A mudança no RH que o iGaming não pode ignorar: Marvin Cuschieri fala sobre talentos, tecnologia e confiança

David Gravel
Escrito por David Gravel
Traduzido por Thawanny de Carvalho Rodrigues

Você já perdeu a guerra por talentos se ainda trata o trabalho híbrido como um capricho da era da pandemia. Enquanto algumas empresas continuam apegadas ao dogma do “apenas no escritório”, outras, como a Logifuture, constroem equipes globais de forma silenciosa, estimulam a inovação e permitem que as pessoas prosperem nos ambientes em que trabalham melhor. No centro dessa transformação está Marvin Cuschieri, Diretor de Pessoas e Talentos do grupo Logifuture, que está redefinindo o que significam recrutamento, retenção e cultura — ultrapassando fronteiras, escritórios e fusos horários.

Em uma entrevista exclusiva à SiGMA News, Cuschieri falou sobre o cenário de recrutamento em mudança em Malta, o poder da flexibilidade e por que ignorar o modelo híbrido não é apenas ultrapassado: é autossabotagem.

Como a estratégia flexível da Logifuture está vencendo a escassez de talentos

Cuschieri foi direto. O mercado local, antes repleto de oportunidades variadas — de cargos juniores a CTOs — encolheu. “Está se tornando menos diversificado como um todo, com um foco maior, por exemplo, em cargos de FinTech”, observou. Ele acrescenta que o aumento do custo de vida e mudanças culturais tornam mais difícil atrair talentos internacionais. Ainda assim, isso não freou a Logifuture.

“Não fazemos distinção entre contratações locais e estrangeiras. Contratamos talento onde quer que ele esteja”, explicou. A Logifuture opera em nove escritórios e reúne mais de 40 nacionalidades, sendo que mais de 20% da equipe atua 100% de forma remota. A maioria dos times está espalhada por diferentes continentes. Alguns se conectam apenas por metas de projeto e janelas do Zoom. É uma abordagem moderna e modular de RH — uma rejeição clara à ideia ultrapassada de que produtividade depende de presença física.

“O trabalho remoto veio para ficar”, afirmou Cuschieri. Mas isso não significa abandonar os espaços físicos. O segredo, segundo ele, está no equilíbrio — como encontros presenciais trimestrais para equipes geograficamente distantes. “Alguns cargos precisam de escritório”, ele admite, citando como exemplo os traders com configurações de oito telas. “Mas seria um erro lutar contra a flexibilidade.”

Ele completa: “Vou ao escritório quatro vezes por semana porque preciso de interação, mas jamais obrigaria um desenvolvedor sênior a fazer o mesmo. Por que alguém deveria enfrentar um deslocamento apenas para participar de uma reunião por Zoom com alguém que está em outro país?”

Ferramentas mais inteligentes, erros mais caros

Enquanto algumas empresas ainda hesitam em entrar na era da inteligência artificial, a Logifuture avança com processos de recrutamento otimizados por IA. Cuschieri explicou como a empresa utiliza a tecnologia para agilizar a triagem de currículos, identificar perfis falsos e destacar talentos com habilidades técnicas raras. O resultado? O tempo de contratação caiu de semanas para dias.

“Automatizamos quase todo o processo — não para eliminar o fator humano, mas para dar mais tempo à equipe para usá-lo com qualidade”, afirmou. A IA cuida da base; os humanos trazem o refinamento. E isso, segundo ele, torna a experiência do candidato mais rápida, justa e respeitosa.

Mas o uso da IA exige cautela. “Ferramentas de codificação com IA são cobradas por uso. Se você não gerenciá-las corretamente, os custos podem ultrapassar o salário de um desenvolvedor.”

Mesmo assim, a Logifuture segue investindo em soluções como Gemini, Claude AI e testes de co-coding para melhorar os fluxos de trabalho dos desenvolvedores. “O toque humano ainda é o que dá o acabamento”, ressaltou, observando que tarefas que antes levariam três meses para um programador iniciante agora podem ser feitas em duas semanas — desde que os protocolos estejam bem definidos.

O verdadeiro ritmo de trabalho

Há uma conversa que ainda temos pouco — não apenas sobre onde trabalhamos, mas quando trabalhamos melhor.

“Minhas horas mais produtivas são entre 10h e 19h. É quando as ideias fluem, as palavras saem e as conversas fazem sentido. Antes disso, não sou meu melhor.”

A maioria das empresas foca em produtividade, mas ignora o fato de que cada pessoa tem um pico de desempenho em horários diferentes. Alguns rendem mais ao amanhecer; outros, depois do almoço. Forçar todos a seguir o mesmo ritmo não aumenta a performance — apenas a nivela por baixo.

E é aí que isso se conecta ao iGaming. Esse setor já funciona 24/7. Abarca continentes, moedas e demandas de clientes a qualquer hora. Então, por que os times internos ainda seguem agendas engessadas que não condizem nem com o relógio biológico, nem com o relógio global?

Como destacou Cuschieri, já dominamos a cobertura: equipes de suporte em um país, traders em outro e desenvolvedores espalhados por cinco fusos horários. Mas imagine o que poderíamos conquistar se, além da cobertura, focássemos na capacidade. Capacidade humana real. Obter mais das pessoas — não pelo esgotamento, mas compreendendo quando elas entregam o seu melhor.

Falamos então sobre agendas adaptadas ao cronotipo, algo que não é luxo, e sim vantagem competitiva. Em um setor como o iGaming, que opera sem parar, os picos de performance importam. Saber quando as pessoas produzem melhor pode transformar a forma como os times operam — e vencem. Se as empresas de iGaming otimizassem os horários de trabalho com a mesma dedicação com que trabalham retenção de jogadores ou modelagem de odds, veríamos decisões mais certeiras, entregas mais rápidas e menos esgotamento. Todo mundo ganha: o time, a empresa e o cliente.

E como lembrou Cuschieri, não se trata de estar online o tempo todo. Trata-se de estar presente nos momentos que importam.

O que Malta pode aprender antes que Dubai assuma a liderança

Nem todas as empresas estão acompanhando esse movimento. “Há empresas de tecnologia locais, por exemplo, que se recusam a permitir o trabalho remoto. No longo prazo, isso claramente sai pela culatra”, afirmou Cuschieri com franqueza. E ele tem razão. Malta continua sendo um polo importante de iGaming, mas a concorrência está crescendo. Dubai, de olho nos mercados europeu, africano e asiático, já se posiciona como futuro concorrente.

Cuschieri fez uma observação contundente: “A economia dobrou o PIB em 10 anos. Isso é praticamente inédito.” A malha regulatória eficiente de Malta, sua agilidade institucional e o apoio governamental seguem como trunfos. Mas a proximidade de Dubai com regiões mais jovens e em rápido crescimento oferece uma vantagem a mais.

“Algumas áreas da África pularam do 3G direto para o 5G”, ele observou. “É aí que o FinTech entra. Depois, o jogo. E então a infraestrutura acompanha.” É um lembrete de que, enquanto Malta oferece maturidade, outros mercados oferecem impulso. O talento já não segue apenas o dinheiro. Segue propósito, liberdade e, no caso de Malta, o sol. Se seu local de trabalho não se adapta, não se surpreenda quando seus melhores talentos migrarem para destinos mais baratos, mais quentes — e mais visionários.

Flexibilidade não é um luxo. É o oxigênio do trabalho moderno. Mas, enraizados em uma cultura tradicional, alguns ainda tratam isso como um benefício que deve ser conquistado — e não como uma realidade que precisa ser respeitada. Os profissionais, especialmente os de tecnologia, estão se manifestando com os pés. Eles esperam empatia, autonomia e espaço para entregar o seu melhor.

Cuschieri também destacou as nuances culturais. “Você imagina que os escritórios de Malta e Itália estariam alinhados, mas são surpreendentemente diferentes. Não dá para aplicar o mesmo modelo a todos os escritórios.”

Construa cultura com base em confiança — não em cadeiras

E é aqui que precisamos ser francos. Se você ainda obriga suas equipes a cumprir um expediente rígido em cadeiras fixas como se fosse 1984 — com catracas, crachás e luz fluorescente —, não está preservando a cultura. Está sufocando ela.

Malta não pode liderar uma indústria digital com mentalidade analógica. Pode até usar a coroa do iGaming hoje, mas sem confiança e foco em tecnologia, outros países vão alcançar — e rápido.

Alguns fundamentos seguem válidos, mesmo com todas as ferramentas e tendências que estão transformando o RH. Como resumiu Cuschieri, o maior mito no iGaming é “achar que todo mundo quer trabalhar com jogos”. É preciso mais do que vagas atrativas para conquistar talentos duradouros. São os valores que atraem. E, embora a IA possa acelerar a triagem de currículos e o mapeamento de habilidades, ainda não existe algoritmo capaz de simular os traços certos. “Empatia e justiça”, disse ele, “são habilidades interpessoais que nenhum CV consegue fingir.”

E sobre a tendência de RH que ainda vai nos fazer rir daqui a cinco anos, Cuschieri não hesitou: “As avaliações com IA. Precisamos analisar como as pessoas usam IA para se destacar — e não puni-las por isso.”

A Logifuture mostra que as empresas que abraçam a mudança são as que estão construindo o futuro — não se escondendo em salas de reunião. Suas equipes cruzam fusos, culturas e estilos de trabalho, mas o que as une não é o local. É a clareza.

“Alguns preferem o presencial. Outros, o remoto”, disse Cuschieri. “Mas seja qual for o estilo, esteja presente. Esteja lá, com responsabilidade e atitude proativa. Essa é a regra.”

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