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O BiS SiGMA Americas 2025, o maior evento da indústria de iGaming no Brasil, está se aproximando rapidamente. Nos últimos anos, o mercado de apostas esportivas no Brasil passou por uma transformação significativa, impulsionada por regulamentações e pelo crescimento exponencial do setor. Um dos desenvolvimentos mais impactantes nesse cenário é a entrada das principais emissoras de TV na operação de suas próprias plataformas de apostas.
Em 2024, gigantes do setor, como Globo, Band e SBT, deram um passo decisivo ao lançar suas próprias casas de apostas, marcando um novo capítulo para o mercado de iGaming. Esse movimento não apenas adiciona uma nova camada de legitimidade ao setor, mas também amplia o público apostador, aproveitando uma base de fãs de esportes já fiel e altamente engajada. À medida que essas plataformas se estabelecem como protagonistas, elas reforçam a credibilidade do mercado e desempenham um papel fundamental na disseminação da cultura de apostas.
Para discutir o impacto dessas mudanças e como elas estão moldando o futuro do iGaming no Brasil, Lygia Rodrigues, Chefe de Conferências do BiS SiGMA Americas, entrevista Flávio Figueiredo, CEO do iGaming Brazil e uma das principais referências da indústria. Como embaixador do tema “Entre Marketing e Mídia: Conectando Audiências, Mercados e Opinião Pública” no evento, Flávio compartilha suas percepções sobre como a entrada das emissoras no mercado valida o iGaming no Brasil e fortalece a aceitação pública.
Lygia Rodrigues: Flávio, é um prazer enorme conversar com você sobre um tema tão relevante. A mídia tem sido uma peça-chave na construção do mercado de iGaming no Brasil, impulsionando a cultura de apostas esportivas por meio de grandes patrocínios, ativações digitais e integrações dentro do conteúdo esportivo. Como você enxerga essa evolução e de que forma essas estratégias transformaram a percepção do público?
Flávio Figueiredo: Sem dúvida, Lygia! O mercado de iGaming no Brasil tem sido moldado por sua conexão direta com o esporte e o entretenimento, e a mídia tem desempenhado um papel crucial nesse processo. A presença massiva das apostas na publicidade de campo, nas transmissões esportivas e no marketing digital ajudou a consolidar o setor como parte natural da experiência esportiva.
Inicialmente, as apostas foram recebidas com ceticismo, mas, ao longo do tempo, a exposição contínua gerou maior familiaridade. As ativações digitais trouxeram interatividade e engajamento, especialmente por meio de campanhas que conectam os fãs de forma mais profunda ao próprio jogo.
No entanto, o maior desafio ainda é construir uma imagem forte e bem regulamentada. Apesar de todo esse avanço, a percepção pública ainda é ambígua e enfrenta críticas de setores que muitas vezes não compreendem a realidade do mercado regulado.
Lygia Rodrigues: À medida que as grandes emissoras expandem sua presença no setor, veículos especializados e influenciadores digitais surgiram como protagonistas na comunicação sobre iGaming. De que maneira esses canais de comunicação influenciaram a profissionalização e a credibilidade do mercado? Eles têm sido fundamentais para a educação do público?
Flávio Figueiredo: Os veículos especializados, como o iGaming Brazil, o Games Magazine Brazil e o BNL Data, desempenham há muito tempo um papel essencial no setor, proporcionando visibilidade às empresas e oferecendo uma cobertura aprofundada sobre regulamentação, tendências de mercado e avanços tecnológicos. Por meio da cobertura de eventos como o BiS SiGMA, essas plataformas destacam os principais acontecimentos da indústria, trazendo uma visão técnica e fundamentada tanto para o público quanto para os investidores. Esse trabalho contínuo fortalece a credibilidade do mercado e contribui para um ecossistema de informação mais estruturado e profissional.
Além disso, tipsters e influenciadores digitais têm uma função fundamental na comunicação do setor, traduzindo informações complexas em conteúdos acessíveis para diferentes audiências. Muitos apostadores iniciantes recorrem a esses especialistas para aprender sobre estratégias de apostas, gestão de bankroll e o funcionamento das plataformas de apostas. No entanto, com a regulamentação, surge a necessidade de um código de conduta mais rigoroso, garantindo que esses profissionais atuem com transparência e responsabilidade, evitando práticas enganosas e promovendo um ambiente mais ético para os consumidores.
Lygia Rodrigues: Com a influência de grandes emissoras como Globo, Band e SBT, a televisão desempenha um papel crucial na formação da percepção pública sobre o mercado de apostas. Como essa influência afeta a relação do público com as apostas? A exposição massiva nas transmissões esportivas e nos programas de entretenimento fortalece a validação do setor, ou ainda existem barreiras a serem superadas?
Flávio Figueiredo: A televisão, sem dúvida, tem um papel-chave na construção da credibilidade da indústria, pois alcança um público vasto e confere validação social. O simples fato de as empresas de apostas estarem associadas a emissoras tradicionais já empresta um certo nível de legitimidade. No entanto, ainda existem barreiras culturais e preconceitos a serem superados. Enquanto a mídia tradicional vende espaço publicitário para operadores de apostas, muitas vezes retrata o setor de forma negativa. Esse desequilíbrio na narrativa pode gerar desinformação e confusão no público.
O caminho para a plena aceitação passa pelo fortalecimento da regulamentação, garantindo transparência dos operadores e incentivando as emissoras a abordarem o setor de maneira justa e educativa.
Lygia Rodrigues: Enquanto os veículos tradicionais geram milhões em receita publicitária com operadores de apostas, muitas vezes adotam uma postura crítica em sua cobertura editorial do setor. Como essa dualidade afeta a percepção do público? E como o lado comercial – impulsionado por cifras milionárias – pode ser equilibrado com uma abordagem editorial mais justa e transparente?
Flávio Figueiredo: Essa é uma das maiores contradições da indústria. O mercado publicitário vê as apostas como uma das principais fontes de receita para a mídia tradicional, mas, editorialmente, o tema ainda é tratado com cautela. Isso gera confusão no público e alimenta um ciclo de desconfiança.
O equilíbrio ideal seria a adoção de um código de conduta jornalístico específico para o setor de apostas, garantindo que a cobertura seja baseada em fatos, e não apenas em narrativas sensacionalistas.
Ao mesmo tempo, os operadores precisam atuar com transparência, educando a audiência e reforçando as práticas de jogo responsável.
Lygia Rodrigues: O mercado deu um salto significativo com as emissoras entrando não apenas como vendedoras de publicidade, mas como operadoras de apostas. O que esse movimento representa para a indústria? Esse novo papel das emissoras pode transformar a forma como a mídia cobre o iGaming, agora que elas têm um interesse direto no sucesso do setor?
Flávio Figueiredo: Essa mudança é um divisor de águas. Com as emissoras assumindo o papel de operadoras, a relação do público com o setor deve mudar significativamente. No Brasil, já estamos vendo isso com a operação da BetMGM pela Globo, a BandBet e a plataforma de apostas do SBT, consolidando uma tendência em que grandes veículos de comunicação não apenas promovem a indústria, mas participam ativamente dela.
Esse modelo já está bem estabelecido em mercados como os Estados Unidos e o Reino Unido, onde empresas de mídia operam suas próprias plataformas de apostas. Nos Estados Unidos, por exemplo, a ESPN Bet surgiu de uma parceria entre a ESPN e a Penn Entertainment. No Reino Unido, o The Sun Betting reforça essa convergência entre jornalismo e iGaming. Esses casos demonstram que a aliança entre mídia e apostas pode ser bem-sucedida – desde que haja transparência, regulamentação clara e um compromisso com práticas responsáveis.
A grande questão é se a imparcialidade editorial será mantida. Agora que essas emissoras são players diretos na indústria, haverá menos resistência e críticas na forma como o iGaming é retratado na mídia? Ou veremos um cenário em que apenas os operadores concorrentes continuarão a ser alvo de escrutínio? Essa mudança traz uma nova camada de desafios e oportunidades.
No Brasil, a tendência é que mais veículos de mídia explorem esse mercado, mas o sucesso dependerá da confiança do público e da capacidade da indústria de se autorregular. Se as emissoras realmente se comprometerem com as melhores práticas e o jogo responsável, o iGaming pode se consolidar ainda mais como um segmento respeitado e bem integrado ao cenário nacional.