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Enquanto os Emirados Árabes Unidos desbravam um novo território com sua ambiciosa entrada no mundo das apostas reguladas, o olhar internacional acompanha de perto — e alguns já começaram a apostar. Para Luís Portela de Carvalho, sócio da Lektou e especialista em direito de jogos, mídia e entretenimento, a abordagem regulatória dos Emirados não é apenas digna de nota: é um exemplo de um modelo inovador, cuidadosamente desenhado.
Com anos de experiência assessorando grandes empresas do setor de jogos, Portela de Carvalho oferece uma visão clara sobre as oportunidades e desafios que estão por vir. Nesta entrevista à SiGMA News, ele explica por que o regime tributário elevado dos Emirados não está afastando os operadores sérios, como o fator cultural influencia as estratégias e por que a janela para quem quer entrar nesse mercado está se fechando rapidamente.
Diferentemente de outras jurisdições, onde a regulamentação das apostas surge a partir de estruturas burocráticas já existentes ou de autoridades isoladas, os Emirados Árabes Unidos optaram por uma abordagem deliberadamente orientada por especialistas e com abertura ao diálogo.
“O que foi feito aqui foi muito inteligente”, afirmou Portela de Carvalho. “Eles trouxeram os melhores — veteranos da indústria, reguladores experientes e pessoas com conhecimento prático do setor.”
No comando desse novo regime está Kevin Mullally, uma figura respeitada no cenário regulatório global. “Ele é um veterano da indústria”, destacou Portela de Carvalho. “É a pessoa certa para construir algo do zero.”
E a escolha não se limitou às pessoas. A Autoridade Reguladora Geral de Jogos Comerciais (GCGRA, na sigla em inglês) também estabeleceu prazos rigorosos e começou a emitir licenças em menos de dois anos — um ritmo impressionante, considerando o contexto cultural, religioso e político complexo da região.
“Eles já publicaram os Padrões de Publicidade há cerca de um ano”, acrescentou. “Isso não é algo que normalmente se espera tão cedo. É impressionante.”
À medida que a regulamentação das apostas ganha forma nos Emirados Árabes Unidos, uma coisa está cada vez mais clara: o atual regime tributário não foi desenhado para ser lucrativo. Pelo menos, ainda não. Mas isso não significa que esteja falhando, destaca Portela de Carvalho. Muito pelo contrário. A GCGRA está construindo as bases para um mercado que deve evoluir — estrategicamente, estruturalmente e financeiramente.
No centro dessa expectativa está a crença, compartilhada por muitos no setor, de que a atual carga tributária elevada será ajustada e que o modelo regulatório evoluirá a partir do diálogo com os diversos stakeholders.
“Ninguém investiria nesse mercado se não acreditasse firmemente que o regime vai mudar”, disse Portela de Carvalho à SiGMA News. “Atualmente, o regime não é lucrativo. Não é preciso ser especialista para perceber isso — basta abrir uma planilha.”
Ainda assim, apesar dessa falta de rentabilidade, os operadores já estão entrando no mercado. Por quê? Porque acreditam no que vem pela frente — e Portela de Carvalho também.
“O regime tributário é muito alto. Alto demais para ser sustentável”, explicou. “Mas a GCGRA está aberta ao diálogo. Eles têm ouvido o mercado, e acredito que estarão dispostos a ajustar a carga tributária para torná-la viável — especialmente para as operações online.”
Ele foi categórico em sua avaliação: “Do jeito que está, ninguém consegue obter lucro. Mas essa não é a versão final. Estamos numa fase fundacional, não definitiva.”
Os operadores que estão entrando nos Emirados fazem um movimento calculado — estão apostando na flexibilidade regulatória futura.
“Não há como as empresas estarem se instalando com essas condições financeiras se não acreditassem que mudanças estão a caminho”, afirmou Portela de Carvalho. “Eles estão olhando para o longo prazo. Acreditam que a abertura e o pragmatismo da GCGRA vão resultar em um modelo mais equilibrado.”
Essa abertura não é comum. “A maioria dos reguladores não interage com a indústria”, observou Portela de Carvalho. “Eles fecham as portas. Mas aqui, a GCGRA tem buscado ativamente a contribuição dos stakeholders, e isso fez toda a diferença.”
Ainda assim, a regulamentação nos Emirados Árabes Unidos não pode ser dissociada do seu contexto cultural e religioso, que é central para a forma como as apostas são percebidas e estruturadas.
“Você não vai ver os Emiratis jogando”, afirmou Portela de Carvalho. “Acredito que isso não vai mudar, e isso é compreendido. O mercado é voltado para expatriados — indianos, europeus orientais e outros que compõem esse perfil demográfico.”
Os operadores precisam construir suas operações com essa realidade em mente. “É fundamental ter presença local”, acrescentou. “Não dá para montar uma estratégia para os Emirados à distância. É preciso gente que entenda as sensibilidades, os valores e o ambiente midiático locais.”
O marketing e a publicidade também são impactados. “Os Padrões de Publicidade são específicos para a região”, explicou Portela de Carvalho. “Não dá para simplesmente copiar campanhas da Europa. É preciso respeitar o contexto local.”
Embora a GCGRA tenha emitido apenas algumas licenças até agora, Portela de Carvalho acredita que os critérios são claros. “Eles estão focados na reputação. Querem operadores que já tenham se provado em outras jurisdições — sem violações graves, sem práticas obscuras.”A capacidade financeira, claro, é importante, mas não é o único fator. “Em algumas jurisdições, só olham para o saldo bancário. Aqui é diferente. Eles querem operadores que colaborem na construção de um modelo de excelência. Operadores que respeitem os valores do país. Esse é o objetivo.”
Um dos pontos mais debatidos é a responsabilidade atribuída aos operadores para monitorar afiliados e anunciantes. De acordo com as regras da GCGRA, os operadores são responsáveis pelo comportamento de seus provedores.
Portela de Carvalho acredita que isso não apenas é necessário, mas também inteligente.
“O regulador não tem poder ou pessoal ilimitado”, afirmou. “Eles não conseguem monitorar cada afiliado. Então, transferir essa responsabilidade para os operadores os sobrecarrega, mas também os fortalece. Obriga a indústria a se autorregular.”
Ele também vê nisso uma oportunidade para práticas empresariais melhores: “Estabeleçam padrões internos mais elevados do que os exigidos por lei. Usem contratos bem elaborados. E apostem na tecnologia — especialmente na publicidade programática — para garantir a conformidade.”
Portela de Carvalho não se vê apenas como advogado — ele se posiciona como um defensor de uma nova forma de atuação jurídica. “Não estamos aqui para barrar decisões ou apenas redigir contratos”, disse. “Somos parceiros estratégicos.”
Ele se considera afortunado por trabalhar com clientes que entendem isso. “Cada vez mais, jovens líderes do setor nos acionam antes de lançar uma estratégia. Nos envolvem desde o primeiro dia. É assim que deve ser.”
Mas ainda há casos em que o jurídico é tratado como um adendo. “Quando somos chamados tarde demais, ainda tentamos corrigir — mas é mais difícil. Prevenção é sempre melhor.”
Ele reforça a importância da comunicação clara. “Se os advogados querem ser ouvidos, precisam falar a linguagem do cliente — não o juridiquês. O objetivo é o lucro, e nosso trabalho é ajudar os clientes a alcançá-lo sem infringir as regras.”
Se um cliente o procurasse amanhã, incerto sobre investir nos Emirados, a resposta de Portela de Carvalho seria inequívoca.
“Sim. Entre agora”, disse. “Porque muito em breve, a oportunidade vai acabar. Não há espaço ilimitado. E quem esperar pode perder a chance de ajudar a moldar a direção do mercado.”
Para ele, a história da regulamentação de apostas nos Emirados não é sobre o que ela é hoje — mas sobre o que está prestes a se tornar.
“É um mercado jovem”, concluiu Portela de Carvalho, “mas está avançando na direção certa. E quem entrar cedo — com inteligência, legalidade e estratégia — terá a vantagem.”