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A estratégia de dados da Comissão de Jogos do Reino Unido está sendo alvo de novas críticas após uma importante entidade setorial instar o órgão regulador a trabalhar de forma mais colaborativa com provedores externos de estatísticas. O Institute of Licensing (IoL), em resposta aos dados mais recentes da Pesquisa de Jogos da Grã-Bretanha (GSGB), fez um apelo por uma abordagem mais aberta, robusta e responsiva no uso de dados em todo o setor.
A GSGB, que agora entra em seu segundo ano, foi concebida para oferecer o panorama mais abrangente até hoje sobre como a população britânica se envolve com jogos de azar. Embora a ambição da pesquisa seja evidente, o IoL acredita que ela ainda não atingiu seu pleno potencial.
A mensagem do instituto é direta: para que a regulamentação baseada em evidências tenha sucesso, a estratégia de dados da Comissão de Jogos não deve apenas divulgar números, mas também aprofundar o debate sobre a origem desses dados, como eles são validados e em que contexto se inserem. A Comissão já havia emitido um comunicado público acolhendo a revisão da GSGB realizada pelo Office for Statistics Regulation (OSR), reafirmando seu compromisso com práticas de dados transparentes e de alta qualidade.
A Pesquisa de Jogos da Grã-Bretanha foi iniciada em 2023 como parte da era de reformas que sucedeu o Livro Branco. Seu objetivo é oferecer uma base de evidências mais rica para moldar regulamentações, padrões da indústria e respostas de saúde pública. Os resultados do segundo ano confirmam tendências já conhecidas: raspadinhas, apostas esportivas e jogos instantâneos online continuam sendo os produtos não lotéricos mais populares. A participação entre homens jovens adultos, especialmente na faixa de 18 a 24 anos, aumentou significativamente, com quase metade desse grupo envolvida em alguma forma de jogo fora das loterias.
Os números são expressivos, mas o IoL questiona se alguém está realmente prestando atenção, especialmente quando clareza, usabilidade e confiança parecem se perder na tradução. Agora, espera-se da Comissão um plano completo de aprimoramento, que aborde garantia de qualidade, um modelo concreto de engajamento com os usuários e métodos de validação cruzada que resistam a análises rigorosas. Essas preocupações destacam uma questão mais profunda na estratégia de dados da Comissão: será que ela realmente prioriza quem vai utilizar esses dados?
A SiGMA News já havia noticiado o apoio da Comissão às principais reformas metodológicas da GSGB, incluindo a transição para um modelo de pesquisa contínua. Esse contexto ajuda a explicar por que as expectativas em relação à estratégia de dados da Comissão só aumentam.
Um dos maiores desafios para a estratégia de dados da Comissão é garantir que ela se encaixe no panorama mais amplo dos dados de saúde e sociais, em vez de permanecer isolada. O IoL está incentivando a Comissão a conectar a GSGB a conjuntos de dados nacionais, como a Pesquisa de Saúde da Inglaterra e a Pesquisa de Morbidade Psiquiátrica em Adultos, a fim de proporcionar uma base de evidências mais completa. O objetivo não é distorcer os dados, mas enriquecê-los — trazer clareza sobre onde o risco relacionado ao jogo se sobrepõe a questões de saúde mental e pressões sociais.
Ao examinar mais a fundo essa recomendação, percebe-se algo mais profundo: um debate latente sobre quem é prejudicado pelos jogos de azar e quem decide o que deve ser feito a respeito. Especialistas defendem que enquadrar o jogo como uma questão de saúde pública — e não apenas comercial ou de conformidade — é fundamental para construir políticas mais inteligentes e coerentes. Essa abordagem permite identificar padrões de dano de forma mais precoce, elaborar respostas mais direcionadas e integrar melhor os caminhos de tratamento.
A Comissão já expressou publicamente seu apoio ao uso mais eficiente de dados em todo o setor, incentivando os licenciados a fortalecerem suas ferramentas internas de monitoramento. O projeto piloto de verificações financeiras de risco é um exemplo disso. No entanto, críticos argumentam que a estratégia de dados interna da Comissão precisa evoluir no mesmo ritmo. Se a Comissão espera que as operadoras aprimorem seus indicadores, ela também deve se comprometer com esse mesmo padrão.
Alguns defendem que a GSGB já está fazendo o suficiente. Ampliar demais o escopo pode transformar clareza em confusão ou, pior, converter política em paternalismo. Nem todos estão prontos para trocar modelos econômicos por narrativas de saúde pública, por mais bem-intencionadas que pareçam. Há também preocupações de que enquadrar os danos causados pelos jogos dentro de um contexto de saúde possa levar a decisões políticas excessivamente paternalistas.
Ainda assim, o risco de não agir pode ser maior. Quando a SiGMA News apresentou diretamente essas questões à Comissão de Jogos do Reino Unido, o órgão confirmou que está “avaliando comparações com os conjuntos de dados que serão divulgados pela Pesquisa de Saúde da Inglaterra e pela Pesquisa de Morbidade Psiquiátrica em Adultos, previstas para o final de 2025”. Embora esse seja um sinal positivo, não equivale a um plano claro de integração de dados — muito menos a um cronograma. Por ora, continua sendo uma consideração, e não um compromisso.
A Comissão respondeu ao apelo do Institute of Licensing por um quadro formal de engajamento e validação de usuários em tom semelhante. Informou à SiGMA News que está “revisando os frameworks de engajamento com usuários em linha com as recomendações do OSR” e que colabora com outros produtores oficiais de estatísticas, incluindo a Ofcom, o Serviço de Dinheiro e Pensões e os governos descentralizados. Essas discussões, destacou, estão sendo orientadas pelas diretrizes do Office for Statistics Regulation.
Mais uma vez, a Comissão adota, em princípio, uma abordagem construtiva, mas ainda não publicou um roteiro nem confirmou qualquer mecanismo para construir a confiança pública sobre como coleta e utiliza os dados da GSGB.
Quando questionada sobre se a GSGB é suficientemente robusta para embasar decisões importantes — como reformas relacionadas à permissão de máquinas, tema atualmente em foco à medida que operadores alertam que as propostas podem impactar desproporcionalmente pequenos estabelecimentos e fliperamas de praia — ou a introdução de verificações financeiras de risco, a Comissão enfatizou que “não se baseia em uma única fonte de evidência”.
A Comissão também esclareceu que não está propondo as chamadas “verificações de acessibilidade”, preferindo o termo “verificações financeiras de risco” para descrever o que considera uma medida mais direcionada. Essa distinção é importante, mas a questão mais ampla permanece sem resposta: qual é, de fato, o peso que a GSGB tem quando decisões regulatórias estão em jogo?
Também perguntamos se a Comissão aplica à sua própria estratégia de dados o mesmo padrão que exige das operadoras. A resposta foi sucinta: “Nossa estratégia corporativa estabelece claramente nossa intenção de fazer um uso mais eficaz dos dados.” Embora isso seja verdadeiro em princípio, não houve referência a mecanismos específicos, auditorias internas ou aprimoramentos estruturais. À medida que os reguladores exigem modelagem de risco em tempo real das operadoras, devem acompanhar esse ritmo de mudança.
Por fim, fizemos uma pergunta que surgiu diretamente dos dados da GSGB: a pesquisa mostra que homens jovens são o grupo mais ativo no jogo fora das loterias. A Comissão criará uma estratégia de risco direcionada a esse grupo? A resposta apontou para o Capítulo 8 de seu parecer oficial ao governo, que aborda proteções para jovens adultos. Esse capítulo menciona a necessidade de salvaguardas, mas não chega a delinear um plano específico para um dos grupos demográficos mais ativos e, possivelmente, mais vulneráveis.
No cerne da questão, a estratégia de dados da Comissão de Jogos só terá sucesso se refletir as realidades vividas que busca regulamentar. Isso significa conectar números ao contexto e políticas às pessoas. O Instituto de Licenciamento não critica a intenção da GSGB — pede, sim, um sistema que se comunique com mais clareza, ouça mais amplamente e construa confiança a partir da base.
Confiança não se conquista com um comunicado à imprensa. Ela se constrói com frameworks visíveis e responsabilidade compartilhada.
Os números são claros. Sabemos quem está em risco e as recomendações estão ali, à espera. Mas clareza sem compromisso é apenas inércia disfarçada de intenção. E, enquanto a Comissão revisa, consulta e ajusta, a realidade dos danos causados pelo jogo continua superando as políticas criadas para contê-los.