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A Genting Malaysia Berhad, gigante do setor de cassinos e entretenimento, anunciou recentemente que vai adquirir os 10% restantes da Empire Resorts Limited, com sede em Nova York, por cerca de US$ 80,7 milhões. Esse movimento chama atenção não somente pelo valor envolvido, mas também pelos desafios e oportunidades que ele representa para a empresa.
A operação inclui um pagamento em dinheiro de US$ 41 milhões e a assunção de um empréstimo intercompany de US$ 39,7 milhões, que a Empire tinha com a Kien Huat Realty III Ltd., veículo de investimento da família Lim, que controla o grupo Genting. Atualmente, a Kien Huat detém 51% das ações ordinárias da Empire, enquanto a Genting Malaysia detém os outros 49%, além de 100% das ações preferenciais conversíveis. Ou seja, após a conclusão do negócio, que ainda depende de aprovações regulatórias e está prevista para o segundo trimestre do ano fiscal de 2025, a Genting passará a ter controle total sobre a Empire Resorts.
A Empire Resorts não é uma empresa qualquer no cenário de cassinos dos EUA. Ela administra o Resorts World Catskills, um dos maiores resorts de cassino do estado de Nova York, além do Resorts World Hudson Valley, inaugurado no fim de 2022, e da plataforma de apostas esportivas online Resorts World Bet. No papel, essa é uma aquisição estratégica: garante à Genting presença sólida em Nova York, um dos mercados de jogos mais cobiçados do país, e reforça a marca Resorts World nos EUA.
Porém, a Empire Resorts tem sido um verdadeiro desafio financeiro. Desde que a Genting comprou sua participação inicial em 2019 por US$ 128 milhões, já despejou mais de US$ 720 milhões no negócio — sem ainda ter visto lucro. A empresa vê prejuízos ano após ano, mesmo após diversas injeções de capital e esforços de reestruturação.
Alguns analistas de mercado não esconderam seu ceticismo com a nova aquisição. O Nomura, por exemplo, classificou a transação como negativa, justificando com a falta de um plano claro de recuperação para a Empire e alertando que, agora, a Genting Malaysia terá que consolidar os resultados financeiros da Empire, o que deve aumentar ainda mais o peso das perdas nos seus balanços. Como consequência, o Nomura rebaixou a recomendação das ações da Genting de “Compra” para “Reduzir”.
O banco Maybank Investment também soou o alarme, chamando a operação de mais um caso de “transação entre partes relacionadas” que destrói valor para os acionistas. Já o Hong Leong Investment Bank calculou que a Empire está sendo avaliada a um múltiplo EV/EBITDA de 72,7 — um número estratosférico, considerando que a média do setor de cassinos nos EUA gira em torno de 10 vezes.
Outro ponto preocupante para os investidores é o impacto financeiro da operação no balanço da Genting Malaysia. Com a aquisição, a dívida total do grupo deve saltar para RM13,5 bilhões (cerca de US$ 3,1 bilhões), aumentando a alavancagem para 1,13 vezes e gerando custos anuais de juros de até RM70 milhões (US$ 16,5 milhões) nos anos fiscais de 2026 e 2027. A PublicInvest Research estima que a Genting continuará absorvendo entre RM160 milhões e RM280 milhões (US$ 37,8 a US$ 66,1 milhões) em perdas anuais relacionadas à Empire, o que pode derrubar o lucro em até 3,5% nos próximos três anos.
Mas por que, então, a Genting Malaysia insiste nessa aquisição? A resposta está no potencial estratégico de Nova York. O estado já é o quarto maior mercado de apostas esportivas online dos EUA e deve ganhar ainda mais força nos próximos anos, à medida que a legislação sobre jogos evolui e novas licenças para cassinos são liberadas. Ao ter controle total da Empire, a Genting espera poder integrar melhor as operações, ganhar sinergias, reduzir custos e, quem sabe, transformar a Empire em um ativo lucrativo no longo prazo.
O Resorts World Catskills, por exemplo, tem uma estrutura impressionante, com mais de 1.600 máquinas caça-níqueis, 150 mesas de jogo e um hotel de luxo com 332 quartos. O Resorts World Hudson Valley, por sua vez, abriu as portas em meio a muita expectativa para atrair uma clientela mais próxima de Nova York. E, claro, a plataforma Resorts World Bet coloca a empresa no jogo digital, um segmento que cresce rapidamente no mercado norte-americano.
Vale lembrar que a Genting não é nova no mercado global de cassinos. Fundada na Malásia, a companhia opera resorts e cassinos em diversos países, incluindo Reino Unido, Bahamas e Filipinas, e é dona do gigantesco Resorts World Sentosa, em Singapura. A aposta nos EUA, portanto, faz parte de uma estratégia de expansão internacional.
O desafio, agora, será transformar um portfólio cheio de potencial em resultados concretos. O sucesso da operação vai depender de uma gestão mais eficiente, corte de custos e, possivelmente, uma recuperação do mercado local, que ainda sofre os efeitos da pandemia e enfrenta muita competição.