Itália mantém posição contra apostas da TotoPapa enquanto mercados globais disparam

David Gravel
Escrito por David Gravel
Traduzido por Thawanny de Carvalho Rodrigues

A Itália segue firme em sua postura, mesmo enquanto o mundo aposta em quem será o próximo líder da Igreja Católica. Apesar da onda de apostas papais no exterior, o país que abriga o Vaticano se recusa a participar do jogo.

Na Itália, regulamentações rígidas da ADM (Agência de Alfândega e Monopólios) proíbem apostas em eventos religiosos. Enquanto casas de apostas ao redor do mundo oferecem cotações sobre cardeais como se o conclave fosse um Super Bowl, a Itália considera o assunto sagrado demais para se transformar em especulação. Como relatou o portal PressGiochi em seu artigo “TotoPapa, peccato che in Italia sia peccato”, apostar em quem será o próximo Papa é visto como ilegal e moralmente inaceitável em solo italiano.

Apostas papais: uma história que desafia as probabilidades

Dado o atual compromisso da Itália com a tradição, pode parecer surpreendente que, no passado, as apostas sobre o resultado de eleições papais já tenham tido raízes históricas profundas. No crepúsculo do século XV, sussurros sobre apostas ecoavam pelos corredores das catedrais, desafiando até mesmo a excomunhão, como se a fé fosse algo com que se pudesse jogar.

O episódio mais curioso talvez tenha ocorrido em 1903, quando o próprio governo italiano se envolveu. Autoridades chegaram a oferecer apostas sobre a morte do Papa Leão XIII. Caso ele tivesse falecido uma semana antes do previsto, o governo teria enfrentado perdas superiores a um milhão de dólares.

Foi somente em 1918, com as reformas do Papa Bento XV, que essas bizarras interseções entre igreja e azar foram finalmente encerradas.

Mas velhos hábitos são difíceis de abandonar. Apesar das proibições italianas, plataformas globais modernas abraçaram a corrida papal sem reservas.

Uma explosão de especulação internacional

Atualmente, mercados de previsão ponto a ponto como o Polymarket registram volumes impressionantes em contratos papais, com mais de seis milhões de dólares apostados em poucos dias. Grandes casas de apostas — como William Hill, Paddy Power, Ladbrokes, Bet365 e Unibet — já listaram cotações para os principais candidatos, refletindo o fascínio global com o processo.

O favorito nas bolsas é Pietro Parolin, experiente Secretário de Estado do Vaticano, com odds variando entre 9/4 e 5/2. Logo atrás aparece o cardeal filipino Luis Antonio Tagle, elogiado por sua sensibilidade pastoral e alcance institucional. Discreto, ele tem se posicionado como um dos nomes mais prováveis para suceder o Papa Francisco.

As apostas em Tagle giram entre 3/1 e 10/3, embora o ressurgimento recente de um vídeo em que ele canta Imagine, de John Lennon, tenha causado desconforto em círculos mais conservadores.

Mas talvez seja exatamente disso que a Igreja precise — não de mais do mesmo. O conclave terá que decidir: continuará agarrado a um passado em decomposição ou ousará nascer de novo? Um Papa asiático, sem medo de sonhar além do espelho trincado da Europa, poderia quebrar o silêncio. Ousar respirar de novo — e a Igreja pode voltar a rugir. Imagine?

Outros nomes em destaque incluem Matteo Zuppi, Peter Turkson e Pierbattista Pizzaballa, todos com cotações mais longas. Há também apostas cautelosas em “azarões”, lembrando que em 2013, Jorge Bergoglio — hoje Papa Francisco — era um improvável cotado a 15/1.

Mercado de apostas versus realidades do conclave

Apesar das cotações contarem uma história, a realidade do conclave muitas vezes conta outra. Em algumas ocasiões, favoritos nas apostas acabaram sendo eleitos — como Giovanni Montini, em 1963, e Joseph Ratzinger, em 2005. Nessas situações, os movimentos no mercado refletiram de fato a dinâmica interna entre os cardeais.

Na maioria dos casos, porém, o conclave permanece uma fortaleza fechada, e as apostas falham em antecipar o resultado. Em 2013, o cardeal Angelo Scola liderava as apostas, mas quem saiu escolhido foi Bergoglio, para surpresa geral. O segredo sagrado do conclave, as alianças estratégicas e os ventos imprevisíveis frequentemente deixam apostadores e analistas perplexos.

Como detalhado no estudo Punts, prizes and sports betting surprises, os maiores choques do mundo das apostas acontecem quando fatores humanos ultrapassam modelos e previsões. A eleição papal talvez seja o exemplo mais puro dessa imprevisibilidade persistente.

O discreto nome de Gozo ganha os holofotes

Em meio ao burburinho, histórias mais silenciosas também começam a surgir nas conversas sobre apostas. Como já discutido na semana passada, com os olhos do mundo voltados ao Vaticano, uma aposta discreta de Gozo entra em cena: o cardeal Mario Grech, da pequena ilha maltesa, vem ganhando atenção.

Embora não figure entre os principais favoritos das casas de apostas, muitos dentro do Vaticano veem Grech como um candidato de continuidade. É um canonista moderno com coração pastoral, e sua influência silenciosa nas reformas sinodais pode colocá-lo como opção de consenso caso os favoritos empatem.

Num conclave moldado tanto por conversas reservadas quanto por perfis públicos, aqueles com chances mais remotas nunca estão realmente fora do jogo.

Fé acima da fortuna

Enquanto a Itália mantém firmes seus princípios e proíbe qualquer tipo de aposta religiosa em seu território, o apetite global por apostas papais não dá sinais de enfraquecimento. A especulação instantânea e as plataformas digitais passaram a capturar até mesmo os momentos mais solenes.

Ainda assim, o conclave permanece, em sua essência, um exercício de tradição sagrada. Nenhum apostador pode prever o movimento do Espírito Santo. Nenhuma cotação traduz as preces sussurradas sob os afrescos de Michelangelo.

Quando a fumaça subir sobre a Capela Sistina, não será guiada por estatísticas ou palpites. Será conduzida pela fé, selada pelo segredo — e observada por um mundo que, apesar de tudo, ainda espera pelo inesperado.

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