Operadoras de apostas dos EUA reagem a novas regras federais que ameaçam atuação livre

Escrito por David Gravel
Traduzido por Thawanny de Carvalho Rodrigues

Empresas de apostas em todo os Estados Unidos estão apostando alto para barrar medidas de proteção ao consumidor que visam conter o vício. Uma nova investigação do The Guardian, baseada em dados da Campaign for Accountability, revela uma ofensiva coordenada por operadoras para enfraquecer regulamentações em diversos estados. Nos bastidores, lobistas têm atuado para suavizar regras relacionadas à publicidade, bônus, apostas ao vivo e uso de dados.

Desde que a Suprema Corte anulou, em 2018, a Lei de Proteção ao Esporte Profissional e Amador de 1992 (PASPA), as apostas esportivas legais cresceram vertiginosamente, transformando o setor em um mercado bilionário. No entanto, críticos alertam que muitas operadoras estão jogando com o perigo. Com os órgãos de fiscalização levantando bandeiras vermelhas sobre dependência e até suicídios, os legisladores enfrentam um impasse: controlar a indústria ou permitir que ela saia do controle.

Começa o jogo da regulamentação

O relatório do The Guardian, publicado em 15 de abril, traz vários exemplos de empresas de apostas pressionando reguladores para enfraquecer ou abandonar propostas de proteção ao consumidor.

No Arizona, a DraftKings contestou uma regra que estipulava que bônus anunciados como “grátis” não poderiam exigir depósito. A empresa argumentou que era “padrão do setor promover jogo gratuito atrelado ao depósito do jogador”. O Departamento de Jogos do Arizona concordou parcialmente. A versão final da regra exige apenas a divulgação clara dos termos e condições.

Na Virgínia, Caesars e DraftKings fizeram lobby contra uma proposta de 2021 que sugeria que as plataformas incluíssem recursos para incentivar pausas no jogo. A Caesars defendeu que isso fosse opcional. Já a DraftKings descartou totalmente a ideia, afirmando que os apostadores “não jogam jogos” e que tais exigências eram irrelevantes. O conselho de loteria do estado ficou ao lado das operadoras e retirou a obrigatoriedade.

No Maine, a WynnBet se opôs a uma proposta de 2023 que proibia anúncios de bônus na TV. A empresa alegou que as ofertas promocionais eram “frequentemente vinculadas a eventos esportivos” e fundamentais para o engajamento dos clientes. Mesmo com o apoio do Conselho Nacional sobre Jogo Problemático, os reguladores permitiram que essas promoções continuassem.

Em Nova York, a FanDuel combateu uma regra que responsabilizava as operadoras pelo conteúdo produzido por seus afiliados de marketing. A empresa também se opôs a uma proibição de publicidade próxima a campi universitários, chamando a medida de vaga. Apesar das objeções, os reguladores aprovaram ambas as regras.

Em Massachusetts, a Comissão de Jogos resistiu à pressão para permitir o uso de dados sensíveis dos consumidores em promoções, rejeitando os argumentos de que isso prejudicaria o marketing de rotina. Já em Vermont, os reguladores mantiveram os limites para bônus, mesmo com a oposição da FanDuel e da Caesars.

A narrativa é sempre favorável à casa

As operadoras costumam justificar sua resistência com argumentos econômicos. A DraftKings alertou que limites ao uso de dados em Massachusetts prejudicariam “atividades básicas de marketing que outros setores realizam livremente”.

A Sports Betting Alliance, que representa as principais operadoras, declarou que proibir apostas ao vivo em Minnesota reduziria a arrecadação do estado e fortaleceria o setor ilegal. “Metade de todas as apostas nos EUA são feitas ao vivo”, disseram. Recentemente, cassinos tribais em Minnesota e Michigan sofreram ataques de ransomware.

A Caesars se opôs às restrições propostas em Vermont, argumentando que limites a promoções “não costumam ser definidos por órgãos reguladores” em outras jurisdições. A FanDuel acrescentou que a medida forçaria as casas de apostas a oferecer produtos menos competitivos em relação aos estados vizinhos ou ao setor ilegal.

Em 2020, a Penn Entertainment fez lobby contra uma regra na Virgínia que proibia anúncios sugerindo que apostar mais aumenta suas chances de ganhar. A empresa pediu que o termo “sugerir” fosse substituído por “garantir”. O conselho recusou.

A FanDuel declarou ao The Guardian: “A FanDuel valoriza o convite dos reguladores e legisladores estaduais para que nossos representantes participem de debates importantes sobre apostas esportivas online. Como operadora licenciada e regulamentada, acreditamos ser fundamental apoiar o diálogo público e os esforços conjuntos para construir estruturas sustentáveis de longo prazo que priorizem a proteção do consumidor.”

A DraftKings também se manifestou: “Estruturas bem elaboradas e específicas para cada estado oferecem ferramentas e recursos de jogo responsável para ajudar os consumidores a jogar de forma informada e segura, além de gerar receita tributária essencial para os estados.”

As empresas de apostas não estão apenas fazendo lobby. Elas estão moldando leis de acordo com seus modelos de negócio, sempre sob o pretexto de viabilidade econômica. Por trás dos comunicados de imprensa polidos e das projeções financeiras, opera-se uma lógica fria: um sistema que teme qualquer restrição e se alimenta do risco. Um mundo em que proteger o consumidor soa suspeito, e a vulnerabilidade vira oportunidade. E ficamos com a pergunta: o verdadeiro risco está na aposta ou em quem é autorizado a perder?

Lei SAFE Bet embaralha o jogo

Embora a regulamentação do setor ainda esteja nas mãos dos estados, a proposta de lei SAFE Bet quer estabelecer padrões federais para apostas esportivas online. O projeto exigiria que todos os estados adotassem normas nacionais sob supervisão do Procurador-Geral dos EUA.

Entre os principais pontos estão:

  • Proibição de depósitos com cartão de crédito
  • Limite diário de cinco depósitos
  • Verificações obrigatórias de capacidade financeira para apostadores de alto gasto (acima de US$ 1.000 em 24h ou US$ 10.000 em um mês)
  • Restrições ao uso de inteligência artificial em microapostas e promoções personalizadas
  • Proibição de anúncios durante eventos ao vivo e entre 8h e 22h
  • Vetos a endossos de celebridades e apostas específicas em esportes universitários

A legislação criaria uniformidade entre os estados. As operadoras enfrentariam novos custos para se adequar, mas também poderiam ganhar credibilidade ao recuperar a confiança do público.

Perdas no curto prazo, equilíbrio no longo

A Lei SAFE Bet pode desacelerar o crescimento da indústria num primeiro momento. Operadoras devem perder clientes que gastam muito e ter menor retorno com promoções agressivas. Mas, para muitos defensores, isso não é perda — é um ajuste necessário e há muito aguardado.

Eliminar o uso de cartão de crédito é visto como uma proteção vital ao consumidor. Cartões permitem apostar com dinheiro emprestado, o que aumenta o risco de endividamento e vício. No Reino Unido, a proibição do uso de cartão em apostas em 2020 reduziu significativamente os danos relacionados, sem aumentar o uso de empréstimos rápidos ou apostas ilegais.

A longo prazo, a Lei SAFE Bet pode atrair novos operadores ao criar um ecossistema mais seguro e transparente. Regras uniformes podem simplificar a conformidade e aumentar a confiança dos jogadores.

O futuro das apostas nos EUA não está no volume. Está na viabilidade. Reguladores e operadoras têm o desafio de construir um mercado que proteja os consumidores sem sufocar a inovação.

Ponto de virada ou jogo marcado?

Os estados teriam um ano para se adequar à nova lei. Aqueles que não cumprirem poderão ver suas apostas esportivas legais suspensas, criando um cenário irregular com jurisdições não conformes.

Mais pessoas estão buscando ajuda. Mais histórias estão vindo à tona. Jogadores VIP sendo atraídos de volta por ofertas chamativas. A paciência do público? Está se esgotando. O Google Trends e linhas de apoio como a do Conselho Nacional sobre Jogo Problemático (NCPG) registraram aumento de acessos em 2023 e 2024 — um alerta que os reguladores não podem ignorar. Michelle Kuppersmith, diretora da Campaign for Accountability, afirmou: “Implementar proteções ao consumidor nas apostas esportivas online não é apenas questão de números. É uma questão de salvar vidas.”

Hoje, o vício em apostas é tratado como uma emergência de saúde pública por ativistas e profissionais da saúde. O mosaico regulatório atual permitiu a proliferação de práticas arriscadas, sobretudo as que têm como alvo jovens e usuários vulneráveis.

Enquanto os órgãos de fiscalização anunciam o fim de um jogo que, segundo eles, está manipulado em favor do lucro e não das pessoas, a grande questão é: por quanto tempo os legisladores ainda podem se omitir?

O boom das apostas nos EUA já revelou as cartas da indústria. Agora, elas estão sobre a mesa — e alguém precisa desafiar o blefe.

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