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Na conferência organizada pela Associação Sueca de Comércio de Jogos Online (BOS), Peter-Paul de Goeij, fundador da Associação Holandesa de Jogos Online (NOGA), apresentou uma avaliação contundente e, em certos momentos, bastante preocupante do que ele chama de “desastre holandês” na regulamentação do jogo online. Baseando-se em dados, no histórico legislativo, nas falhas do mercado e nos crescentes riscos para os consumidores, de Goeij lançou um alerta firme para os formuladores de políticas e os atores do setor em toda a Europa. A conversa contou também com a participação de Madeleine Tügel, presidente da Associação Sueca de Jogadores Compulsivos, e Pontus Lindwall, CEO da Betsson.
“A Holanda é um país pequeno”, iniciou de Goeij. “Mas tem todos os motivos para ser um mercado próspero de jogos online.” Ele lembrou ao público que, apesar do tamanho modesto, o país possui uma população densa, um PIB trilionário e uma longa tradição de interesse por jogos online desde os anos 2000.
No entanto, em vez de prosperar após a regulamentação, o mercado holandês tem apresentado dificuldades. Segundo de Goeij, dados oficiais indicam que apenas 49% da receita gerada pelo jogo online é captada por operadores licenciados — ou seja, a maior parte do dinheiro está migrando para canais ilegais e não regulamentados. “A regulamentação não serve para beneficiar os operadores. Serve para proteger os consumidores — e não proteger metade deles é um fracasso”, afirmou Pontus Lindwall, CEO da Betsson.Enquanto isso, o crescimento do mercado também estagnou. Enquanto países europeus registraram um crescimento médio de 15% em 2024, a Holanda alcançou apenas 4,9%. A receita bruta do jogo (GGR) está em queda. O Holland Casino, estatal, reportou prejuízo de € 10,4 milhões, atribuindo abertamente a queda ao aumento de impostos e à regulamentação mais rígida. “O auditor alertou: há sérias dúvidas sobre o futuro do Holland Casino”, explicou de Goeij.
Um dos problemas centrais, segundo de Goeij, são políticas bem-intencionadas, mas mal executadas. Ele chamou isso de “morte por impostos”, referindo-se ao aumento da taxação sobre jogos, que chegará a quase 38% em 2025. Além disso, foram impostas várias restrições: proibição de publicidade, banimento de promoções com “modelos de referência” e a introdução de limites para depósitos e verificações de capacidade financeira.“No cadastro, há um limite de € 350 por mês”, explicou de Goeij. Jovens adultos têm um teto de € 150, e ultrapassar € 700 exige comprovação financeira. Qual o resultado? Uma migração em massa para sites ilegais. “Os limites de depósito dispararam a migração para mercados ilegais”, declarou ele.
Enquanto os reguladores holandeses buscavam inspiração na Dinamarca, não conseguiram adotar a estabilidade e a eficácia do modelo dinamarquês. “Não aproveitamos as melhores práticas da regulamentação dinamarquesa”, lamentou de Goeij, criticando tanto a implementação quanto o clima político, que permitiu que medos e suposições guiassem as políticas. “As políticas precisam ser baseadas em fatos, e uma regulamentação sustentável requer um mercado legal competitivo.”
O mercado publicitário na Holanda cresceu rapidamente, dominado por grandes players como a Loteria Estatal e o Holland Casino. “Eles fizeram a publicidade explodir, e politicamente isso gerou um retrocesso.” Agora, com uma proibição quase total de anúncios que entrará em vigor em 1º de julho de 2025, de Goeij alertou sobre as consequências: “72% dos holandeses já não conseguem diferenciar operadores legais de ilegais.”
Sem a visibilidade da publicidade, ele argumentou, o mercado legal se torna invisível. “Se você não existe no campo de reconhecimento do consumidor, está perdido.”“Precisamos informar os consumidores de que jogar com uma empresa licenciada na Suécia oferece proteção”, concordou Madeleine Tügel, presidente da Spelberoendes Riksförbund, a Associação Sueca de Jogadores Compulsivos. “O jogo não é uma mercadoria comum. Ele é viciante e traz sérias consequências sociais. Precisamos agir contra o vazamento para o mercado não regulamentado — caso contrário, a legislação não terá sentido.”
Durante o painel, de Goeij expressou sua frustração com a falta de urgência dos reguladores e políticos. “Isso não gerou nenhuma agitação política — apenas uma atitude de ‘não há nada para ver aqui, sigam adiante’”, disse ele. Acrescentou que, mesmo com a canalização caindo abaixo dos 50%, os reguladores continuam alegando progresso: “A KSA [reguladora holandesa] disse: ‘Podemos ver que os limites estão funcionando.’ Para mim, isso foi um choque enorme.”Tanto Lindwall quanto Tügel defenderam um diálogo mais aberto entre a indústria e os reguladores. “Na Suécia, nós [operadores e reguladores] jogamos no mesmo time. O diálogo é fundamental”, afirmou Pontus Lindwall.
A experiência holandesa é um alerta para outros países europeus. “A regulamentação do jogo, mais do que qualquer outra, é um exercício de equilíbrio”, concluiu de Goeij. “Precisamos garantir que as medidas adotadas evitem que as pessoas migrem para o mercado ilegal.”