Dr. Joseph Borg analisa o futuro da legislação de licenciamento nos Emirados Árabes Unidos

Escrito por Lea Hogg
Traduzido por : Thawanny

Conversando com o Dr. Joseph Borg em Dubai, logo após sua nomeação como Advogado (Parte II) nos Tribunais do Centro Financeiro Internacional de Dubai (DIFC), fica evidente que esse marco vai além de uma conquista pessoal – representa um avanço necessário para os setores que ele atende.

Com o setor de jogos evoluindo rapidamente nos Emirados Árabes Unidos, a certificação de Borg pelos Tribunais do DIFC sinaliza a crescente demanda por expertise jurídica especializada. Nossa conversa abordou o impacto dessa mudança para as empresas que precisam navegar pelas complexas exigências regulatórias de um dos mercados de jogos mais desafiadores da atualidade. O Dr. Borg também ofereceu uma análise detalhada da regulamentação dos jogos nos Emirados Árabes Unidos e suas implicações para toda a região MENA.

Um arcabouço regulatório limitado, mas em evolução

“Pouca coisa mudou desde o início do ano, mas nas últimas semanas vimos algumas novas licenças sendo concedidas”, afirma Borg. “Atualmente, o foco está nos provedores B2B que desejam atender os futuros operadores licenciados B2C. No entanto, o arcabouço regulatório permite que provedores B2B atuem mesmo sem um parceiro B2C baseado nos Emirados Árabes.”

A abordagem dos Emirados Árabes Unidos para as licenças B2C é intencionalmente restritiva. “Cada emirado poderá conceder apenas uma licença para operador B2C. Embora esses operadores possam atuar em todo o país, cada um precisará firmar um acordo de patrocínio com um emirado específico”, explica. “Além disso, nem todos os emirados devem aderir ao modelo, o que significa que provavelmente veremos menos de sete licenças concedidas.”

O equilíbrio entre legislação federal e local nos Emirados Árabes Unidos

A estrutura regulatória dos Emirados Árabes Unidos é semelhante à dos Estados Unidos, mas em menor escala. “Cada emirado tem um certo grau de autonomia, mas a legislação federal se sobrepõe”, observa Borg. “Em comparação com os estados norte-americanos, os emirados têm menos independência, mas ainda controlam decisões importantes, como permitir ou não operações de jogos em seus territórios.”

Ele enfatiza que compreender essas diferenças é essencial para as empresas interessadas em ingressar no mercado. “Cada emirado tem sua própria identidade cultural e abordagem regulatória. Embora os Emirados Árabes Unidos apresentem uma frente unificada, há variações internas significativas, e as empresas devem estar atentas a essas nuances.”

Ras Al Khaimah, o pioneiro

Entre os emirados, Ras Al Khaimah (RAK) se destacou como líder na regulamentação do setor de jogos. “RAK foi o primeiro a adotar abertamente a regulamentação, firmando uma parceria com a Wynn Resorts para desenvolver um resort integrado”, destaca Borg. “Além disso, o emirado investiu na criação de um órgão regulador próprio para jogos, o que agiliza o processo de licenciamento.”

O Dr. Joseph Borg também ressaltou que emirados como Sharjah e Ajman podem optar por não aderir ao modelo de licenciamento de jogos devido a seus valores culturais mais conservadores. Esse cenário seletivo é um fator crucial para operadores que consideram entrar no mercado de jogos dos Emirados Árabes Unidos.

Essa abordagem proativa confere a Ras Al Khaimah uma vantagem estratégica. “Se eu fosse um provedor B2B, escolheria RAK, pois eles já possuem a infraestrutura e o suporte necessários para ajudar as empresas a prosperar”, acrescenta. “Dubai é conhecida por ser um ambiente favorável aos negócios, mas a burocracia existe em qualquer lugar. RAK estruturou seu modelo para minimizar esses obstáculos.”

O impacto dos Emirados Árabes Unidos na região

Borg acredita que o modelo regulatório dos Emirados Árabes Unidos pode servir de referência para toda a região MENA. “O mais interessante é que o sistema de licenciamento do país pode eventualmente ser adotado por outros países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC)”, observa. “Esse cenário sugere que há discussões em andamento na região para harmonizar as regulamentações do setor.”

Se isso acontecer, o mercado poderá passar por uma transformação significativa. “Uma licença de jogos dos Emirados Árabes Unidos poderia se tornar um passaporte para outros países do GCC, como Arábia Saudita, Bahrein e Catar. Isso aumentaria substancialmente seu valor e influência.”

Ascensão do modelo híbrido

À medida que as regulamentações evoluem, Borg prevê uma convergência maior entre operadores físicos e online. “Diferente de algumas jurisdições, os Emirados Árabes Unidos não exigem que uma operadora tenha um cassino físico para obter uma licença de jogos online. No entanto, acredito que muitos operadores físicos acabarão entrando no mercado digital”, ele projeta. “Provavelmente, veremos parcerias entre operadores tradicionais e empresas já estabelecidas no setor online para compartilhar expertise.”

Ainda assim, ele alerta para a expectativa de uma evolução gradual. “Trata-se de um modelo altamente restritivo. Não veremos mudanças rápidas como nos mercados mais maduros. Esse é apenas o início de uma estratégia de longo prazo.”

Um futuro polo regional?

Apesar do ritmo cauteloso, Borg vê um enorme potencial de crescimento. “Com o tempo, os Emirados Árabes Unidos podem se tornar um centro de referência para o setor de jogos em toda a região, abrangendo não apenas o Oriente Médio, mas também o Sudeste Asiático. Sua localização estratégica, estabilidade regulatória e ambiente de negócios fazem do país uma base atraente para operadores que desejam explorar esses mercados.”

O DIFC, um polo de regulação financeira e resolução de disputas internacionais, agora conta com um dos principais especialistas em direito de jogos entre seus membros.

Por enquanto, o setor de jogos nos Emirados Árabes Unidos ainda está em sua fase inicial, mas suas ambições são claras. “É um momento fascinante para fazer parte dessa transformação”, conclui Borg. “E não tenho dúvidas de que veremos avanços significativos nos próximos anos.”

A experiência de Borg o coloca no centro da transformação do setor de jogos dos Emirados Árabes Unidos, conectando padrões jurídicos internacionais à visão ambiciosa do país.

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