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Três meses após a regulamentação do mercado de iGaming no Brasil, a indústria ainda está se ajustando. Para operadores e fornecedores, essa transição tem sido um equilíbrio entre desafios e oportunidades, com as novas regulamentações trazendo mais estrutura, mas também exigindo que as empresas reavaliem suas operações. Apesar dos obstáculos relacionados à conformidade e à tributação, o potencial do mercado brasileiro é inegável.
Em uma matéria exclusiva da SiGMA News dividida em duas partes, especialistas do setor — Tamas Kusztos, CCO da Playson; Ihor Zarechnyi, CCO da Evoplay; Maximiliano Ramos, Gerente de Parcerias para a América Latina da EEZE; e Manu Gambhir, CEO da Xpoint — compartilham suas perspectivas sobre os maiores desafios, novas oportunidades e o futuro do iGaming no Brasil. Com a SiGMA Américas prestes a começar na próxima semana em São Paulo, esta primeira parte destaca a visão desses especialistas sobre os desafios e oportunidades de operar no país.
Quais são os maiores desafios enfrentados pelas empresas no Brasil? Como os aspectos regulatórios, de licenciamento e tributação impactaram a forma como os fornecedores trabalham com os operadores?
Tamas Kusztos: Acompanhar o cenário regulatório em constante evolução no Brasil exige monitoramento contínuo e adaptação. Os operadores precisam cumprir exigências de licenciamento que abrangem o jogo responsável, práticas justas e obrigações fiscais para manter a conformidade. Eles dependem dos fornecedores para se manterem atualizados sobre qualquer mudança. Além disso, os fornecedores precisam observar as regras rigorosas de publicidade e as preferências dos jogadores brasileiros ao desenvolver seus conteúdos.
Outro grande desafio é a variação das regulamentações estaduais, que gera incerteza sobre a sustentabilidade a longo prazo. Restrições severas sobre promoções e bônus afetam as estratégias de aquisição de jogadores, e a proibição de cartões de crédito forçou os operadores a adotar métodos de pagamento alternativos, como o Pix. Esses fatores, somados à fragmentação do mercado, tornam o ambiente desafiador para quem deseja operar no Brasil.
Ihor Zarechnyi: A transição para um ambiente regulado no Brasil transformou a forma como operadores e fornecedores colaboram. Hoje, confiança e conformidade são essenciais em qualquer parceria comercial. Com a implementação das novas regras, ferramentas de geolocalização e soluções KYC (Conheça Seu Cliente – Know Your Customer) terão um papel fundamental na garantia da conformidade e na segurança das operações.
Além disso, soluções baseadas em inteligência artificial para personalização em tempo real devem diferenciar os líderes do mercado. No fim das contas, aqueles que conseguirem dominar a conformidade, otimizar os pagamentos e manter um alto nível de engajamento dos jogadores serão os responsáveis por impulsionar a evolução do iGaming no Brasil.
Maximiliano Ramos: O dia 1º de janeiro marcou o início de uma nova era para as apostas no Brasil. Com a regulamentação, esperamos um mercado mais organizado, com regras claras e supervisão eficiente. No entanto, o maior desafio até agora tem sido atender às exigências rigorosas de certificação local. O processo é complexo e as empresas precisam estar em total conformidade antes de poderem operar legalmente.
Do ponto de vista dos provedores, a regulamentação exige adequação total a novos requisitos, como medidas de jogo responsável, restrições de publicidade e obrigações de relatórios financeiros. Embora traga desafios, a regulamentação também fortalece o setor, tornando-o mais seguro e estruturado.
Manu Gambhir: Um ambiente regulatório bem definido traz benefícios para operadores, governos e para o público em geral, mas também impõe novas exigências. Estar em conformidade não se resume apenas a implementar novas tecnologias; é preciso criar novos cargos, reestruturar processos e garantir que o desenvolvimento de produtos esteja alinhado com as regulamentações.
Como o marco regulatório do Brasil ainda é recente, todos os envolvidos estão em fase de aprendizado. Muitos operadores ainda utilizam soluções de geolocalização que não atendem totalmente aos requisitos. À medida que amadurecem, eles estão recorrendo a soluções de nível empresarial, como a Xpoint, para garantir conformidade enquanto mantêm o foco no crescimento.
Além da conformidade, a geolocalização tem sido cada vez mais utilizada para prevenção de fraudes e marketing personalizado, e espera-se que seu papel seja ainda maior nas estratégias de segurança e engajamento.
Apesar dos desafios, a regulamentação também cria novas oportunidades. O que mudou para operadores e provedores agora que o mercado está estruturado?
Tamas Kusztos: O ambiente regulado tem incentivado mais brasileiros a se envolverem com jogos online, e jogadores que antes apostavam no mercado não regulamentado agora demonstram maior interesse em operadores licenciados.
Os operadores estão priorizando ferramentas de engajamento e conteúdos localizados, o que tem impulsionado a demanda por inovação em produtos. Esse fator abre espaço para a criação de conteúdos personalizados para o público brasileiro, atraindo novos segmentos de jogadores.
Além disso, o ecossistema único de pagamentos do Brasil, impulsionado pelo uso massivo do Pix, oferece aos operadores a oportunidade de criar experiências mais fluidas para os clientes. Como os cartões de crédito foram proibidos, os jogadores que enfrentavam dificuldades para depositar fundos agora contam com uma solução confiável, reduzindo a evasão desnecessária.
Ihor Zarechnyi: A regulamentação do mercado de iGaming no Brasil trouxe a clareza e a estabilidade necessárias para o setor. Como sempre digo, isso fortalece a confiança e a credibilidade tanto para operadores quanto para fornecedores. À medida que as regras ficam mais rígidas, os operadores precisarão ser ágeis e se adaptar rapidamente, o que pode levar a uma consolidação no mercado. Aqueles que focarem na conformidade e em uma estratégia sólida serão os que se destacarão.
Maximiliano Ramos: Um setor regulado simboliza confiança, transparência e segurança para todos os envolvidos, mas principalmente para os usuários. As empresas operarão em um ambiente mais transparente, os apostadores terão maior proteção e o governo terá diretrizes claras para fiscalização.
Haverá um período de adaptação enquanto as novas regras entram em vigor, mas acreditamos que esse processo será positivo e benéfico para todos os envolvidos.
Manu Gambhir: O cenário regulatório em evolução no Brasil criou oportunidades significativas para os operadores. Agora, eles operam dentro de um marco bem definido que legitima suas atividades e facilita a expansão em um dos mercados de iGaming que mais crescem no mundo.
Para provedores como nós, essa mudança abre espaço para o desenvolvimento de soluções avançadas de geolocalização e conformidade adaptadas às exigências locais. Isso não apenas garante um ambiente de apostas mais seguro e regulamentado, mas também permite que os operadores se diferenciem ao oferecer experiências de usuário aprimoradas e medidas robustas de prevenção a fraudes. No fim das contas, a evolução do mercado está preparando o terreno para parcerias inovadoras e o desenvolvimento de novos produtos que podem transformar a forma como os jogos online são oferecidos no Brasil.
Dentro do cenário de conformidade cada vez mais complexo do Brasil, operadores e fornecedores enfrentam tanto desafios quanto oportunidades em um mercado em expansão. A natureza dinâmica dessas mudanças impulsiona a inovação e pode marcar o início de uma nova era para o iGaming na América Latina. No entanto, a tributação continua sendo um ponto sensível, e impostos adicionais podem comprometer a competitividade de alguns operadores e provedores, como aconteceu em mercados como a Colômbia.
A trajetória do setor aponta cada vez mais para a colaboração, o uso estratégico da geolocalização, o marketing personalizado, soluções KYC e medidas de prevenção a fraudes. Esses elementos são fundamentais para atender às exigências regulatórias sem perder o foco na experiência do usuário e na competitividade do mercado.
Na segunda parte desta matéria, especialistas discutirão as principais inovações tecnológicas essenciais para o sucesso no Brasil a longo prazo. Além disso, analisarão as lições aprendidas em outros mercados regulamentados e como essas experiências podem ser aplicadas ao Brasil, além de explorarem as tendências que moldarão o cenário do iGaming no país nos próximos 12 a 18 meses.