Líderes tribais denunciam “quebra de confiança” em debates sobre apostas esportivas

Escrito por Jillian Dingwall
Traduzido por : Thawanny de Carvalho Rodrigues

As associações de jogos tribais da Califórnia reagiram de forma contundente às alegações de que um acordo teria sido fechado com operadores comerciais sobre a legalização das apostas esportivas no estado. A controvérsia surgiu após uma reunião privada realizada no início da semana durante a Indian Gaming Tradeshow & Convention, em San Diego, onde líderes tribais e representantes da Sports Betting Alliance (SBA) discutiram possíveis estruturas para regulamentar as apostas esportivas na Califórnia.

Em um comunicado conjunto, a California Nations Indian Gaming Association (CNIGA) e a Tribal Alliance of Sovereign Indian Nations (TASIN) criticaram a atitude da SBA por ter convidado um jornalista a participar de uma mesa redonda que deveria ter sido confidencial. “Os líderes tribais se sentiram desrespeitados pelo fato de a Sports Betting Alliance ter incluído um repórter em uma discussão que deveria ter ocorrido de forma privada entre representantes tribais sobre esse tema delicado”, diz o comunicado. As entidades ressaltaram que esse tipo de quebra de confiança evidencia por que essas conversas devem ser conduzidas exclusivamente por governos tribais, e não por grupos financiados por operadores comerciais.

Embora CNIGA e TASIN tenham reconhecido que alguns pontos discutidos na reunião foram produtivos, ambas negaram categoricamente qualquer insinuação de que um consenso tenha sido alcançado entre as tribos e os operadores comerciais. “É importante deixar claro: estabelecer uma estrutura aceitável e um modelo de governança adequado levará tempo. Estamos lidando com uma questão complexa, que exige a conciliação entre legislações federais, estaduais e tribais — algo que precisa ser debatido com seriedade e resolvido com cautela.”

Lideranças tribais defendem cautela no avanço das apostas esportivas

A reunião contou com representantes da SBA, incluindo os seis integrantes do seu Conselho Consultivo Tribal, que representam grandes operadores de apostas como DraftKings, FanDuel, BetMGM e Fanatics. Durante o encontro, a SBA apresentou uma proposta que prevê a concessão de licenças para ao menos quatro operadores de apostas esportivas online, os quais garantiriam o repasse de uma receita mínima para uma entidade tribal controlada em conjunto pelas 109 tribos reconhecidas federalmente na Califórnia. Esses recursos seriam então distribuídos entre todas as tribos, com os operadores licenciados também destinando uma parte de suas receitas ao estado.

No entanto, ainda há dúvidas sobre se essa proposta exigiria a assinatura de acordos comerciais entre as tribos e os operadores ou a modificação dos atuais compacts de jogo firmados com o estado. O Conselho Consultivo Tribal da SBA descreveu a reunião como uma oportunidade para compartilhar percepções sobre as tendências atuais e os mercados ilegais, promovendo uma conversa aberta com os líderes tribais. “O objetivo era ouvir o que as tribos têm a dizer sobre esses possíveis formatos e começar a identificar os pontos de preocupação”, declarou o conselho. “Ainda há muito trabalho pela frente até que se chegue a um consenso, e sabemos que isso levará tempo.”

Jeff Grubbe, membro do Conselho Consultivo Tribal da SBA e ex-presidente da tribo Agua Caliente Band of Cahuilla Indians, descreveu o encontro como “uma oportunidade valiosa” para discussões construtivas, mas reconheceu que houve interpretações equivocadas que acabaram gerando informações incorretas divulgadas na mídia. “De forma direta: não haverá progresso… sem o apoio integral e o protagonismo das nações tribais”, ressaltou Grubbe.

Legalização das apostas esportivas ainda enfrenta um longo caminho

A tentativa de legalizar as apostas esportivas na Califórnia tem enfrentado diversos obstáculos. Em 2022, os eleitores rejeitaram duas propostas colocadas em votação: a Proposição 26, que buscava autorizar apostas esportivas presenciais em cassinos tribais e hipódromos, e a Proposição 27, que visava permitir apostas esportivas online por meio de parcerias entre tribos e operadores comerciais. Juntas, as campanhas envolvidas nessas iniciativas movimentaram cerca de US$ 450 milhões — um recorde.

Líderes tribais deixaram claro que qualquer tentativa futura de regulamentação precisará ser debatida com cautela e, acima de tudo, respeitar a soberania tribal. Jesus Tarango, presidente da Wilton Rancheria, próximo a Sacramento, destacou esse ponto nas discussões mais recentes: “Os jogos são um presente… Qualquer expansão será feita no nosso tempo.” Ele incentivou a continuidade do diálogo, mas observou que o processo tem sido lento: “Como ainda não conseguimos resolver isso?”

O mercado de cassinos tribais da Califórnia segue forte, gerando quase US$ 12 bilhões em receita bruta com 87 cassinos no ano fiscal de 2023. Diante disso, os líderes tribais mantêm firme a posição de proteger suas operações físicas enquanto avaliam com cautela as possibilidades de expansão para o ambiente online.

Olhando para o futuro, o presidente da CNIGA, James Siva, sugeriu que uma nova proposta para legalização das apostas esportivas só deve voltar às urnas em 2028. Por ora, o foco das tribos está em manter o controle sobre as discussões e garantir que qualquer eventual acordo respeite seus interesses — postura que tem sido amplamente apoiada nas reuniões mais recentes.

À medida que os debates seguem entre governos tribais e operadores comerciais, uma coisa é certa: qualquer avanço só acontecerá com base no diálogo transparente, na confiança mútua e no respeito à soberania das nações tribais.

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