Entrevista: Pagamentos, Regulamentação e Barreiras Bancárias: O Jogo por Trás das Transações no iGaming

O BiS SiGMA Américas 2025 se consolida como o epicentro das discussões mais relevantes para o mercado de iGaming no Brasil, reunindo especialistas e líderes do setor para debater os desafios e oportunidades da regulamentação. Em um cenário de transformações intensas, temas como inovação nos meios de pagamento, compliance e a atuação das instituições financeiras são fundamentais para garantir um ambiente seguro e sustentável. À frente da Pay4Fun, uma das principais empresas de pagamentos voltadas para o iGaming no Brasil, Leonardo Baptista acompanha de perto os impactos das mudanças regulatórias e as barreiras impostas ao setor. Com uma visão estratégica sobre os desafios enfrentados por operadores e usuários, ele se tornou uma das vozes mais atuantes na busca por um ambiente financeiro mais acessível e transparente para o iGaming.

Nesta entrevista, Lygia Rodrigues, Head de Conferências do BiS SiGMA Américas, conversa com Leonardo Baptista, Embaixador da seção “Fronteiras Financeiras: Presente e Futuro dos Pagamentos no iGaming”, para discutir os principais entraves enfrentados pelas empresas de apostas no Brasil. Entre os temas abordados, estão as restrições dos grandes bancos ao processamento de pagamentos via PIX, o impacto das operações ilegais na reputação do setor e o papel das autoridades reguladoras na construção de um ecossistema financeiro mais eficiente para o iGaming.

Lygia Rodrigues: Leonardo, é um privilégio ter essa conversa com você, especialmente em um momento tão decisivo para o setor. O impacto das novas regulamentações e os desafios enfrentados pelas empresas de pagamentos têm gerado debates acalorados na indústria. Ninguém melhor do que você, que está na linha de frente desse cenário, para trazer insights valiosos sobre o futuro das transações no iGaming.

1. O impacto da regulamentação para os meios de pagamento

Lygia Rodrigues: A regulamentação do mercado de iGaming foi um avanço aguardado há anos e promete transformar o setor. Na sua visão, quais são as principais vantagens desse novo cenário para os meios de pagamento?

Leonardo Baptista: A regulamentação do mercado de iGaming traz uma série de benefícios significativos para os meios de pagamento. Um dos principais pontos positivos é a criação de um ambiente mais seguro e transparente, essencial para garantir a confiança tanto dos apostadores quanto dos operadores. Ao estabelecer que apenas instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central, como os provedores de pagamento regulamentados, possam atuar no setor, o governo assegura maior rastreabilidade e controle nas transações financeiras. O uso de sistemas como o Pix, por exemplo, facilita o monitoramento das transações em tempo real, dificultando a realização de atividades fraudulentas ou a lavagem de dinheiro. Um dos pontos-chave desse controle é a verificação da origem dos depósitos e dos saques, garantindo que os recursos movimentados sigam critérios de transparência e conformidade. Além disso, a regulamentação proporciona uma uniformização das práticas, o que ajuda a reduzir os riscos de operações ilegais, promovendo um mercado mais estável e confiável.

Lygia Rodrigues: Um ambiente regulado tende a proporcionar mais segurança financeira e transparência nas transações. O que ainda precisa ser feito para garantir que essa promessa se concretize na prática?

Leonardo Baptista: Para que a regulamentação traga os resultados esperados, é essencial uma fiscalização rigorosa e eficaz. A Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) e o Banco Central devem trabalhar em conjunto para garantir que apenas empresas licenciadas operem no mercado, aplicando sanções claras a quem descumprir as normas. Além disso, é fundamental que haja um canal eficiente de comunicação entre reguladores e empresas do setor, permitindo ajustes e melhorias conforme necessário. Com um monitoramento ativo e um ambiente regulado bem estruturado, o mercado de iGaming poderá se desenvolver de forma segura e transparente. Essas medidas são fundamentais para garantir que o mercado de iGaming se desenvolva de maneira saudável, mantendo a confiança do público e combatendo práticas fraudulentas.

2. O PIX como impulsionador do mercado de apostas

Lygia Rodrigues: O PIX revolucionou os meios de pagamento no Brasil e se tornou a escolha preferida dos apostadores. Como essa tecnologia ajudou a impulsionar o mercado de iGaming?

Leonardo Baptista: O Pix transformou a forma como as transações financeiras são realizadas no Brasil, trazendo rapidez, segurança e conveniência para os apostadores. No iGaming, ele se tornou o principal meio de pagamento por oferecer transferências instantâneas e disponibilidade 24/7, eliminando as barreiras tradicionais dos pagamentos bancários. 

Lygia Rodrigues: Apesar da sua popularidade, o PIX ainda enfrenta desafios no setor. Você acredita que ele continuará sendo o principal meio de pagamento para apostas, ou novas soluções podem ganhar espaço?

Leonardo Baptista: O PIX, apesar de enfrentar alguns desafios, provavelmente continuará sendo o principal meio de pagamento para as apostas. Sua agilidade e facilidade de monitoramento em tempo real o tornam ideal para garantir maior segurança e rastreabilidade, o que é fundamental no combate a fraudes e atividades ilícitas. Além disso, com o respaldo do Banco Central e sua integração ao sistema financeiro brasileiro, o PIX oferece confiança tanto para os operadores quanto para os consumidores. É claro que novas soluções podem surgir com o tempo, pois o setor de pagamentos está sempre evoluindo. Mas, considerando o cenário atual e o papel crucial que o PIX já desempenha, ele continuará sendo a principal escolha para as apostas no Brasil, especialmente devido à sua transparência e conformidade com as regras.

3. O papel da SPA e do Bacen no combate às operações ilegais

Lygia Rodrigues: A atuação da SPA e do Banco Central no combate às operações ilegais tem ganhado força. Como essa fiscalização pode ajudar a fortalecer o mercado regulado e garantir um ambiente mais competitivo e justo?

Leonardo Baptista: A fiscalização eficiente do Banco Central e da SPA é essencial para garantir um ambiente de concorrência justa no setor de iGaming. O bloqueio de transações financeiras ligadas a operadores ilegais é uma das formas mais eficazes de impedir atividades clandestinas, possibilitando a verificação da origem do depósito e do saque nessas transações. Além disso, a regulamentação ajuda a padronizar as exigências de compliance, criando um mercado mais estável para as empresas licenciadas e promovendo a segurança dos consumidores.

Lygia Rodrigues: No entanto, algumas ações parecem impactar negativamente empresas licenciadas. Você acredita que ainda falta um entendimento mais aprofundado por parte das autoridades sobre o funcionamento do setor?

Leonardo Baptista: Sim, ainda falta um entendimento mais aprofundado sobre as particularidades do setor de iGaming. Algumas ações, como o bloqueio de sites ilegais, têm um impacto limitado, pois esses sites podem facilmente alterar o domínio e continuar suas atividades. O foco deveria ser no controle dos canais de pagamento, que são as verdadeiras fontes de financiamento desses sites ilegais. O Banco Central e a SPA têm os meios necessários para interromper esses fluxos, como a desativação de contas bancárias envolvidas com sites ilegais. Além disso, é fundamental que as autoridades colaborem mais com os operadores do setor para garantir que as regras sejam aplicadas de maneira eficiente e que as empresas licenciadas não sejam penalizadas por medidas mal compreendidas.

4. Bloqueios bancários: um risco para o setor regulado?

Lygia Rodrigues: Muitos clientes relatam dificuldades ao tentar depositar via PIX em casas de apostas licenciadas, recebendo bloqueios ou mensagens de advertência dos bancos. Como você enxerga essa postura das instituições financeiras?

Leonardo Baptista: A Pay4Fun acredita que a postura das instituições financeiras em bloquear ou dificultar depósitos via Pix em casas de apostas licenciadas não deveria ocorrer de forma generalizada. Entendemos que os bancos têm políticas internas de compliance e monitoramento de transações, mas é importante que essas medidas sejam aplicadas de maneira transparente e proporcional, sem impactar negativamente clientes que desejam apostar em plataformas devidamente regulamentadas.

O mercado de apostas está passando por um processo de regulamentação no Brasil, e é essencial que todas as partes envolvidas — incluindo bancos, operadores e meios de pagamento — ajam em conformidade com a legislação, garantindo segurança sem restringir indevidamente a liberdade dos usuários. Como instituição de pagamento autorizada pelo Banco Central, seguimos rigorosos critérios de compliance e trabalhamos para assegurar que nossos clientes possam realizar suas transações de forma segura e sem bloqueios indevidos..

Lygia Rodrigues: Essa interferência não vai contra o livre mercado e a autonomia do consumidor? O que pode ser feito para evitar que isso prejudique a experiência do usuário e a credibilidade do setor?

Leonardo Baptista: A Pay4Fun entende que qualquer restrição excessiva pode, de fato, levantar questionamentos sobre a livre concorrência e a autonomia do consumidor. O usuário deve ter o direito de escolher onde realizar suas transações, desde que seja em plataformas devidamente licenciadas e em conformidade com a regulamentação vigente.

Para evitar que essa postura comprometa a experiência dos clientes e a credibilidade do setor, é fundamental que haja um alinhamento entre os bancos, reguladores e empresas do ecossistema de pagamentos, garantindo que medidas de compliance não se transformem em barreiras desproporcionais. A regulamentação das apostas no Brasil traz maior segurança e transparência para o mercado, e o papel das instituições financeiras deve ser o de facilitar operações legítimas, não de restringi-las arbitrariamente.

5. O alinhamento entre o setor financeiro e o setor de apostas

Lygia Rodrigues: Se os bancos tradicionais continuarem impondo barreiras às transações de empresas regulamentadas, isso pode comprometer a efetividade da regulamentação?

Leonardo Baptista: Acredito que, à medida que esse mercado amadurece, essas barreiras tendem a ser reduzidas, especialmente com a maior clareza regulatória e o fortalecimento das diretrizes de compliance.

Ponto importante que os bancos não estão pensando é que ao colocar determinadas restrições, estão apenas atingindo o mercado REGULADO e facilitando a vida de quem opera de maneira ilegal. Ou seja, o papel dos bancos e da FEBRABAN com essa atitude é contraproducente.

Lygia Rodrigues: Qual seria o caminho ideal para um alinhamento saudável entre o sistema bancário e o setor de apostas, garantindo segurança e eficiência para todos os envolvidos?

Leonardo Baptista: O caminho ideal seria um processo de adaptação e colaboração entre os bancos e o setor de apostas. Os bancos, embora acostumados com transações mais simples de e-commerce, precisam entender que o mercado de apostas tem particularidades, como os valores mais altos envolvidos e a necessidade de uma transação ágil, especialmente no pagamento de prêmios.

Uma transação via PIX, por exemplo, deve ser processada quase que instantaneamente para evitar problemas, e isso exige que os bancos se ajustem a essa dinâmica. Além disso, é importante que haja uma comunicação mais aberta entre os bancos, a SPA, o Banco Central e os operadores do setor, garantindo que as regras de segurança e regulamentação sejam claras para todos. O alinhamento entre o sistema bancário e o setor de apostas deve focar na transparência, segurança e eficiência nas transações, facilitando o cumprimento das normas e protegendo tanto os operadores quanto os apostadores.

6. O futuro dos meios de pagamento no iGaming

Lygia Rodrigues: A evolução dos pagamentos digitais está acontecendo rapidamente. Quais tendências você acredita que podem beneficiar o setor de iGaming nos próximos anos?

Leonardo Baptista: O PIX continuará sendo o principal meio de pagamento no setor de iGaming, devido à sua rapidez e à facilidade de monitoramento em tempo real, o que proporciona mais segurança e transparência nas transações.

Além disso, a introdução de soluções como o ITP (Iniciador de Transação de Pagamento), que permite iniciar pagamentos em nome dos usuários, deve tornar os processos ainda mais ágeis e seguros, beneficiando tanto os operadores quanto os consumidores.

Estamos também trabalhando para fortalecer o canal de denúncias junto ao Banco Central, facilitando a identificação de operações ilegais e garantindo que as regras sejam cumpridas de forma eficaz. A colaboração entre a SPA, o Banco Central e os operadores é crucial para a integridade do mercado.

Com a regulamentação do setor no Brasil, estamos avançando em direção a um mercado mais seguro e responsável. Com um controle rigoroso, como em mercados maduros como o Reino Unido, onde as regras ajudam a minimizar problemas com jogo compulsivo, acredito que o setor continuará a crescer de maneira saudável e segura.

Lygia Rodrigues: Podemos esperar que os bancos tradicionais se tornem mais abertos ao setor, ou as fintechs continuarão liderando as soluções de pagamento para iGaming?

Leonardo Baptista: As fintechs seguirão como protagonistas na inovação dos meios de pagamento para iGaming, mas acreditamos que, com o amadurecimento do mercado regulado, os bancos tradicionais também passarão a oferecer soluções adaptadas ao setor.

Vale lembrar do forte trabalho do Banco Central do Brasil com o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) um dos mais avançados do mundo em termos de tecnologia e quem, como nós, é participante direto do PIX, é obrigado a seguir a agenda regulatória do BACEN.

Sendo assim, sempre estaremos trazendo novidades impactantes para o mercado como a provável regulamentação das criptomoedas, o lançamento do DREX (Real Digital) e o PIX Automático / Recorrente. Esse último já em esteira de testes e “go live” planejado para o meio do ano.

Imagine, “BET por assinatura” e o seu impacto para o Jogo Responsável?