Estudo alerta para os riscos globais das apostas online e cassinos digitais
Um estudo publicado recentemente pela revista científica The Lancet revela um cenário alarmante para a saúde pública mundial, causado pela expansão das apostas esportivas e dos cassinos digitais. Conduzido por especialistas em saúde pública, o estudo revela que cerca de 46,2% dos adultos e 17,9% dos adolescentes ao redor do mundo fizeram algum tipo de aposta nos últimos doze meses, indicando um aumento significativo no número de apostadores e, com isso, nos problemas de saúde associados à prática.
Os dados apontam para um universo de aproximadamente 450 milhões de adultos envolvidos em apostas, dos quais 80 milhões já apresentam sinais de distúrbios relacionados, como a ludopatia. Segundo a pesquisa, 9% dos adultos e 16% dos adolescentes que apostam em esportes online estão em situação de dependência ou vício. Esses índices sobem ainda mais para apostas em cassinos e caça-níqueis digitais, atingindo 16% dos adultos e 26% dos adolescentes. A gravidade do problema se agrava em contextos onde há pouca ou nenhuma regulamentação, permitindo o acesso livre a plataformas de apostas, que funcionam 24 horas por dia e são limitadas apenas pela capacidade financeira do usuário.
O artigo da The Lancet também menciona que as apostas não são um simples entretenimento e podem trazer sérios danos à saúde, finanças e relações pessoais, com efeitos duradouros que geram desigualdade. A publicação argumenta que os governos e legisladores precisam encarar as apostas como uma questão de saúde pública, semelhante ao tratamento dado ao álcool e ao tabaco. Esse argumento se baseia no fato de que, ao contrário de produtos como comida, álcool e cigarro, a indústria de apostas não possui limitações físicas que impeçam o consumo; a oferta digital é contínua, e o único limite é o poder aquisitivo do apostador.
No Brasil, uma pesquisa recente do PoderData mostrou que 24% dos brasileiros já experimentaram apostas online, revelando o alcance desse fenômeno no país. Em contrapartida, 73% dos entrevistados nunca realizaram apostas, e 3% preferiram não responder. No entanto, a acessibilidade e a ausência de restrições rigorosas no ambiente online tornam os brasileiros especialmente vulneráveis, considerando que o país ainda carece de uma regulação que limite a publicidade e promova o controle dessas atividades.
As recomendações do estudo incluem uma série de medidas que deveriam ser adotadas por governos e agências reguladoras, especialmente em países onde as apostas são permitidas, como o Brasil. As sugestões incluem a criação de campanhas de conscientização pública, restrições à publicidade e ao patrocínio de eventos por empresas de apostas, e a implementação de um órgão regulador independente e autônomo. Esse órgão teria a responsabilidade de proteger a saúde pública, estabelecer limites financeiros para os apostadores, bem como proibir o envolvimento da indústria no financiamento de estudos ou tratamentos relacionados aos vícios em apostas.
Outro ponto destacado no artigo é a importância da criação de uma aliança global contra os efeitos nocivos das apostas, que incluiria a participação de organizações da sociedade civil, acadêmicos e até mesmo das vítimas. A publicação também sugere que a Organização Mundial da Saúde (OMS) deveria considerar a questão das apostas em uma resolução específica, reconhecendo-a formalmente como um problema de saúde pública com implicações globais.
A realidade exposta pelo estudo de The Lancet indica que os países precisam priorizar políticas que contemplem a saúde pública, independentemente dos benefícios fiscais proporcionados pela tributação da indústria de apostas. As apostas online, especialmente por sua acessibilidade irrestrita, apresentam um desafio moderno que exige uma regulamentação responsável e abrangente, capaz de minimizar os riscos e proteger as populações mais vulneráveis.