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As corridas britânicas podem até estar pontuais, mas continuam ficando para trás. Os novos dados do primeiro trimestre, divulgados pela Autoridade Britânica de Corridas de Cavalos (BHA), mostram largadas mais precisas, provas de salto mais disputadas e alguns sinais positivos. Fora das pistas, porém, o clima é de apreensão. O público está diminuindo, a premiação enfrenta cortes e o barulho vindo das arquibancadas começa a silenciar.
Como parte de um teste de dois anos para reestruturar o calendário, as corridas no Reino Unido passaram a ser classificadas oficialmente em três categorias: Core (Básica), Premier (Principal) e Other (Outras). A proposta é reformular a programação e aumentar o engajamento com o esporte.
Mas aí está o paradoxo. A organização está afinada. Os dados são promissores. Só que o coração da indústria — apostadores, torcedores e proprietários — está sob pressão.
As provas de salto começaram bem em 2025. O número médio de competidores por corrida nas reuniões Core subiu de 7,85 para 7,93. Já nos eventos Premier, o crescimento foi ainda maior: de 9,29 para 9,63 por prova.
Não se trata apenas de estabilidade — é progresso, com mais concorrência. O total de corridas com obstáculos aumentou em 42 neste trimestre, e os campos se mantiveram consistentes.
A qualidade também deu sinais de melhora. O número de cavalos classificados com rating 135 ou superior — considerados de elite — subiu de 288 para 307. É um crescimento sutil, mas significativo, sobretudo diante das preocupações recentes sobre a escassez de talentos de ponta.
Há um movimento positivo acontecendo, e os fãs das corridas com obstáculos sentem isso. A lealdade do público, a cadência sazonal e as histórias familiares mantêm esse lado do esporte em funcionamento.
Enquanto isso, as corridas planas seguem em marcha lenta. O número médio de participantes por prova nas reuniões Core caiu de 8,82 para 8,62. Os incentivos costumam ditar as inscrições — e é justamente aí que a pressão aparece. A premiação no segmento caiu £ 3 milhões (€ 3,5 milhões), enfraquecendo um dos principais atrativos para donos de cavalos e treinadores.
Grande parte dessa queda se deve à ausência de reuniões nas noites de domingo e à redistribuição de eventos lucrativos que antes aconteciam na Sexta-Feira Santa. Pode-se culpar os domingos ausentes, mas o fato é que as corridas planas estão apenas trotando, quando deveriam estar voando baixo.
E não é só uma questão de dinheiro — é também de visibilidade e de narrativa. Sem histórias cativantes, novas estrelas ou campeões reconhecíveis, o esporte corre o risco de parecer apenas uma sequência interminável de provas medianas no meio da semana. O fã de corridas planas quer espetáculo — e, por enquanto, está faltando brilho.
No mês passado, o impacto financeiro levou a BHA a alertar o governo britânico: a confiança no setor já está em queda livre. Sem uma regulação mais inteligente e sensível, os danos podem se tornar irreversíveis.
A premiação total nas corridas de todos os formatos caiu £ 1,5 milhão (€ 1,75 milhão), totalizando £ 32,4 milhões (€ 37,7 milhões). Um número maior de eventos ajudou a impulsionar as corridas com obstáculos, que subiram para £ 22,4 milhões (€ 26,1 milhões). Mas as corridas planas despencaram para apenas £10 milhões (€ 11,6 milhões) — queda de £ 3 milhões. Isso reflete as mudanças no calendário, com a exclusão ou alteração de datas que antes movimentavam grandes prêmios, como domingos e Sexta-Feira Santa.
Essa queda no faturamento das reuniões Core é reflexo de uma tendência mais ampla. Uma investigação da SiGMA News neste ano revelou um aumento de 500% no tráfego de internautas britânicos para sites ilegais de apostas em corridas desde 2021 — uma mudança que a BHA associa à regulamentação excessiva e à falta de atratividade do produto. A entidade soou o alarme, relacionando diretamente essa migração ao endurecimento das regras e à perda de confiança dos apostadores.
É no cenário das apostas que os sinais de alerta ficam mais evidentes. O faturamento total caiu 9% em comparação com o primeiro trimestre do ano passado — um número difícil de ignorar.
Mas a preocupação maior está no perfil de quem está apostando. A média de apostas por corrida nas reuniões Core despencou 14,4%. As reuniões Premier mantiveram os níveis, o que reforça a tendência: os apostadores de alto valor estão se afastando — ou migrando para outros mercados.
Evidências crescentes mostram que muitos estão recorrendo a sites estrangeiros, driblando os controles de acessibilidade financeira e buscando odds mais rápidas em ambientes menos regulamentados. Uma pesquisa do Racing Post neste ano confirmou essa movimentação: um em cada três apostadores de grandes somas admitiu ter usado plataformas não licenciadas nos últimos 12 meses. É um tipo de “desvio de rota” nas apostas que está começando a sair do controle. A BHA voltou a alertar: impor regras mais duras sem um produto mais robusto só empurra os apostadores para a ilegalidade.
Os apostadores casuais ainda aparecem, mas não compensam a perda no volume de apostas. É como trocar donos de cavalos de grupo 1 por uma torcida entusiasmada, mas com pouca margem de investimento.
À primeira vista, o número de frequentadores das corridas não despencou. A frequência total caiu levemente — de 682.385 para 666.069 —, resultado influenciado principalmente pela transferência da Páscoa para o segundo trimestre e por uma redução de 11 mil pessoas no festival de Cheltenham.
Ainda assim, a tendência aponta para baixo.
É uma pena, porque, operacionalmente, o esporte nunca foi tão eficiente. As corridas estão começando no horário em 87,6% dos casos — um salto enorme em relação aos 72,7% de dois anos atrás. Para quem acompanha nas casas de apostas ou pelas transmissões, a redução de sobreposições melhora a experiência.
No entanto, pontualidade, sozinha, não enche arquibancada. Largar na hora certa é importante — mas dar às pessoas um motivo para comparecer é ainda mais essencial.
O trimestre foi organizado, bem executado. Mas um produto de corridas não sobrevive apenas com acabamento. O teste da nova estrutura de calendário trouxe mais fluidez. Mas isso, por si só, não vai sustentar o esporte se não vier acompanhado de mais engajamento, incentivos e identidade.
Neste momento, o cenário das corridas britânicas se parece com um cavalo bem treinado trotando na direção errada. Os dados indicam progresso, mas o ambiente sussurra dúvidas. O calendário de 2026 já está no radar. E se o objetivo é reconquistar os que realmente importam — apostadores, fãs e proprietários —, talvez seja hora de parar de olhar o relógio e começar a medir os batimentos.
A queda não está só no público — também está nos estábulos. Em 31 de março, o número de cavalos ativos caiu 1,9% em relação ao ano anterior, passando de 15.359 para 15.070. Menos animais significa mais dificuldade para manter campos cheios, planejar provas e garantir crescimento sustentável.
Ainda assim, há motivos para otimismo. O número de cavalos de alto desempenho em corridas com obstáculos aumentou. O teste de calendário trouxe ideias novas. E, no segundo trimestre, as corridas britânicas já estarão mergulhadas no planejamento de 2026 — uma chance real de consolidar o que funciona e abandonar o que não dá resultado.
As corridas britânicas nunca foram tão bem estruturadas — mas correm o risco de se tornarem estéreis. Se o esporte quiser continuar sendo mais do que uma linha no calendário, precisa reconquistar seu público não só com horários ajustados, mas com histórias que realmente toquem. Os dados mostram sinais positivos, mas o coração da competição ainda precisa ser despertado. O segundo trimestre já está em movimento.
A pergunta que fica é: será que o setor vai conseguir assumir as rédeas? Porque as corridas britânicas não precisam de mais uma planilha impecável ou de mais uma pequena correção de datas. O que está faltando é fibra — e um motivo para que os apostadores voltem a se importar.