FlaBet libera aposta no próximo papa e tira do ar em seguida – a prática é ilegal

Escrito por Júlia Moura

Imagina entrar em um site de apostas e dar de cara com a opção: “Quem será o próximo papa?”. Foi exatamente isso que aconteceu com os usuários da FlaBet, uma plataforma operada pela Pixbet em parceria com o Flamengo. Mas não durou muito. Logo depois que o jornal Estadão procurou a empresa para comentar o assunto, a aposta sumiu do ar. 

E por quê? Porque, no Brasil, esse tipo de aposta não é permitido. A lei só permite apostas em eventos esportivos ou em jogos online — nada de política ou religião. A Pixbet disse que tudo aconteceu por causa de um erro do sistema de um provedor internacional, que liberou o mercado sem querer. Esse provedor é certificado e autorizado a operar no Brasil. 

A FlaBet funciona como uma “versão rubro-negra” da Pixbet, que é uma das principais casas de apostas esportivas do Brasil. 

Posicionamento do Ministério da Fazenda  

A história ganhou mais atenção quando a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), ligada ao Ministério da Fazenda, resolveu agir. A SPA informou que vai notificar a empresa para retirar todas as apostas que não estejam dentro da lei — ou seja, só esporte e jogos online estão liberados. 

Vale lembrar que a regulamentação das apostas no Brasil ainda está se consolidando e em fase de ajustes. Em 2023, o governo federal começou a organizar melhor o setor, com regras mais claras sobre o que pode e o que não pode. Hoje, para operar legalmente no país, a empresa precisa de uma autorização federal — as licenças estaduais, como as da Loterj (do Rio de Janeiro), já não bastam mais. 

A própria Pixbet operava antes com uma licença da Loterj, mas depois da decisão do STF que restringiu esse tipo de autorização, ela teve que se adequar. Atualmente, ela tem uma autorização provisória para seguir operando enquanto finaliza o processo com a Secretaria de Prêmios e Apostas. 

E lá fora? Vale apostar em papa? 

Enquanto aqui no Brasil a aposta no futuro novo papa virou polêmica, lá fora é um mercado bem movimentado. No site Polymarket, por exemplo, já foram apostados mais de 9 milhões de dólares (uns R$ 51 milhões) em quem será o próximo papa. Sim, é muito dinheiro envolvido. 

O favorito por lá é o cardeal italiano Pietro Parolin, atual secretário de Estado do Vaticano, com cerca de 28% de chance de virar o novo líder da Igreja. Em segundo lugar está o filipino Luis Antonio Tagle, com 20%. Outros nomes também aparecem na disputa, como Matteo Zuppi e Fridolin Ambongo. 

Além do Polymarket, sites famosos como bet365 e BetMGM também permitem esse tipo de aposta em vários países. E segundo o Oddschecker, que compara odds (cotações) de diversas casas, Parolin é mesmo o nome mais cotado no momento. Tudo isso porque o conclave, reunião para escolher o novo papa, começa no dia 7 de maio. 

Aposta ou desrespeito? 

Por mais que apostar em quem será o próximo papa possa parecer inofensivo ou até divertido para alguns, existe um público que acha isso uma falta de respeito. Afinal, não é qualquer eleição — estamos falando de uma escolha religiosa, cheia de significado espiritual para milhões de fiéis. 

E aqui entra o ponto: mesmo nos países onde isso é permitido, essas apostas geram discussões sobre até onde vai o limite do entretenimento. Será que tudo pode virar aposta? Será que vale misturar fé com dinheiro? 

No Brasil, a resposta (pelo menos legalmente) é não. E o caso da FlaBet serve como alerta tanto para as empresas quanto para os apostadores. Se for apostar, tem que ser dentro das regras. E, no nosso caso, as regras são bem claras: só vale esporte e jogo online. O resto fica de fora. 

No fim das contas… 

Esse episódio mostra como o mercado de apostas ainda está se ajustando no Brasil. A galera quer novidade, quer variedade, mas a legislação ainda tem limites bem definidos. E, para funcionar direito, todo mundo precisa respeitar esses limites — empresas, usuários e até os próprios provedores de conteúdo. 

A Pixbet saiu pela tangente dizendo que foi erro do sistema, mas a responsabilidade é dela também. O importante é que o conteúdo saiu do ar, e agora a empresa deve continuar ajustando suas operações conforme as novas regras do jogo. 

Enquanto isso, quem quiser apostar em quem será o novo papa vai ter que fazer isso lá fora — e lembrar que aqui no Brasil, esse tipo de palpite ainda é ilegal.