Acionistas da Playtech se rebelam contra esquema de bônus de milhões para executivos
Uma tempestade está se formando dentro da Playtech, uma das maiores provedoras de software para jogos de azar do mundo, à medida que os acionistas reagem fortemente a um esquema de bônus proposto de € 100 milhões para executivos seniores. O plano, que beneficia principalmente o CEO Mor Weizer, surge após a recente venda de € 2,3 bilhões da divisão italiana de apostas esportivas da Playtech, a Snaitech, para a Flutter, proprietária da Paddy Power.
A Playtech anunciou a venda como uma estratégia para focar em seu negócio principal, mas o fundo de bônus vinculado ao negócio atraiu duras críticas. A proposta prevê bônus substanciais para a alta gestão, com Weizer sendo o maior beneficiário, embora o valor exato não tenha sido revelado. Além disso, a gestão da Playtech poderá receber até 10% dos lucros de futuras vendas de ativos, o que intensificou as preocupações dos acionistas.
Reação dos acionistas
Alguns investidores rapidamente manifestaram seu descontentamento. Jeremy Raper, um acionista de destaque da Playtech, chegou a publicar uma carta aberta ao comitê de remuneração da empresa, descrevendo o esquema de bônus como “o caso mais flagrante de expropriação de valor dos acionistas na história do mercado público do Reino Unido”. Raper argumenta que a ausência de metas de desempenho vinculadas ao fundo de bônus permite que os executivos sejam recompensados sem responsabilidade, levantando preocupações sobre governança corporativa. Sua frustração é compartilhada por Peter Smith, da Palm Harbour Capital, que criticou o bônus como excessivo e desnecessário, dado que a Playtech já possui uma estrutura robusta de remuneração que inclui retornos aos acionistas.
Outros investidores questionaram a lógica de um pagamento tão grande, considerando que, embora as ações da Playtech tenham subido 80% nos últimos 12 meses, elas tiveram um desempenho abaixo do esperado nos últimos anos. Eles argumentam que tal esquema pode incentivar os executivos a vender ativos rapidamente, mesmo em detrimento do valor de longo prazo da empresa, visando garantir ganhos pessoais.
Remuneração de CEOs na mira: uma tendência crescente no setor de jogos
Nos últimos cinco anos, acionistas de várias empresas públicas do setor de jogos têm manifestado crescentes preocupações sobre a remuneração excessiva de CEOs, especialmente quando essa remuneração parece desconectada do desempenho da empresa ou de padrões éticos. Em 2018, a Wynn Resorts enfrentou críticas após Steve Wynn se demitir em meio a acusações de má conduta sexual, com investidores criticando o generoso pacote de rescisão que ele recebeu. Dois anos depois, a Crown Resorts viveu uma situação semelhante, com os acionistas expressando insatisfação com o alto salário de Ken Barton, enquanto a empresa enfrentava escrutínio regulatório e dificuldades financeiras.
Em abril de 2021, acionistas da Las Vegas Sands levantaram preocupações sobre a considerável remuneração de Sheldon Adelson durante a pandemia de COVID-19, que impactou significativamente as receitas da empresa. A tendência continuou em 2022, quando os acionistas da Entain criticaram os bônus executivos da CEO Jette Nygaard-Andersen, destacando a desconexão entre remuneração e os retornos aos acionistas.
Mais recentemente, em maio de 2023, a Flutter Entertainment enfrentou uma análise semelhante, com os acionistas questionando a estrutura de bônus do CEO Peter Jackson, alegando que ela não estava alinhada com o desempenho da empresa. Esses casos ressaltam um movimento mais amplo entre os investidores, que exigem maior transparência e alinhamento entre a remuneração executiva e os resultados corporativos.
Críticas a Weizer
A liderança da Playtech, no entanto, defende o plano proposto. Em uma teleconferência de resultados, Weizer o caracterizou como um “plano de incentivo” projetado para alinhar os interesses da gestão com os dos acionistas, promovendo o crescimento da empresa. A Playtech destacou que um grupo de acionistas, representando 34,4% das ações da empresa, já se comprometeu a votar a favor do plano, e a empresa continua engajando-se com outros investidores nos bastidores. A votação sobre a proposta está prevista para o final de novembro.
Venda da Snaitech
A venda da Snaitech representa um marco importante para a Playtech, que adquiriu o negócio italiano por € 846 milhões em 2018. A oferta de € 2,3 bilhões da Flutter representa um prêmio de 16,5% sobre o preço das ações da Playtech antes do anúncio. Como parte do acordo, a Playtech devolverá entre € 1,7 bilhões e € 1,8 bilhões aos acionistas como um dividendo especial, movimento inicialmente bem recebido pelo mercado. No entanto, as ações da Playtech caíram mais de 5% após o anúncio da venda, uma reação que alguns analistas atribuíram à proposta de bônus controversa, que ofuscou os aspectos positivos da venda.
Governança corporativa em foco
Essa situação não é isolada à Playtech. Diversas outras empresas de jogos e apostas enfrentaram revoltas de acionistas em relação à remuneração de seus executivos nos últimos anos. Por exemplo, a Entain, outro grande nome no setor de apostas on-line, enfrentou oposição quando os acionistas rejeitaram um plano de remuneração que incluía grandes bônus para a equipe executiva, apesar do desempenho insatisfatório da empresa na época. Incidentes como esses têm provocado discussões mais amplas sobre as práticas de governança no setor de jogos, onde a remuneração dos executivos muitas vezes parece desalinhada com os retornos dos acionistas.
História de um player importante em tecnologia de jogos
Fundada em 1999, a Playtech se tornou uma das principais provedoras de software para operadores de jogos de azar em todo o mundo, oferecendo uma variedade de produtos, desde jogos de cassino on-line até plataformas de apostas esportivas. A empresa abriu capital em 2006 e esteve envolvida em várias fusões e aquisições de destaque, sendo a mais notável a compra da Snaitech em 2018. Ao longo dos anos, a Playtech enfrentou diversos desafios, incluindo escrutínio regulatório e competição de mercado, mas continua sendo um protagonista importante no cenário da tecnologia de jogos.
Apesar de sua presença de mercado, a Playtech tem lutado para manter retornos consistentes aos acionistas nos últimos anos, e as ações da empresa ficaram atrás do índice FTSE 250 desde 2018. Isso alimentou as críticas ao esquema de bônus proposto, com muitos argumentando que a gestão deveria focar em melhorar o desempenho de longo prazo da empresa, em vez de buscar recompensas de curto prazo.
Quais os próximos passos?
O esquema de bônus proposto na Playtech destaca as tensões contínuas entre a remuneração dos executivos e os interesses dos acionistas na indústria de jogos. Com uma votação dos acionistas se aproximando, o desfecho dessa saga pode ter implicações mais amplas para a governança corporativa no setor. A questão central permanece: a liderança da Playtech conseguirá convencer os acionistas de que essa estrutura de bônus é necessária para o crescimento da empresa, ou a reação dos investidores forçará uma reavaliação da estratégia?
O caso também destaca os desafios mais amplos enfrentados pelas empresas de jogos de azar, à medida que enfrentam crescente escrutínio sobre remuneração executiva, governança e responsabilidade.
Espere novos desdobramentos enquanto os acionistas se preparam para votar nas próximas semanas, o que determinará o futuro da Playtech e de sua equipe de gestão.
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