Organizações da sociedade civil pedem que governo reconsidere fim do imposto sobre apostas em Gana

Escrito por Mercy Mutiria
Traduzido por : Thawanny de Carvalho Rodrigues

Nos debates mais recentes sobre as políticas econômicas em Gana, a retirada do imposto de 10% sobre apostas se tornou um dos principais pontos de discórdia.

O Instituto de Assuntos Econômicos (IEA, na sigla em inglês) manifestou preocupação após o recém-eleito presidente John Mahama anunciar que seu governo aboliu o imposto sobre apostas, implementado em 2023. A retirada automática do tributo sobre todos os ganhos em jogos de azar levou diversas Organizações da Sociedade Civil (OSCs) a se posicionarem publicamente contra a medida.

Consequências sociais e econômicas do jogo

A extinção do imposto sobre apostas faz parte de um conjunto mais amplo de medidas voltadas à eliminação dos chamados “impostos incômodos” em Gana. Embora o governo afirme que o objetivo seja fortalecer a estabilidade fiscal, entidades como o IEA argumentam que essa decisão representa não apenas uma perda significativa de receita pública, mas também a remoção de um importante instrumento de dissuasão ao jogo problemático.

O IEA propõe uma alternativa menos drástica: reduzir o imposto de 10% para 5%, em vez de eliminá-lo por completo. Uma coalizão de Organizações da Sociedade Civil, incluindo grupos como a Vision for Accelerated Sustainable Development e a Ghana NCD Alliance, expressou de forma categórica sua oposição à proposta do governo. As entidades defendem a manutenção — ou até o aumento — do imposto, como forma de desencorajar o jogo, especialmente entre os jovens ganeses em situação de vulnerabilidade, que tendem a ser os mais afetados pelos impactos negativos do vício em apostas.

Em um comunicado assinado por Labram Musah, Coordenador Nacional da Ghana NCD Alliance, especialista em políticas públicas de saúde e defensor do desenvolvimento, destacou-se que as atividades de jogo, especialmente aquelas potencializadas por plataformas online, já estão profundamente enraizadas na sociedade. De acordo com a World Gambling Statistics, cerca de 26% da população mundial participa de jogos de azar todos os anos — mais de 1,6 bilhão de pessoas em todo o mundo. Em Gana, a realidade não é diferente: só no último ano, 41,7% dos ganeses participaram de apostas esportivas, e 95% o fizeram por meio de plataformas digitais, em vez de casas de apostas físicas.

O crescimento desse comportamento é particularmente alarmante entre os jovens de 18 a 35 anos, faixa etária com maior propensão ao envolvimento. A promessa de ganhos fáceis, em meio a um cenário econômico desafiador, leva muitos a buscar nas apostas uma solução rápida. Segundo um relatório da TGM Research, publicado em 2024, 74,17% dos entrevistados apontaram o dinheiro como principal motivação para apostar.

Reduzir os riscos do jogo

O imposto sobre apostas tem uma função que vai além da arrecadação: trata-se também de uma ferramenta essencial para regular a indústria de jogos em rápido crescimento em Gana. A dependência do jogo pode acarretar sérias consequências, especialmente para os jovens, afetando sua saúde mental, bem-estar social e situação econômica. O problema exige medidas abrangentes para lidar com os impactos a médio e longo prazo — em especial entre a juventude.

Estudos apontam que o vício em jogos pode comprometer seriamente a saúde mental dos jogadores. As OSCs defendem uma análise mais profunda das consequências do jogo, em vez de simplesmente aumentar tributos, seguindo boas práticas internacionais e aprendizados de outros países. Isso pode ajudar o governo a compreender melhor o cenário e, com isso, aprimorar a regulação do setor.

Gana precisa colocar o bem-estar e o futuro de sua juventude acima dos interesses de determinados atores da indústria, que podem priorizar lucros em detrimento do interesse coletivo. O apelo das OSCs ganesas para que o governo reconsidere a extinção do imposto sobre apostas serve como um lembrete de que nossas sociedades devem ser protegidas contra os riscos de um comportamento de jogo desenfreado. Cabe ao governo ouvir essas vozes e agir em nome da saúde pública e do bem-estar social, garantindo que os alicerces da juventude ganesa não sejam sacrificados por ganhos econômicos de curto prazo.

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