Executivo da Skyesports defende criação de federação para a indústria de e-sports na Índia

Escrito por Sudhanshu Ranjan

A indústria global de jogos está passando por um crescimento sem precedentes, e a Índia se destaca como um dos mercados que mais crescem nesse setor. Durante o India Gaming Show (IGS) 2025, organizado pela Confederação da Indústria Indiana (CII), grandes líderes do setor se reuniram para discutir novas oportunidades, inovações e colaborações que moldam o futuro dos jogos eletrônicos.

A postura proativa do governo indiano no apoio aos esports tem impulsionado ainda mais sua expansão. Iniciativas como a inclusão dos esports nos Jogos Asiáticos, o reconhecimento dos esports como um esporte pelo Ministério da Juventude e Esportes e a recente decisão de oferecer incentivos financeiros a jogadores e treinadores medalhistas são sinais do crescente reconhecimento dos jogos competitivos no país.

Skyesports e o apoio ao talento emergente nos e-sports

A Skyesports, uma das principais organizadoras de torneios de esports da Índia, desempenha um papel fundamental na construção do cenário competitivo do país. Criada com o objetivo de desenvolver talentos nos níveis iniciais da modalidade, a empresa organiza torneios de grande escala e firma parcerias com governos estaduais para fortalecer a posição dos esports. Através de colaborações como o Troféu CM de Tamil Nadu e o futuro Skyesports Souvenir 2025 National Championship em Karnataka, a empresa tem promovido ativamente o reconhecimento e o desenvolvimento dos esports como uma disciplina esportiva legítima na Índia.

Em uma entrevista exclusiva à SiGMA News, Shiva Nandy, CEO e fundador da Skyesports, compartilhou sua visão sobre o mercado indiano de esports, destacando oportunidades e desafios, especialmente em termos de monetização e regulamentação. Ele enfatizou a necessidade de estabelecer uma federação nacional de esports e academias de treinamento especializadas, semelhantes à National Cricket Academy, para desenvolver talentos e fornecer o suporte institucional necessário.

Com o crescimento acelerado dos e-sports, a Índia caminha para se tornar uma potência global no cenário competitivo. Além disso, as discussões sobre políticas regulatórias uniformes e a diferenciação da tributação entre jogos de habilidade e jogos de azar indicam que o governo está otimista quanto aos benefícios econômicos do setor.

Da esquerda para a direita: Kartik Sabherwal (fundador e CEO da UpthrustEsports), Kanishka Singh (gerente geral do Times Group), Shiva Nandy (fundador e CEO da Skyesports) e Gautam Virk (cofundador da Nodwin Gaming).

SiGMA: O Skyesports Souvenir 2025 National Championship acontece de 27 de fevereiro a 1º de março, com o apoio do governo de Karnataka. Como as colaborações com governos estaduais ajudam a legitimar os esports e facilitam a realização de eventos?

Shiva Nandy, CEO e Fundador da Skyesports: Temos uma abordagem de desenvolvimento de baixo para cima. Para conseguirmos executar algo no âmbito do governo indiano, primeiro precisamos estabelecer parcerias nos estados. É por isso que estamos focando nos governos estaduais. Quando conseguimos estruturar um capítulo estadual, isso naturalmente leva a mudanças maiores no país.

Foi por essa razão que começamos em Tamil Nadu e firmamos parceria com o governo do estado. Realizamos diversos eventos lá, incluindo o Troféu CM de Tamil Nadu 2024, organizado pelo governo estadual por meio da Autoridade de Desenvolvimento Esportivo de Tamil Nadu. No ano passado, os esports foram incluídos como um evento de demonstração, e neste ano, já estão na categoria de evento com medalhas. Agora queremos expandir para outros estados. Atualmente, temos uma parceria com o governo de Karnataka, o que é um passo importante para levar os campeões nacionais ao estado.

SiGMA: Vocês planejam firmar parcerias com outros governos estaduais também?

Nandy: Sim. Como mencionei, começamos com Tamil Nadu, estamos trabalhando com Karnataka e já estamos em negociações com Kerala, Andhra Pradesh e Maharashtra. Estamos avançando pouco a pouco.

SiGMA:  Quais são os principais desafios para a monetização dos esports na Índia e como vocês estão lidando com eles?

Nandy: Não temos problemas com marcas endêmicas (aquelas que já fazem parte do ecossistema dos esports). O desafio surge quando se trata de marcas não endêmicas, como empresas de bens de consumo, automóveis e outras indústrias que não têm relação direta com os esports.

No entanto, à medida que os governos estaduais e federal começam a apoiar oficialmente os esports, mais marcas demonstram interesse. Atualmente, estamos fechando parcerias com algumas marcas de bens de consumo para nosso próximo evento, o Skyesports Championship. Há quatro ou cinco anos, era muito mais difícil atrair esse tipo de patrocínio, mas o cenário está mudando graças ao apoio do governo, das publishers e da mídia.

SiGMA: O Ministério da Juventude e Esportes da Índia decidiu incluir os vencedores de medalhas nos esports e seus treinadores no Programa de Incentivos Financeiros. Como essa iniciativa pode impactar o ecossistema de esports no país?

Nandy: O Esports World Cup tem tido um grande sucesso no sul da Índia. Além disso, o Comitê Olímpico anunciou a realização das Olimpíadas de Esports em 2027, em Riad. Com o mundo se preparando para os esports, a Índia também precisa se movimentar. O recente anúncio do governo é uma excelente notícia, pois incentiva jogadores de cidades menores (de nível 2, 3 e 4) a participarem. Esse tipo de apoio pode trazer novos talentos para competições nacionais e, eventualmente, internacionais. É um avanço significativo que beneficiará muitos jogadores em ascensão.

SiGMA: Atualmente, a política tributária do governo indiano aplica a mesma tributação para jogos de habilidade e jogos de azar. Você acredita que deveriam existir regras fiscais diferentes para cada categoria?

Nandy: Com certeza. Os esports são um jogo de habilidade e não deveriam ser equiparados aos jogos de azar. A tributação deveria ser diferenciada, pois estamos falando de uma categoria esportiva. Hoje, qualquer prêmio recebido por um jogador de esports sofre uma taxação de 31%. O setor precisa de uma regulamentação completa, e quando isso acontecer, todos os envolvidos poderão discutir e definir uma estrutura tributária adequada para cada modalidade.

SiGMA: O FATF, órgão global de combate à lavagem de dinheiro, convidou empresas de jogos online e representantes do Ministério das Finanças da Índia para discutir os riscos de financiamento ilícito no setor. Como você vê a criação de um marco regulatório único para os jogos online na Índia?

Nandy: Qualquer medida que não envolva proibição é positiva. Vamos aguardar para ver como o governo pretende regulamentar o setor. Se for uma regulamentação adequada, será benéfica para todos.

SiGMA: Qual sua opinião sobre a proibição dos jogos de azar? O governo de Tamil Nadu, por exemplo, proibiu alguns jogos populares dessa categoria.

Nandy: Essa é uma questão que varia de estado para estado e está relacionada à cultura local. Tamil Nadu, Karnataka e Delhi, por exemplo, têm culturas distintas, e mesmo sendo parte da Índia, cada estado e território da união tem suas próprias percepções. É por isso que, apesar das diretrizes do governo central, os estados mantêm certa autonomia para adaptar as regras de acordo com suas necessidades. Teremos que esperar para ver como as regulamentações serão implementadas.

SiGMA: O críquete é o esporte mais popular na Índia e conta com a National Cricket Academy (NCA), em Bangalore, para desenvolver talentos. Você acha que os esports precisam de uma academia semelhante?

Nandy: Sim, e alguns governos estaduais já começaram a criar centros de excelência para jogos e esports. Com a evolução do setor, essas iniciativas vão apoiar o desenvolvimento de novos jogadores.

SiGMA: Você acredita que a Índia precisa de uma federação nacional para os esports, reunindo todas as modalidades sob um único órgão?

Nandy: Sim, precisamos de uma federação unificada. Se surgirem problemas com publishers, com o governo ou qualquer outra questão, atualmente não temos um órgão central para recorrer. Uma federação composta por stakeholders do setor seria extremamente bem-vinda. Na minha opinião, essa estrutura é essencial para o crescimento dos esports na Índia.

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