Gigantes dos jogos enfrentam queixa da UE por “enganar” crianças

Garance Limouzy September 12, 2024

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Gigantes dos jogos enfrentam queixa da UE por “enganar” crianças

A BEUC (Organização Europeia dos Consumidores) e 22 de suas organizações membros de 17 países apresentaram uma queixa formal contra algumas das principais empresas de videogames do mundo em relação às compras dentro dos jogos. A queixa, apresentada à Comissão Europeia e à rede de Autoridades de Proteção ao Consumidor (CPC-Network), acusa empresas como Activision Blizzard, Electronic Arts, Roblox Corporation, Supercell e Ubisoft de empregar práticas enganosas em seus jogos populares, incluindo Fortnite, EA Sports FC 24, Minecraft e outros. Somente em 2020, as compras dentro dos jogos geraram mais de US$ 50 bilhões globalmente.

Acusações de táticas enganosas

De acordo com a análise da BEUC, o problema central gira em torno da forma como as empresas comercializam e vendem “moedas premium” — dinheiro virtual que os jogadores compram com dinheiro real para adquirir itens no jogo. A queixa alega que as empresas de videogames carecem de transparência quanto ao custo real dos itens digitais, fazendo com que os consumidores — especialmente crianças — gastem mais do que o previsto sem entender completamente suas despesas.

Além disso, a BEUC argumenta que os jogadores frequentemente enfrentam dificuldades para reivindicar seus direitos após realizar essas compras, como problemas para obter reembolsos ou enfrentar mudanças repentinas no valor dos itens do jogo.

De acordo com a pesquisa da BEUC, muitos jogadores prefeririam ver o custo real em moeda corrente, permitindo-lhes tomar decisões mais informadas.

Protegendo as crianças

Um foco importante da queixa é a vulnerabilidade das crianças: na Europa, 84% das crianças de 11 a 14 anos jogam videogames regularmente. A BEUC argumenta que as empresas de jogos não fizeram o suficiente para proteger esses jovens consumidores, que frequentemente têm dificuldade em entender o verdadeiro custo e as implicações das compras dentro dos jogos.

A queixa pede à Comissão Europeia e à CPC-Network que tomem medidas imediatas para proteger os jovens jogadores. Uma solução proposta é desativar as compras dentro dos jogos por padrão para todos os usuários, especialmente crianças, garantindo que qualquer compra seja uma escolha deliberada e informada.

A Video Games Europe, que representa empresas como Epic Games, Roblox, Activision Blizzard, Electronic Arts, Supercell e Ubisoft, cita pesquisas da Ipsos sobre como os pais supervisionam os gastos de seus filhos. De acordo com a Video Games Europe, os resultados dos últimos cinco anos provam que 90% dos pais permanecem ativamente envolvidos na supervisão dos gastos dos filhos e que houve uma leve diminuição na porcentagem de crianças gastando em conteúdo dentro dos jogos, agora abaixo de 25%.

The cover of BEUC’s publication.

Violations of EU consumer law

A BEUC alega que as práticas dessas empresas de jogos violam várias leis de proteção ao consumidor da UE, incluindo a Diretiva de Direitos dos Consumidores (2011/83/UE) e a Diretiva sobre Práticas Comerciais Desleais (2005/29/CE). Essas leis visam garantir que os consumidores tenham acesso a informações claras e precisas e não sejam submetidos a práticas de marketing injustas ou enganosas.

A BEUC quer ver uma transparência total dos preços para as moedas do jogo, o fim dos “termos injustos” que permitem que as empresas modifiquem recursos do jogo ou retirem conteúdo sem aviso prévio, e o reconhecimento dos direitos dos consumidores, como a capacidade de receber reembolsos ou exercer garantias legais.

À medida que a Comissão Europeia e a Rede CPC iniciam suas investigações, o resultado pode ter grandes implicações para o futuro da indústria de jogos, estendendo-se além das empresas mencionadas no relatório.

Reação da indústria

A Video Games Europe afirmou que o uso de moedas dentro dos jogos é uma prática antiga e bem compreendida entre os jogadores. “Nossos membros aderem consistentemente às leis europeias de proteção ao consumidor ao oferecer essas compras. O Código de Conduta PEGI exige que os desenvolvedores exibam clara e inequivocamente o custo real no momento da compra das moedas dentro dos jogos,” declarou a Video Games Europe.

A empresa também defendeu a prática como uma forma de financiar entretenimento de qualidade. “A capacidade de comprar conteúdo dentro dos jogos tem sido importante para apoiar uma maior escolha do consumidor e para financiar a indústria de videogames europeia. As compras dentro dos jogos permitiram novos desenvolvimentos de jogos, incluindo a disponibilidade de jogos gratuitos e as operações ao vivo de jogos por muitos anos após o lançamento, em muitos casos por estúdios pequenos e independentes.”

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