S.E. Embaixador John Busuttil: a conexão asiática de Malta

Rami Gabriel
Escrito por Rami Gabriel
Traduzido por Thawanny de Carvalho Rodrigues

Representante diplomático de Malta na China, S.E. Embaixador John Busuttil compartilha uma visão experiente sobre a transformação econômica da Ásia e o posicionamento estratégico de Malta na região. O perfil, publicado na edição 33 da Revista SiGMA durante a SiGMA Ásia 2025 em Manila, aborda a estratégia diplomática de Busuttil em meio a um cenário geopolítico em constante mudança, suas reflexões sobre o avanço tecnológico no continente asiático e o papel crescente de Malta como um elo entre continentes. Sua participação no evento incluiu a abertura oficial da conferência SiGMA Ásia 2025 e a presença na inauguração do Centro Comunitário de Batiawan, nas Filipinas, realizada pela Fundação SiGMA.

Encontrando oportunidades em tempos de incerteza

Segundo Busuttil, o caminho da China segue firme, apesar de todo o barulho internacional. As recentes disputas envolvendo tarifas comerciais com os Estados Unidos têm colocado pressão sobre as relações na região, mas a resposta da China foi bastante reveladora. As visitas do presidente Xi Jinping ao Vietnã, Malásia e Camboja não foram apenas gestos protocolares: foram uma mensagem clara de que Pequim está comprometida com a estabilidade regional. Enquanto isso, o restante do mundo parece erguer barreiras.

Para Malta, esse cenário abre portas reais. “Malta oferece um valor único como plataforma para empresas asiáticas” interessadas em acessar os mercados europeu e africano, explica Busuttil. A própria trajetória de Malta — da independência em 1964 até o atual status de membro ativo da União Europeia — traz lições que dialogam com os países em desenvolvimento da Ásia. A ilha tornou-se um destino atrativo para startups de tecnologia, graças à infraestrutura sólida, às políticas fiscais vantajosas e a parcerias público-privadas que realmente funcionam. Com os Estados Unidos adotando uma postura mais isolacionista, a Europa precisa buscar novos parceiros comerciais, e Malta está em uma posição privilegiada para facilitar essas conexões.

Tecnologia que transforma tudo

Observando de Pequim, Busuttil acompanha de perto as tecnologias que estão redesenhando não só a China, mas toda a Ásia. A expansão do 5G, os avanços em inteligência artificial, os desenvolvimentos em blockchain e a internet das coisas não são apenas conceitos da moda no país: são ferramentas fundamentais que estão mudando a forma como os negócios acontecem. Um exemplo é o DeepSeek, um modelo de IA de código aberto que mostra como a China deixou de apenas seguir as empresas de tecnologia ocidentais para começar a liderar o setor.

Mas a inovação vai além do digital. “O mercado de veículos elétricos da China está passando por um crescimento extraordinário”, comenta, com os carros elétricos prestes a superar os modelos tradicionais em número. Essa mudança é profunda e está redefinindo toda a indústria automotiva. Já o Sudeste Asiático vem se tornando um campo de testes para tecnologias de condução autônoma, justamente por conta da diversidade e complexidade de seus desafios de mobilidade.

O cenário de investimentos, no entanto, também traz suas complexidades. O crescimento econômico da China desacelerou e as tensões comerciais com os EUA não ajudam. Ainda assim, Busuttil enxerga o quadro de forma diferente. “Investidores estratégicos podem colher retornos substanciais no médio prazo”, especialmente com a retomada do consumo doméstico. No panorama mais amplo, as perspectivas para a Ásia continuam positivas, com países como China, Índia, Filipinas e Vietnã projetando um crescimento anual de cerca de 5%.

Mudanças no setor de jogos na Ásia

Até mesmo o setor de jogos na Ásia está passando por transformações. A proposta da Tailândia de legalizar cassinos por meio do Projeto de Lei dos Complexos de Entretenimento representa uma mudança significativa. O país quer competir diretamente com mercados já consolidados, como Macau e Singapura. A medida ainda gera controvérsia internamente, mas demonstra o quanto a Tailândia está levando a sério o turismo e a resiliência econômica.

Essas mudanças refletem tendências econômicas mais amplas. Apesar dos recentes impactos sobre as ações de cassinos asiáticos, provocados pelas guerras tarifárias, os fundamentos do mercado na região continuam atraentes para investidores atentos às oportunidades certas. Ao refletir sobre sua carreira diplomática, Busuttil recorre a um ensinamento antigo que segue atual. “Escolha um trabalho que você ame e nunca precisará trabalhar um dia sequer na vida”, cita, fazendo referência a Confúcio. Um conselho que resume bem a importância de encontrar propósito mesmo em tempos de incerteza.

À medida que Malta e a Ásia continuam estreitando seus laços, o diálogo avança. O próximo encontro para explorar os rumos dessas parcerias será a conferência SiGMA Euro-Med, que acontece em Malta de 1º a 3 de setembro.