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A nomeação da Baronesa Minette Batters como presidente do Horse Welfare Board (HWB) levanta novas questões sobre o futuro do bem-estar equino nas corridas britânicas. Ela assume o cargo em 1º de julho de 2025, após liderar a National Farmers’ Union, onde defendeu a resiliência rural e promoveu a cooperação entre diferentes setores.
À medida que o atual período estratégico chega ao fim, a próxima fase será avaliada com base em resultados concretos — não em promessas. O setor vai transformar o discurso em reforma? Ou será apenas mais uma reestruturação que deixa os cuidados pós-carreira para trás, em ritmo inferior ao das conquistas em pista? Em um esporte cada vez mais ligado às apostas, integridade não se resume mais aos resultados. Também diz respeito ao cuidado contínuo. Com os direitos de transmissão e as apostas alimentando grande parte do crescimento das corridas, o bem-estar animal deixou de ser nota de rodapé e passou a ser um ativo de reputação.
Nos últimos anos, as corridas britânicas avançaram em dados de desempenho, perfis de atletas e alcance comercial. Mas essas inovações raramente acompanham os cavalos após cruzarem a linha de chegada. O setor continua em movimento, mas números de performance não cobrem lacunas nos cuidados. Apesar dos progressos, o suporte pós-carreira ainda depende, com frequência, de instituições de caridade com recursos limitados e verbas de curto prazo — um modelo frágil para uma indústria que movimenta bilhões.
A SiGMA News conversou com diversas organizações-chave para entender o que a chegada da Baronesa Batters pode representar para o compromisso histórico das corridas britânicas com o bem-estar ao longo da vida. Esta matéria explora como financiamento, liderança e transparência estão moldando o caminho à frente.
Em 2020, o HWB estabeleceu um plano com cinco prioridades para unificar o setor: responsabilidade, segurança, cuidado ao longo da vida, comunidade e transparência. Com o encerramento desse ciclo, o que importa agora são ações mensuráveis — não mais declarações de intenções. Os envolvidos exigem melhorias concretas no cuidado pós-carreira dos cavalos de corrida e uma relação mais clara entre financiamento e resultados.
Criado em 2019, o Horse Welfare Board surgiu em resposta à crescente pressão por uma supervisão coordenada do bem-estar equino. Lançado em fevereiro de 2020, o relatório A Life Well-Lived foi a primeira tentativa concreta do HWB de definir o conceito de bem-estar ao longo da vida — do treinamento à competição, e além. Barry Johnson, ex-membro do Conselho da BHA e cirurgião veterinário, foi o primeiro presidente do órgão.
Na prática, no entanto, a execução tem ficado atrás da visão. Apesar do reconhecimento dado às diretrizes, os dados públicos sobre o número de cavalos realmente beneficiados ainda são escassos. O plano atual do HWB cita a transparência de dados como pilar central, mas o progresso na rastreabilidade completa — especialmente em casos de realocação privada — ainda é limitado. O setor agora pede menos estratégias novas e mais comprovação visível de que as já existentes estão funcionando.
Segundo um porta-voz do Conselho de Impostos sobre Apostas em Corridas de Cavalos (Horserace Betting Levy Board – HBLB, na sigla em inglês), o órgão continuará a apoiar o HWB em sua nova fase.
“O HBLB apoia o HWB desde sua criação e continuará a fazê-lo em 2025/26. Esperamos receber propostas de financiamento para novos projetos nessa nova etapa. O HBLB tem sido um importante financiador do cuidado pós-carreira desde 2000, por meio do apoio ao Retraining of Racehorses.”
Esse apoio inclui subsídios significativos. No último exercício financeiro (abril de 2024 a março de 2025), o HBLB informou à SiGMA News os seguintes repasses:
Mas só o financiamento não resolve. De acordo com o Retraining of Racehorses (RoR), principal instituição de reabilitação pós-carreira do setor, previsibilidade é essencial. Em resposta à SiGMA News, a RoR celebrou a nomeação da Baronesa Batters, mas destacou a necessidade de investimentos plurianuais.
“Embora sejamos gratos pelo apoio recente, boa parte dele ainda é de curto prazo. Consideraríamos essencial o apoio do HWB para garantir investimentos de vários anos, tanto por meio de contribuições centrais da indústria quanto por subsídios externos — com base em um entendimento profundo do nosso modelo operacional.”
A RoR explicou que muitos dos subsídios recebidos são anuais ou limitados a iniciativas pontuais. Isso dificulta a ampliação dos programas de reabilitação, os investimentos em infraestrutura e a retenção de profissionais experientes. Financiamento plurianual permitiria desenvolver programas em fases, aprimorar a avaliação de impacto e fortalecer parcerias locais. Com novas regras de acessibilidade financeira em vigor, o setor precisa redefinir onde o bem-estar se encaixa.
The transition to the next Horse Welfare Board strategy also brings a fresh focus on data, traceability, and education. As part of its 2024–2026 strategy, RoR is introducing a new digital system to improve horse traceability after they leave racing. They said,
“Estamos trabalhando de forma estreita com a Autoridade Britânica de Corridas de Cavalos (British Horseracing Authority- BHA, na sigla em inglês) para aprimorar o fluxo de dados pós-carreira, incluindo um novo acordo que garante a transferência de informações para nós assim que um cavalo entra em um contrato de não-corrida. Isso aciona uma pesquisa enviada ao novo tutor para entender onde está o animal, quais são os planos futuros e, idealmente, incentivar o registro junto à RoR.”
O lançamento do sistema está previsto para junho de 2025. Mas a RoR destaca que os dados são apenas parte da equação.
“Dados por si só não bastam. Os tutores precisam entender por que é tão importante responder à pesquisa inicial e manter contato com a RoR. Isso não se trata de vigilância — é sobre construir a base de dados necessária para compreender de fato a dimensão da responsabilidade do setor com os cavalos.”
Rastreabilidade plena ainda é um desafio. Embora a BHA tenha introduzido contratos obrigatórios de não-corrida em 2021, ainda não existe um sistema centralizado para monitorar todo o ciclo de vida dos puros-sangues. A nova plataforma da RoR pretende preencher essa lacuna, mas ainda não há métricas públicas sobre taxas de adesão, resposta às pesquisas ou manutenção do vínculo tutor-cavalo. Sem esses indicadores, o progresso corre o risco de ser mais anecdótico do que mensurável.
Alguns tutores se afastam com o tempo, não por negligência, mas por costume. Somam-se a isso preocupações com privacidade e a ausência de mecanismos claros de acompanhamento — e o resultado é um sistema com costuras que nem sempre resistem. O sistema da RoR busca construir confiança, mas ainda depende da adesão voluntária, refletindo o delicado equilíbrio entre responsabilidade e privacidade no cuidado equino pós-carreira.
Na área de educação, o Jockey Club enviou uma resposta detalhada à SiGMA News, destacando seus investimentos em pessoas e políticas:
“Nossa estratégia de bem-estar equino é sobre não deixar pedra sobre pedra. Isso nos levou a implementar um projeto-piloto educacional com a Equi-Ed, que ajudou os profissionais dos estábulos a aprimorar seus conhecimentos sobre processos veterinários e cuidados de longo prazo. Em 2025, vamos financiar 100 vagas no Reino Unido para expandir essa iniciativa.”
O clube também reforçou seu posicionamento sobre o papel mais amplo do esporte:
“Assim como em todos os esportes de elite e atividades que envolvem cavalos, há um elemento de risco nas corridas. Mas a indústria tem uma responsabilidade moral clara com o bem-estar dos cavalos — uma responsabilidade que levamos muito a sério.”
Algumas vozes se calaram, no entanto. Entain e World Horse Welfare preferiram não comentar. A Racing Foundation e a BHA não responderam. Também tentamos contato com o gabinete da Baronesa Batters, sem retorno até o fechamento desta edição. Os pedidos enviados ao setor foram variados — mas as respostas, desiguais.
Para alguns, essa ausência de visibilidade é preocupante. A RoR abordou diretamente a necessidade de corresponsabilidade:
“Não somos ingênuos. Sabemos que nem todos querem se envolver com a RoR. Alguns acham que não precisam de apoio ou têm receio de serem ‘monitorados’. Mas essa é uma responsabilidade compartilhada — com o HWB — e precisamos explicar que isso não é vigilância. É prestação de contas.”
Esse silêncio não é apenas uma lacuna na cobertura — revela uma dificuldade mais profunda em tornar efetiva a responsabilidade coletiva pelo bem-estar nas corridas britânicas. A RoR reconhece que alguns “sentem que não precisam de ajuda ou não querem ser rastreados”. Pode ser orgulho. Pode ser privacidade. Mas há um padrão resistente aqui — costurado com desconfiança, reforçado por hábito e cercado pelo receio de que olhem demais. Sem abordar essas preocupações — com salvaguardas claras ou incentivos ao registro — o compromisso com a responsabilidade continuará falho.
O HBLB também ressaltou a importância da colaboração entre setores:
“Esperamos continuar sendo um parceiro de longo prazo nessa área, junto a outras contribuições permanentes de dentro do próprio esporte.”
A questão agora é: essa visão compartilhada poderá ser liderada pela Baronesa Batters? Seu histórico na agricultura e em ações de defesa sugere foco em sustentabilidade — mas resta saber se isso se traduzirá em governança sólida ou apenas em articulação de consensos.
Para que o bem-estar equino evolua no setor, não basta trocar a liderança. É preciso mudar a forma como responsabilidade é definida, medida e sustentada. Mudanças políticas e ameaças à arrecadação fiscal tornam os programas de apoio governamental cada vez mais vulneráveis.
A RoR resumiu bem:
“Sucesso significa saber onde cada cavalo está, do nascimento até a morte, e garantir apoio em todas as fases. Significa que os tutores tenham acesso à educação e aos recursos adequados assim que assumem um ex-cavalo de corrida. E que, quando algo der errado, haja um caminho claro para obter ajuda.”
O Jockey Club acrescentou: “Há um esforço contínuo para melhorar os dados e a rastreabilidade de todos os puros-sangues antes, durante e depois de suas carreiras nas pistas.”
O desafio da Baronesa Batters é transformar ambição em estrutura e criar um modelo de governança duradouro. Porque, no fim das contas, o cuidado pós-carreira não é responsabilidade apenas de instituições de caridade ou campanhas — é o verdadeiro teste dos valores do esporte e do seu futuro.
E fica a pergunta: será que as apostas podem sustentar um cuidado melhor? É fácil aplaudir a largada, comemorar a chegada e sacar o prêmio. Mas e o que vem depois do barulho? Se o setor de apostas quer se orgulhar das corridas — e não apenas lucrar com elas — o cuidado precisa ir além das pistas. Afinal, os cavalos não encerram o expediente quando as odds se estabilizam.