Um em cada quatro jovens em Buenos Aires já aposta em jogos online
O estudo que foi recentemente divulgado pela Defensoria do Povo da Cidade de Buenos Aires, intitulado “Adolescentes e apostas online. Diagnóstico de um fenômeno que transcende o ambiente digital”, revelou um cenário alarmante sobre o envolvimento dos jovens argentinos com apostas online. De acordo com a pesquisa, 24% dos estudantes do ensino médio da capital já participaram de alguma forma de apostas digitais, revelando uma tendência crescente que levanta debates sobre regulamentação, influência social e o papel das famílias e do governo na mitigação dos riscos associados a essa prática.
Esse fenômeno desperta uma série de preocupações, como destacou a Defensora do Povo, María Rosa Muiño. Ela atribui o problema à falta de controle do Estado e questiona a postura do governo em relação à responsabilidade social, criticando a permissividade de certas políticas que, segundo ela, incentivam uma “adultização” precoce dos adolescentes. Muiño ainda sugere que o governo poderia ter realizado uma pesquisa mais abrangente para embasar decisões de políticas públicas mais efetivas, mas enfatiza que a Defensoria assumiu esse papel para levantar dados reais sobre a questão.
Para conter a expansão das apostas entre os jovens, o governo local, sob a liderança de Jorge Macri, já tomou medidas significativas. Dentre elas, está a regulamentação do uso de celulares em escolas, a notificação de influenciadores que promovem plataformas de apostas ilegais e a suspensão do registro de novas licenças para operadores de jogos. As novas medidas inclui, ainda, campanhas voltadas às famílias para conscientizá-las sobre os riscos das apostas online e para fortalecer o monitoramento no ambiente doméstico.
O levantamento entrevistou 2.765 estudantes de 25 escolas públicas e privadas, com idade entre 12 e 19 anos, entre julho e setembro de 2024. O relatório revelou que 71% dos jovens que apostam são meninos, enquanto as meninas representam 25% desse grupo. Outro dado preocupante é que 47% das apostas ocorrem no ambiente doméstico, o que sinaliza a necessidade de um olhar mais atento das famílias sobre o que os jovens consomem e acessam em suas residências.
A pesquisa também aponta que, conforme os estudantes vão ficando mais velhos, há um aumento no envolvimento com apostas online. Assim, enquanto apenas 13% dos alunos do primeiro ano apostam, esse número cresce para 30% entre os estudantes do quinto ano, uma alta significativa que sugere uma familiaridade progressiva com essas plataformas ao longo do tempo. Embora 39% dos jovens não saibam distinguir se apostam em plataformas legais ou não, entre os que sabem, 60% utilizam sites ilegais, apesar das restrições locais para menores de 18 anos.
Entre os motivos principais para as apostas, 67% dos participantes mencionaram o desejo de “ganhar dinheiro”, indicando que a promessa de um retorno financeiro rápido e fácil é um dos principais atrativos. Além disso, 25% dos estudantes disseram que apostam principalmente por entretenimento. Esse comportamento parece ter relação direta com a autonomia econômica que a prática pode proporcionar, especialmente em uma fase em que os jovens começam a buscar mais independência financeira.
Este estudo expõe um cenário desafiador: enquanto a prática de apostas online entre adolescentes é um problema crescente, a falta de regulamentação eficaz e de políticas preventivas adequadas parece abrir espaço para que essa realidade se intensifique. A conscientização das famílias, a educação nas escolas e a regulação estatal são aspectos fundamentais para abordar as raízes do problema e criar uma rede de proteção para os jovens.