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Os planos para flexibilizar as regras das máquinas caça-níqueis em centros de jogos para adultos (AGCs) no Reino Unido emperraram no meio do caminho. O adiamento da reforma da polêmica “regra 80/20” para 2025 frustrou os operadores e reacendeu o debate sobre os danos causados pelo jogo.
O Departamento de Cultura, Mídia e Esporte (DCMS) confirmou, em carta obtida pelo The Guardian, que não haverá mudanças este ano na regra que limita as máquinas de apostas altas nos AGCs. A decisão foi tomada após preocupações sobre a proteção de jogadores vulneráveis, especialmente depois de uma multa de grande repercussão aplicada à operadora Merkur.
A regulamentação 80/20 limita o número de máquinas de categoria B3 nos AGCs e bingos a apenas 20% do total disponível. Essas máquinas permitem apostas de até £2 e prêmios de até £500. Os outros 80% devem ser compostos por máquinas das categorias C ou D, com apostas e prêmios mais baixos — normalmente até £1 e £100.
Para os operadores, essa regra é mais do que uma simples burocracia — é um entrave comercial. Eles argumentam que muitas dessas máquinas com pouca demanda ocupam espaço à toa, desperdiçando energia, tempo da equipe e área valiosa de operação. O setor defende que uma divisão 50/50, ou até a liberação total da regra, refletiria melhor a demanda atual e os hábitos dos jogadores.
O recuo do governo vem após um ano de manchetes negativas envolvendo os AGCs. Em março, a Comissão de Apostas multou a Merkur em quase £100 mil após uma investigação do Guardian que revelou que funcionários da empresa teriam explorado um paciente com câncer em situação vulnerável. O caso causou indignação nacional e levantou dúvidas sobre a capacidade dos AGCs de proteger jogadores de alto risco.
A pressão logo virou pauta política. O ex-líder do Partido Conservador, Iain Duncan Smith, afirmou que o adiamento não vai longe o suficiente e pediu um bloqueio completo da expansão das máquinas de apostas altas. “A natureza viciante dessas máquinas e a falta de salvaguardas em muitos estabelecimentos são extremamente preocupantes”, declarou. “As constantes violações das regras precisam ser investigadas, não recompensadas com mais permissividade.”
A deputada trabalhista Beccy Cooper celebrou a pausa nas mudanças e defendeu regras mais rígidas, além de mais autonomia para os conselhos locais controlarem a proliferação dos AGCs “As comunidades locais merecem ter voz sobre quantos estabelecimentos de jogos precisam cruzar diariamente em seus bairros”, disse.
A associação do setor, British Amusement Catering Trade Association (BACTA), não escondeu sua decepção. O presidente John Bollom descreveu a revisão da regra 80/20 como uma “proposta essencial de modernização” e disse que seu adiamento prejudica os esforços de revitalização das ruas comerciais do país. “Estamos frustrados”, afirmou. “Esperamos que o ministro enxergue essa mudança pelo que ela realmente é — uma medida de bom senso, segura para os jogadores e benéfica para o comércio local.”
A BACTA também argumenta que os AGCs já seguem algumas das normas mais rígidas da Europa no que diz respeito à proteção de jogadores. Mas essa mensagem parece não ter convencido a opinião pública. Num cenário em que até o jogo online regulamentado é alvo de forte escrutínio, a empatia com os AGCs é cada vez menor.
Os donos de AGCs se veem como danos colaterais de uma disputa maior sobre a regulamentação das máquinas caça-níqueis. Muitos administram locais pequenos e independentes, que dependem do movimento constante de clientes. Eles dizem que as regras atuais impossibilitam acompanhar as preferências dos jogadores. Alguns chegam a comparar a situação a operar um negócio moderno com regras da década de 1980 — como se estivessem presos no modo de demonstração, enquanto o restante do setor joga com tudo.
Com os custos operacionais em alta e as margens de lucro apertadas, os AGCs afirmam que o adiamento ameaça sua sobrevivência. Uma divisão 50/50 permitiria mais flexibilidade e um uso mais eficiente do espaço. Em vez disso, tentam atrair jogadores com máquinas que quase ninguém quer usar.
O cenário regulatório do Reino Unido está cada vez mais rigoroso. O white paper sobre jogos publicado em 2023 foi mais duro com operadoras online do que com estabelecimentos físicos, mas esse tratamento diferenciado está perdendo força. Embora o DCMS não tenha descartado mudanças futuras, não há um cronograma claro para retomar as consultas sobre a reforma das máquinas caça-níqueis.
Em comparação global, o Reino Unido adota uma postura relativamente cautelosa. A Alemanha, por exemplo, impõe um limite de €1 por rodada em caça-níqueis virtuais.
A Austrália estabelece restrições severas de design, como rotação lenta e pausas obrigatórias. Já nos EUA, a regulação é descentralizada — cada estado define suas próprias regras. Em Nevada, os cassinos podem operar máquinas de apostas altas com pouca regulação nacional, enquanto outros estados impõem limites severos.
Apesar de ser vista como uma barreira pelos operadores, a regra 80/20 do Reino Unido ainda é considerada um modelo de equilíbrio internacionalmente.
Diante do impasse, os operadores estão buscando alternativas. Alguns estão investindo em novas tecnologias para melhorar a experiência do jogador sem violar a regra 80/20. Outros fazem pressão por reformas incrementais, como melhor distribuição das máquinas, design de jogos mais seguros ou ferramentas digitais de autoexclusão. Mesmo assim, o clima é de desânimo — como se estivessem presos no jogo-base, sem acesso ao bônus. As bobinas giram, mas nada acontece.
Se o governo quiser mostrar que leva a sério tanto a recuperação econômica quanto a proteção dos jogadores, vai precisar de mais do que pausas em políticas. O setor precisa de clareza — não apenas cautela.
Por enquanto, os rolos estão travados e o prêmio continua fora de alcance. Mas, no universo das caça-níqueis, uma coisa é certa: sempre há uma próxima rodada.