- Conferências
- Notícias
- Fundação SiGMA
- Treinamento & Consultoria
- Tour de Pôquer
- SiGMA Play
- Sobre
O painel do terceiro dia do Gaming Tech Summit reuniu representantes do setor para discutir as políticas fiscais atuais e futuras que afetam o setor de jogos e fintech no continente africano. Participaram reguladores, operadores e consultores, que analisaram como incertezas legais, falhas de comunicação e estruturas defasadas estão freando o desenvolvimento do setor — e o que pode ser feito para transformar a carga tributária de obstáculo a aliada do crescimento.
Os participantes iniciaram o debate destacando que, embora o interesse por jogos online e fintech esteja crescendo rapidamente na África, os regimes fiscais não têm acompanhado essa evolução. Sem regras claras e harmonizadas, investidores enfrentam instabilidade e operadores têm dificuldades em se manter em conformidade.
No caso da Tanzânia, os debatedores ressaltaram que “a incerteza quanto aos marcos legais em alguns países faz com que os regimes tributários funcionem como entraves”. As empresas não conseguem planejar estratégias de longo prazo quando as leis mudam sem aviso prévio ou quando diferentes órgãos disputam a mesma competência. A ausência de uma abordagem unificada também encarece e dificulta operações transfronteiriças.
Gana apresenta seu próprio conjunto de obstáculos. Todas as taxas relacionadas ao setor de jogos são recolhidas pela Autoridade Fiscal do país (Ghana Revenue Authority), mas a coordenação é falha. Segundo os participantes, “isso interfere em uma comunicação fluida, impedindo que o setor alcance melhores resultados.” Operadores relatam atrasos na aprovação de novas atividades e solicitações de dados desencontradas, o que atrasa lançamentos de produtos e compromete a confiança de investidores.
As decisões fiscais impactam diretamente a expansão do mercado. “Também já vimos a tributação afetar o crescimento do setor, especialmente com a introdução — e depois a retirada — do imposto de 10%”, comentou Gifty-Ritah Amoah, diretora assistente da Comissão de Jogos de Gana. A cobrança — pensada para aumentar a arrecadação — acabou levando alguns operadores a encerrar atividades ou reduzir serviços. A rápida revogação da medida mostra como tributos mal planejados podem sair pela culatra, prejudicando tanto os cofres públicos quanto o investimento privado.
Vários painelistas concordaram que os regimes fiscais africanos atuais carecem de incentivos para promover conformidade e expansão. “Os regimes tributários na África não oferecem incentivos que encorajem a conformidade”, afirmou Aaron Markowitz, CFO da Pawapay. Sem mecanismos como créditos, alíquotas reduzidas na fase inicial ou isenções atreladas a investimentos em infraestrutura ou capacitação local, os operadores veem pouco estímulo para formalizar ou expandir suas operações.
Consultores tributários pediram que os reguladores adotem uma visão mais global sobre o setor de jogos. “Jogos precisam ser vistos como um negócio, não como um vício social”, destacou Meshack Mutuku, consultor tributário. Ao reconhecer os jogos como um setor econômico legítimo — no mesmo nível de bancos, telecomunicações ou turismo — os formuladores de políticas podem desenvolver regulamentações mais refinadas, que promovam o jogo responsável, protejam os consumidores e incentivem a inovação.
O cenário de fintech na África já está à frente em vários aspectos. O uso de dinheiro móvel, testes com blockchain e soluções digitais de identidade superaram sistemas legados em diversos países. Os debatedores defenderam que autoridades fiscais devem aproveitar essas tecnologias para tornar a gestão tributária mais eficiente e fortalecer a conformidade.
Relatórios em tempo real, retenções automáticas e perfis de risco baseados em dados podem reduzir fraudes e diminuir os custos de auditoria. Ao integrar ferramentas de arrecadação aos meios de pagamento existentes, os reguladores podem simplificar os processos para os operadores e garantir que os tributos devidos sejam recolhidos com mais precisão. Isso, por sua vez, libera recursos para fiscalização e supervisão, criando um ciclo positivo de confiança e transparência.
O compartilhamento de ideias e a criação de grupos de trabalho colaborativos foram apontados como essenciais para posicionar a África como líder global em gaming fintech. Associações do setor, reguladores e empresas de tecnologia precisam co-criar padrões, compartilhar boas práticas e testar novos modelos regionalmente antes de implementá-los em larga escala.
“Políticas mais simples vão permitir que a África avance mais um passo. Isso vai facilitar a conformidade por parte dos operadores”, afirmou Peter Mshikilwa, presidente da Associação de Esportes Eletrônicos da Tanzânia. Essa simplificação pode vir na forma de definições tributárias unificadas, isenções claras para pequenos desenvolvedores ou cronogramas de conformidade em fases para novos entrantes. Ao cortar a burocracia, os governos podem aumentar a arrecadação e fomentar um ambiente competitivo que atraia investimentos locais e internacionais.
Segundo um dos participantes, um bom arcabouço legal é a base para que os governos tomem decisões embasadas. Com objetivos bem definidos — como metas de arrecadação, proteção ao consumidor e estímulo à inovação — os formuladores de políticas conseguem desenhar sistemas tributários que equilibram o interesse público com a vitalidade do setor. Fundamentos legais sólidos, apoiados por unidades de fiscalização dedicadas e mecanismos de escuta ativa com o setor, garantem que os tributos sejam justos, previsíveis e adaptáveis à medida que os mercados evoluem.
Os participantes concordaram que a colaboração entre países do Leste e do Oeste africano é o próximo passo. Alinhar códigos tributários, compartilhar soluções tecnológicas e criar órgãos regionais de supervisão pode transformar o setor de jogos do continente. Ao reposicionar as políticas fiscais como ativo estratégico, e não entrave, os países africanos têm o potencial de liderar o mundo em inovação responsável e de alto crescimento nos setores de jogos e fintech.