Tribunal da UE decidirá em julho sobre disputa de jogos entre Alemanha e Malta

Escrito por Jillian Dingwall
Traduzido por : Thawanny de Carvalho Rodrigues

Uma batalha judicial que pode redefinir o cenário dos jogos online na Europa chegou agora ao Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE). Conhecido como caso C-440, o processo teve início em 2021, quando um jogador alemão processou a Lottoland, operadora com sede em Malta, alegando ter conseguido acessar seus serviços na Alemanha mesmo sem a empresa possuir licença válida no país à época.

Posteriormente, a ação foi adquirida pelo advogado Volker Ramge, que ampliou o escopo para representar outros consumidores alemães e incluiu na disputa outras operadoras com sede em Malta, acusadas de atuar no mercado alemão sem a devida autorização.

Diante da crescente complexidade do caso, as partes decidiram buscar um posicionamento oficial do TJUE. O advogado alemão István Cocron explicou: “Posteriormente, as partes solicitaram por unanimidade o envio da questão ao TJUE, para que o tribunal se manifestasse sobre a conformidade do Tratado Interestadual de Jogos de Azar de 2012 com o direito europeu”.

O tribunal agora precisa avaliar a legislação europeia à luz da antiga legislação alemã sobre jogos de azar, vigente antes da atualização feita em 2021 (GlüStV 2021), criando um quebra-cabeça jurídico de alto nível.

A opinião oficial do advogado-geral — que costuma influenciar fortemente o veredicto final — está prevista para 10 de julho de 2025. A decisão poderá ter implicações profundas para milhares de processos semelhantes em toda a Europa, com perdas estimadas em até €1 bilhão apenas na Alemanha e na Áustria.

A Lei 55 de Malta: escudo protetor ou ponto de tensão jurídica?

No centro da controvérsia está a Lei 55 de Malta, aprovada em 2023. Essa legislação permite que os tribunais malteses “recusem o reconhecimento e a execução de sentenças estrangeiras relacionadas ao setor de jogos de azar online”.

A Autoridade de Jogos de Malta (MGA) defende com firmeza a medida, alegando que a lei é “um passo necessário para proteger as empresas licenciadas pela MGA de disputas que não estejam alinhadas com os valores de livre mercado da Europa”.

Entretanto, a Lei 55 tem enfrentado duras críticas por parte de outros países da União Europeia. O órgão regulador da Alemanha, o GGL, declarou que a lei “não é compatível com as normas da UE”. Juristas também apontam que a legislação contraria o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE), que garante a livre prestação de serviços entre os Estados-membros.

Um advogado alemão foi direto: “A Lei 55 provavelmente não resistirá à análise jurídica do TJUE”, destacando que interesses econômicos por si só não são motivos válidos, segundo o direito europeu, para negar o cumprimento de decisões judiciais estrangeiras.

A Comissão Europeia está atualmente avaliando a legalidade da Lei 55, e o Tribunal Comercial de Viena enviou ao TJUE uma série de questões cruciais sobre a norma. Caso a corte decida contra Malta, a indústria de iGaming do país poderá enfrentar uma enxurrada de pedidos de indenização vindos de jogadores de toda a Europa.

E agora? O futuro da regulamentação de jogos na Europa

O processo entre Alemanha e Malta escancara um problema maior: a ausência de uma regulamentação harmonizada para os jogos de azar na União Europeia. Enquanto Malta defende que suas operadoras possam oferecer serviços livremente em toda a UE, com base no princípio da livre circulação, outros países membros defendem o direito de regulamentar o setor internamente e exigir licenças locais.

A decisão do TJUE não apenas definirá o destino da ação do jogador alemão contra a Lottoland, mas também poderá estabelecer um precedente sobre como disputas transfronteiriças envolvendo jogos de azar serão tratadas daqui para frente.

Como observou Cocron, “A Comissão já destacou várias vezes que casos como esse devem ser tratados com máxima cautela”, dada sua capacidade de reconfigurar o mercado europeu de jogos.

Um parecer contrário à antiga proibição alemã sobre jogos online pode enfraquecer a base jurídica de milhares de ações em andamento. Por outro lado, se o TJUE invalidar a Lei 55 de Malta, isso pode impulsionar uma nova onda de esforços para criar uma legislação unificada sobre jogos na UE — voltada à proteção dos consumidores e à promoção de uma concorrência justa entre as operadoras.

Por enquanto, todas as atenções se voltam a Luxemburgo, onde a opinião do advogado-geral, em julho, oferecerá as primeiras pistas sobre como o tribunal mais alto da Europa pretende resolver esse impasse jurídico de grandes proporções.

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