte: “O engajamento importa mais do que nunca… trata-se de quão significativas são as nossas ofertas para os clientes.”
Embora o cenário macroeconômico permaneça imprevisível, o desempenho e o posicionamento da Clarion a colocam como uma forte candidata a liderar a retomada dos grandes negócios de private equity. Resta saber se o mercado está pronto para dar esse passo, mas a Blackstone, sem dúvida, está disposta a testar as águas.