- Conferências
- Notícias
- Fundação SiGMA
- Treinamento & Consultoria
- Tour de Pôquer
- SiGMA Play
- Sobre
No sul da Ásia, as leis e atitudes em relação aos jogos de azar variam amplamente — enquanto alguns países permitem a prática, outros a consideram socialmente inaceitável. A Índia, porém, apresenta um dos exemplos mais evidentes de onde essa divisão permanece nebulosa.
Na prática, as apostas e os jogos de azar no país são regulados principalmente pela Lei de Jogos Públicos de 1867, uma legislação introduzida durante o domínio britânico, que proíbe a operação e o uso de estabelecimentos físicos de jogos. No entanto, essa lei é cada vez mais vista como desatualizada, especialmente diante do avanço das plataformas digitais. Assim, muitos aspectos — principalmente aqueles relacionados aos jogos online e de habilidade — permanecem abertos a diferentes interpretações.
Para complicar ainda mais, o jogo é uma competência estadual segundo a legislação indiana, permitindo que cada estado defina sua própria abordagem regulatória. Enquanto estados como Goa, Sikkim e Daman legalizaram certas modalidades de cassinos, a maioria das outras regiões continua a impor proibições rigorosas.
Jogos de habilidade, como rummy (um tipo de jogo de cartas) e corridas de cavalos, são geralmente permitidos, enquanto os jogos de pura sorte permanecem restritos. As apostas online ocupam um cenário legal indefinido, com alguns estados chegando a proibir totalmente o acesso a esse tipo de plataforma.
À medida que o setor de apostas e jogos digitais cresce na Índia, há uma demanda cada vez maior por um marco regulatório nacional consistente. Um relatório recente da Vixio destaca que várias das principais associações comerciais que representam os jogos de habilidade com dinheiro real, esportes de fantasia e eSports uniram forças em uma iniciativa coordenada.
Esse movimento representa uma mudança significativa após um período marcado por disputas legais com governos estaduais e pelo recuo do governo central em relação ao apoio prévio à autorregulação. Os primeiros sinais de grandes reformas começam a surgir, impulsionados por uma cooperação mais robusta dentro do setor e pela pressão regulatória. Em fevereiro de 2025, diversos líderes da indústria assinaram um Memorando de Entendimento (MoU) confidencial com o Conselho de Padrões de Publicidade da Índia (ASCI).
O objetivo do acordo é combater a publicidade ilegal, especialmente aquela realizada por plataformas de apostas offshore e cassinos online não licenciados. A iniciativa se concentra na fiscalização e na denúncia de infrações, em colaboração com autoridades governamentais e órgãos de segurança pública.
Um dos principais objetivos do MoU é melhorar os padrões de conformidade entre os operadores legais e reduzir a visibilidade das plataformas não regulamentadas. Durante anos, celebridades indianas e estrelas do críquete endossaram abertamente sites de apostas e cassinos online, com poucas consequências.
Em alguns casos, imagens e vídeos desses famosos foram utilizados sem consentimento para promover plataformas ilegais. Apesar dos repetidos apelos de governos estaduais para coibir essas práticas, anúncios de plataformas não autorizadas continuaram a dominar outdoors, redes sociais, televisão e até transmissões esportivas, normalizando esse tipo de publicidade aos olhos do público.
Esse período de tolerância, porém, parece estar chegando ao fim. As autoridades começaram a agir ativamente contra empresas de apostas ilegais online e suas redes de promoção. Para os órgãos do setor e agências reguladoras, essa ação é cada vez mais vista como um primeiro passo essencial para “limpar” o mercado e preparar o terreno para um ambiente mais responsável e legal.
Uma transição importante está em curso em nível estadual. Diversos estados indianos estão avançando no reconhecimento formal da legitimidade dos jogos de habilidade online, incluindo Karnataka e Maharashtra. A decisão da Suprema Corte da Índia, que reforçou a distinção entre jogos de habilidade e de sorte, está alinhada com essa tendência.Com o objetivo de proteger os consumidores e fornecer mais clareza jurídica, os estados estão criando estruturas regulatórias específicas. Esse movimento pode ajudar a reduzir a influência de sites ilegais de apostas, ao conferir status legítimo aos jogos baseados em habilidade. O objetivo final é criar um ambiente mais seguro e aberto para os jogadores, ao mesmo tempo que se promove a expansão responsável do mercado de jogos digitais no país.
Esses desenvolvimentos indicam que há um progresso real em direção a mais transparência e regulamentação. Mas será que podemos esperar uma solução definitiva e uma ampla aceitação das atividades ligadas a apostas e jogos num futuro próximo?
Nós, da SiGMA World, conversamos rapidamente com Priya Ahlawat, fundadora da Jumping Play, para saber mais sobre esse cenário. Ela compartilhou suas opiniões sobre a cooperação entre os setores, as mudanças regulatórias e o futuro das plataformas legais de jogos na Índia.
Priya Ahlawat, Fundadora da Jumping Play: “Sim, acredito que essa colaboração é um avanço significativo e positivo. A parceria entre os grupos de jogos e o ASCI não só traz mais integridade à maneira como os jogos de habilidade online são promovidos, mas também ajuda a proteger o ecossistema contra práticas publicitárias enganosas ou ilegais. Envia uma mensagem clara de que o setor está comprometido com um crescimento responsável e com a autorregulação.”
Ela acrescentou: “Essa aliança com o ASCI não se trata apenas de cumprir normas — trata-se de construir uma relação de confiança de longo prazo com todas as partes interessadas, sejam elas jogadores, operadores ou até mesmo promotores.”
Priya Ahlawat: “Embora as ações recentes do governo possam parecer rigorosas, acredito que a intenção não é sufocar os negócios legítimos, mas sim trazer a clareza e o controle tão necessários para o setor de jogos e apostas online. Estabelecer regras claras e reprimir os operadores ilegais é um passo necessário para proteger os consumidores e garantir um ecossistema mais confiável.”
Ela continuou: “Na minha visão, a maioria das plataformas responsáveis de jogos acolhe bem essa iniciativa. Elas reconhecem que a regulamentação, quando implementada de forma sensata, pode ajudar a diferenciar negócios credíveis daqueles que operam ilegalmente. Em vez de prejudicar o setor, esse tipo de fiscalização pode contribuir para um ambiente mais seguro e sustentável, tanto para os jogadores quanto para os fornecedores. Enquanto o diálogo entre os formuladores de políticas e os representantes da indústria permanecer aberto e construtivo, estou confiante de que o resultado apoiará as plataformas de jogos de habilidade em conformidade, ao mesmo tempo que desencorajará práticas exploratórias.”
Priya Ahlawat: “Introduzir regulações de AML é um passo na direção certa. Em vez de enxergá-las como um obstáculo, devemos vê-las como uma ação relevante para aumentar a transparência e a responsabilidade, elementos essenciais para a credibilidade de longo prazo do setor.”
“Quando bem implementada, a clareza regulatória não apenas protege os usuários, mas também dá mais confiança às plataformas legítimas para operarem”, concluiu.
Em resumo, esses acontecimentos indicam um movimento claro para reformar o setor de jogos da Índia e construir uma credibilidade sustentável. Embora o impulso seja evidente, o resultado ainda é incerto. Se esse progresso resultará em mudanças duradouras dependerá de uma cooperação contínua entre indústria, reguladores e legisladores — e de uma dose de paciência de todas as partes envolvidas.