Regulações no Reino Unido podem silenciar as tradicionais casas de jogos britânicas

David Gravel
Escrito por David Gravel
Traduzido por Thawanny de Carvalho Rodrigues

Regulamentos sobre máquinas de jogo são a última coisa na cabeça de uma criança no agitado balneário de Blackpool. De frente para o Mar da Irlanda, onde a espuma bravia das ondas se choca contra o paredão e lambe os corrimões enferrujados, a cidade vibra: é o dia da inauguração das luzes de 1979. Kermit, o Sapo, e os Muppets vão apertar o botão em frente à famosa torre de Blackpool.

As crianças gritam nos carrinhos giratórios do Waltzer, enquanto a Pleasure Beach apresenta sua nova atração de ponta, The Revolution. Moedinhas tilintam e ecoam nas máquinas de “penny falls” da Coral Island. Os turistas lotam os fliperamas. O píer norte se ilumina com os shows de fim de verão. Cannon and Ball, The Krankies e The Grumbleweeds garantem as últimas risadas da temporada. As irmãs Nolan entoam Spirit, Body and Soul, enquanto as salas de bingo fervilham de vida, luzes e a emoção de mais uma vitória.

Avançamos para os dias atuais — e o que resta é um silêncio ensurdecedor.

Fliperamas antes lotados agora estão vazios. Máquinas acumulam poeira onde antes havia filas de crianças com moedas de dois centavos nas mãos. Ursinhos de pelúcia seguem pendurados em suas cápsulas plásticas, com sorrisos costurados e olhos vítreos, ainda esperando ser escolhidos, ainda esperando ser amados.

Mas isso não é um aceno nostálgico ao passado. É um alerta — porque essas máquinas estão prestes a se calar. E não por falta de interesse, mas por conta das novas regulamentações.

Como as novas regras podem mudar o rumo da indústria

Em janeiro de 2025, a Comissão de Jogos do Reino Unido (UKGC) abriu uma consulta pública sobre mudanças significativas nas regras que regem as máquinas de jogos em todo o país. A proposta prevê a unificação de doze padrões técnicos distintos em um único conjunto de regras. O objetivo é modernizar normas ultrapassadas e alinhar os equipamentos físicos aos padrões técnicos já aplicados a jogos online.

As alterações mais impactantes dizem respeito às máquinas da Categoria B, amplamente presentes em salões de jogos, pubs e casas de bingo. A proposta exige que todas as máquinas — independentemente da idade ou da compatibilidade com softwares modernos — adotem novas medidas de proteção ao jogador. Entre elas: controle de velocidade do jogo, temporizadores de sessão e mensagens permanentes na tela com alertas de jogo responsável.

O prazo original da consulta, que terminaria em 20 de maio, foi prorrogado até 3 de junho.

Bacta alerta para ameaça existencial às arcades

A Bacta, associação que representa o setor de entretenimento com apostas de baixo risco e parques de diversões físicos, emitiu um alerta contundente sobre os riscos financeiros e operacionais que as novas regras podem trazer aos operadores. Para Joseph Cullis, vice-presidente da Bacta, as mudanças representam uma “ameaça existencial ao setor”.

Segundo a entidade, as novas exigências obrigariam muitos operadores a descartar máquinas antigas que não podem ser atualizadas. E substituir essas máquinas não sai barato: uma unidade nova pode ultrapassar as £ 10 mil. Agora multiplique isso por dez ou mais. Para arcades pequenas e estabelecimentos independentes, esse impacto pode ser fatal. Não se trata de uma simples atualização — é como ter que trocar toda a frota porque as regras do exame veicular mudaram.

Cullis alerta que o aumento de custos pode levar a demissões em massa e prejudicar economias locais, especialmente em cidades costeiras e centros comerciais.

“As propostas podem levar muitos operadores à falência. São desleais com pequenos negócios e ignoram completamente o legado dessas máquinas, que servem às comunidades há décadas.”

A Bacta convocou seus associados para um webinar especial no dia 21 de maio, com o objetivo de coordenar uma resposta formal antes do encerramento da consulta.

Por que os pequenos operadores sofrerão mais

A UKGC reconheceu o peso financeiro das mudanças e estendeu o prazo de implementação de dezoito para vinte e quatro meses. Ainda assim, críticos afirmam que essa flexibilização é insuficiente.

Operadores maiores conseguem se adaptar. Têm escala, acesso facilitado a crédito e equipes especializadas para conduzir o processo de conformidade. Muitos já investiram em máquinas modernas que cumprem parte dos requisitos propostos.

Já os pequenos e médios operadores enfrentam o lado mais duro da reforma. Muitos trabalham com equipamentos antigos, difíceis ou impossíveis de atualizar, e operam com margens apertadas. O capital para substituição total simplesmente não existe. O custo de seguros é mais alto por unidade. E os processos de conformidade são mais complexos quando não se tem uma equipe dedicada. O resultado é uma mudança regulatória que, para eles, soa menos como proteção e mais como teste de sobrevivência.

Esse desequilíbrio levanta sérias dúvidas sobre o futuro dos fliperamas e casas de bingo frente à nova regulamentação que o governo britânico planeja implementar.

Comissão se diz aberta ao diálogo, mas oferece pouco alívio

A Comissão de Jogos afirma estar receptiva a contribuições. Tim Miller, diretor executivo de Pesquisa e Políticas da entidade, incentivou as empresas a fornecerem evidências que ajudem a mensurar os custos e benefícios das reformas. Ele declarou:

“Reconhecemos que mudanças regulatórias no design das máquinas podem gerar custos consideráveis. Estamos incentivando operadoras e demais interessados a compartilhar dados que nos ajudem a avaliar tanto o impacto regulatório quanto os custos de implementação.”

Entidades como a Bacta e a Associação de Bingo devem apresentar propostas técnicas alternativas e defender isenções para máquinas legadas. Há também pedidos por prazos ainda mais longos e opções de adequação mais flexíveis, ajustadas ao porte de cada empresa.

Muito mais do que máquinas

O movimento para modernizar as regras das máquinas de jogos no Reino Unido faz parte de uma agenda mais ampla de reformas. No centro dela, está o compromisso com ambientes de jogo mais seguros e com padrões mais consistentes. Mas uma regulamentação eficaz deve equilibrar inovação com proteção — não só aos jogadores, mas também aos negócios que mantêm o setor vivo.

No fim das contas, isso vai além de circuitos e telas piscando. É sobre empregos e espaços comunitários onde o jogo de baixo risco acontece de forma social e supervisionada. É sobre cidades que ainda dependem do turismo sazonal gerado por fliperamas que existem há gerações. Essas máquinas não são apenas luzes e botões — são parte do patrimônio cultural da classe trabalhadora. E como sempre, os grandes grupos vão resistir. Vão adaptar. Vão sobreviver — e crescer ainda mais.

Se essas máquinas se calarem, não será porque o público perdeu o interesse. Será porque, em meio ao barulho, ninguém ouviu o alarme.

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