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A crescente popularidade das apostas em props e parlays nos jogos universitários dos Estados Unidos resultou em uma consequência preocupante: um número crescente de jovens jogadores não profissionais está denunciando o assédio que enfrentam quando apostadores perdem suas apostas. A reação tem se tornado tão severa que reguladores dos EUA estão, cada vez mais, proibindo esse tipo de aposta envolvendo jogadores universitários. Recentemente, a NCAA, que há muito tempo defende uma proibição global dessas apostas, tomou medidas ao reter dados licenciados de operadores que as permitem.
“Espero que seu cachorro tenha câncer” foi a mensagem que um estudante da Universidade de Ohio recebeu de um apostador irritado, conforme relatado pelo The Guardian. Mensagens desse tipo são comuns: “Você me fez perder dois mil dólares.” Elas também são frequentemente violentas: “Você merece ser eliminado por estragar minha aposta.”
Com frequência demais, de maneira violenta demais.
Tyrese Haliburton, jogador da NBA, explica: “Se eu olhar minhas menções hoje (no X, antigo Twitter), tenho certeza de que a maioria será reclamando que eu estraguei a aposta de alguém. Mesmo se eu fizer uma boa partida, ainda assim vão dizer: ‘Era o mínimo que você tinha que fazer — mas por que você arruinou minha aposta?’”
Os jogadores, ele afirma, não são mais julgados apenas pelo desempenho em jogo — passaram a ser tratados como “peças” nas apostas das pessoas. Os apostadores não estão mais apostando apenas no resultado dos jogos, mas também nos menores e muitas vezes absurdos detalhes: por exemplo, quem vai marcar o próximo ponto, se um jogador ou treinador vai chorar durante o hino nacional, ou até mesmo apostas como: “Se os Chiefs vencerem, Andy Reid será coberto com molho barbecue depois do jogo?” Algumas são disturbadoras de tão cínicas, como: “Será que um jogador vai deixar o jogo e não vai voltar devido a sintomas de concussão?”
O grande número e a natureza agressiva dessas mensagens, combinadas com gritos hostis durante os jogos, resultaram em uma condenação generalizada ao assédio enfrentado pelos jogadores—especialmente os jovens atletas universitários.
Como resultado, a maioria dos estados dos EUA introduziu algumas restrições às apostas em props relacionadas aos esportes universitários. Alguns estados, como Ohio, Louisiana, Vermont e Maryland, proibiram completamente esse tipo de aposta.
A Associação Nacional de Atletismo Universitário (NCAA) recentemente deu mais um passo para tornar os jogos universitários livres de apostas em props.
Sob um novo acordo, a NCAA fornecerá dados à Genius Sports, que os venderá para as casas de apostas, em troca de uma parte da receita. Mais importante ainda, esse novo contrato permite que a NCAA imponha uma política que defende há anos: o fim das apostas em props envolvendo jogadores universitários.
“Os dados da NCAA estarão disponíveis para as casas de apostas apenas se elas removerem as apostas arriscadas de suas plataformas”, explicou Tim Buckley, Vice-Presidente Sênior de Assuntos Externos da NCAA. Ele acrescentou que as casas de apostas também devem “concordar em cooperar plenamente com as investigações da NCAA e fornecer informações-chave, incluindo dados de geolocalização e registros de dispositivos.”
“A NCAA mantém o direito de rescindir a licença de dados de qualquer casa de apostas se houver violação das proteções de integridade — garantindo responsabilidade real”, concluiu.
Além do assédio que os jogadores enfrentam quando as apostas em props são permitidas, a NCAA também alerta que essas apostas carregam um risco elevado de manipulação de resultados e manipulação interna. É mais difícil para os reguladores e vigilantes detectarem a manipulação quando as apostas se baseiam em eventos triviais.
Outros países foram ainda mais longe, proibindo as apostas em props totalmente, não apenas para esportes universitários.
Na França, por exemplo, a ANJ (Autorité Nationale des Jeux) proíbe apostas que não dependem do conhecimento esportivo do apostador, para combater o jogo problemático. Apostas sobre a cor das meias de um jogador ou se o número de gols marcados será ímpar ou par não são permitidas.
A ANJ explica: “É evidente a partir da investigação que essas novas formas de apostas esportivas são baseadas em mecanismos que, de acordo com vários estudos científicos, apresentam fatores de risco específicos para o jogo excessivo. Sua distribuição não é justificada em locais onde as práticas de jogo são majoritariamente anônimas e a identificação de comportamentos problemáticos ainda está subdesenvolvida.”
A Associação Americana de Jogos (AGA), ao reconhecer a gravidade do problema e lançar a campanha “Keep Your Cool” para tratar do assédio, defende uma abordagem mais equilibrada do que uma proibição total.
A AGA argumenta que mensagens abusivas racistas, sexistas e “gerais” são mais frequentes do que o assédio relacionado à manipulação de resultados ou apostas, conforme relatado pela Vixio.
Alguns também argumentam que proibir as apostas em props poderia simplesmente empurrar os apostadores para plataformas offshore não regulamentadas e para o mercado negro, tornando a situação ainda mais difícil de controlar.
Proteger esses jogadores, no entanto, deve continuar sendo a prioridade. Um treinador de basquete da Universidade de Dayton, Ohio, falou sobre o assédio, atuando como denunciante há alguns anos. Falando sobre seus jogadores de 18 a 22 anos, o treinador Anthony Grant declarou: “Eles são apenas crianças. Isso me revolta. Eles têm famílias. Eles não merecem isso. A saúde mental é real.”